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Debates seguem como ferramenta para escolha eleitoral, mas com cada vez menos impacto

Rodolfo Marques

Os debates eleitorais nas eleições municipais de 2024, aqui no Brasil, guardam importância na formação da opinião pública e na promoção da transparência
democrática. Em tese, no contexto de grande desconfiança do eleitorado em relação aos políticos e às agremiações partidárias, os debates poderiam oferecer uma oportunidade para que os candidatos apresentem propostas de forma clara e objetiva.

Assim, debates para as prefeituras servem para o enfrentamento de ideias e para a exposição de visões diferentes sobre questões locais que afetam diretamente a vida dos cidadãos, como mobilidade urbana, saneamento básico, saúde e educação. Os debates também permitem que os cidadãos façam comparações diretas entre as candidaturas. Esse ambiente de embate de ideias é essencial, pois pode ajudar os eleitores indecisos a fazerem suas escolhas.

A maneira pela qual os candidatos se posicionam, reforçam suas ideias e reagem a questionamentos adversos pode influenciar, mesmo que de maneira
residual, a percepção do eleitor quanto à capacidade de liderança e à coerência de cada um. Dessa forma, debates podem ser decisivos para aqueles que buscam um candidato que represente seus interesses e valores – ou mesmo entre eleitores indecisos.

Os debates eleitorais podem atuar como um importante viés de confirmação, uma vez que tendem a reforçar as crenças pré-existentes dos eleitores em vez de desafiá-las. Durante essas discussões, os candidatos frequentemente enfatizam argumentos que ressoam com seus respectivos públicos, enquanto as respostas e a retórica escolhidas podem levar os eleitores a focar apenas nas informações que sustentam suas opiniões iniciais.

Ao mesmo tempo, emerge a possibilidade de engajamento da população no processo político. Ao ver/ouvir os debates, os eleitores são incentivados a discutir temas relevantes com amigos e familiares, promovendo um ambiente de diálogo e reflexão. A forma como os candidatos lidam com críticas e questionamentos pode revelar muito sobre a cultura política local.

Em algumas das capitais brasileiras, houve peculiaridades em relação ao tratamento dos debates eleitorais. Em São Paulo-SP, houve um excesso de debates – mais de dez – e muitos deles pautados pelos excessos, pelos ataques pessoais e pela violência política fomentados pelo candidato do PRTB, Pablo Marçal. Poucas ideias entraram em discussão efetiva.

No Rio de Janeiro-RJ, Eduardo Paes (PSD-RJ) é favorito à reeleição – e foi alvo de seus adversários nos debates, principalmente de Alexandre Ramagem (PL), candidato que busca “forçar” a realização do segundo turno. Em Belo Horizonte-MG, o debate da TV Globo teve sete participantes, na eleição que parece a mais “embolada”, com quatro candidatos com chances de avançar ao segundo turno (Bruno Engler, do PL; Fuad Noman, do PSD; Gabriel, do MDB; e Mauro Tramonte, do Republicanos). Noman, o atual prefeito, acabou sendo o alvo das principais investidas dos outros candidatos.

Em duas capitais nordestinas, o cenário foi mais diverso. No Recife-PE, o atual prefeito e virtualmente reeleito em primeiro turno, João Campos (PSB), chegou a participar de debates e foi alvo de ataques dos adversários. Todavia, a repercussão deve ser mínima na escolha do eleitor da capital pernambucana. Em Maceió-AL, o prefeito JHC (PL), que também deve se reeleger em primeiro turno, optou pela não participação dos debates, evitando, assim, confrontos verbais mais diretos.

E em Belém-PA, sede da COP-30, em 2025? Houve apenas um único debate eleitoral com a presença dos principais candidatos, realizado na noite de quinta-feira, dia 03 de outubro, pela TV Liberal (afiliada Globo). As seis candidaturas mais bem colocadas nas pesquisas eleitorais participaram do evento. Embora os grandes temas tenham aparecido, de forma transversal, os eleitores e as eleitoras pouco puderam aproveitar no sentido de conhecer os projetos das candidaturas em tela.

Destarte, os debates eleitorais continuam como uma variável presente nos pleitos eleitorais. E as eleições municipais de 2024 representam, pois, uma
oportunidade não apenas para escolher representantes, mas também para reafirmar o compromisso da sociedade com a democracia e o debate de ideias – mesmo que este esteja cada vez menos qualificado e relevante.

Rodolfo Marques