RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Com Bolsonaro inelegível, para onde caminharão os votos bolsonaristas?

Rodolfo Marques

Com a confirmação da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), por oito anos, nesta sexta-feira (30.06.2023), pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a primeira das várias punições a serem impostas a ex-presidente, muito se discute a respeito de dois pontos fundamentais derivados, ainda, das eleições presidenciais de 2022: quem herdará o espólio bolsonarista e se, estrategicamente, para alguns, haverá um movimento de “desbolsonarização”?

Em todas as suas manifestações públicas referentes ao julgamento de sua inelegibilidade, Bolsonaro manteve a sua postura comum aos seus últimos 30 anos de atividade política: negação da realidade, terceirização de responsabilidades e ataques às instituições. Mas, para além dessas ações, o que é mais evidente é que Bolsonaro permanece com o foco em si mesmo – em suas ações, em suas decisões e em seu futuro político. 

Como a direita ideológica e partidária se organizará a partir de agora? Por óbvio, é preciso considerar que há o núcleo familiar do próprio Bolsonaro: os três filhos que já ocupam cargos públicos – o senador pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (PL); o deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro (PL); e o vereador pela cidade do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos). E há indícios para o ingresso na política da atual esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro, que vem ganhando aparições públicas desde a campanha de 2022 e lidera o PL Mulher do Distrito Federal. Nas semanas que antecederam o julgamento, Bolsonaro desconversou sobre os planos políticos de Michelle e não quis indicar nenhum possível “sucessor” entre as parcelas mais conservadoras do eleitorado.

Ainda sobre a herança política dos votos bolsonaristas, há uma “briga de foice” por tamanho capital eleitoral. Três governadores de estado pretendem se consolidar junto aos cidadãos e cidadãs mais alinhados à direita: o do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). 

O carioca Tarcísio vem ganhando bastante espaço político e conta com a simpatia de parte da mídia do principal colégio eleitoral do país. Foi ministro de Bolsonaro e deve sua ascensão política a ele. Ele tem declarado que pretende se consolidar em São Paulo, concorrendo à reeleição em 2026. Todavia, é importante considerar o dinamismo da política e do realinhamento das forças partidárias. 

Os governadores Zema e Leite caminham por vieses um pouco diferentes. Zema está em seu segundo mandato e tem apoio de boa parte do segundo maior colégio eleitoral brasileiro. É pouco conhecido nacionalmente e tem “patinado” em algumas manifestações aos veículos de comunicação. No caso do governador gaúcho, ele “flertou” com a candidatura presidencial em 2022, mas não obteve apoio dentro de seu próprio partido. Domou sua ambição eleitoral e conseguiu vencer o pleito e retornar ao Palácio Piratini. Mantém uma postura ambígua, para evitar perder os eleitores bolsonaristas, apesar de ter sido alvo de várias declarações desrespeitosa por parte do próprio Jair Bolsonaro, nos últimos anos. 

O outro ponto é a questão da estratégia política, com alguns questionamentos: estar ou não estar ao lado de Bolsonaro? Bolsonaro continuará sendo um importante cabo eleitoral, mesmo fora das urnas nos pleitos de 2024, 2026 e 2018? As fórmulas devem ser repetidas ou modificadas? 

É muito difícil apontar caminhos definitivos, mas parte dos deputados e senadores eleitos em 2022 cresceram na esteira de Bolsonaro – como a ex-ministra e senadora Damares Alves (Republicanos-DF), o ex-vereador e deputado federal Nikolas Ferreira (PL-DF) e o ex-vice-presidente e senador pelo Rio Grande do Sul, Hamilton Mourão (Republicanos). O próprio PL fez a maior bancada na Câmara dos Deputados a partir da influência bolsonarista.

Enquanto cabo eleitoral, a situação tende a ser muito pontual, principalmente em 2024. Bolsonaro não tem o histórico de se imiscuir muito em campanhas municipais – e tende a estar mais preocupado com a situação dos seus direitos políticos e com os vários processos que ainda estará enfrentando. 

Sobre as fórmulas discursivas, como as bravatas, a incitação à violência, o politicamente incorreto e o discurso da “nova política” e dos traços conservadores, a conjuntura deverá indicar os caminhos. O fato é que há políticos que veem a possibilidade de se afastar da extrema-direita e desse formato fomentado pelo bolsonarismo para tentar construir “pontes” com outros tipos de eleitor. Nesse caso, há o movimento de “desbolsonarizar” o debate público e as campanhas eleitorais. 

Assim, os quatro anos desastrosos da gestão Bolsonaro, em todos os níveis (mau enfrentamento da pandemia, economia instável, enfraquecimento dos direitos de vários grupos sociais, agressões às instituições etc.), entre 2019 e 2022, emergem dois pontos: ainda há uma força importante, em termos de votos, naquilo que Bolsonaro representa; e os grupos heterogêneos que sustentaram o bolsonarismo passam por uma certa crise de identidade, buscando novas lideranças – sob o risco de nova pulverização dentro da própria direita ideológica.

Os próximos passos de Bolsonaro e as eleições de 2024 trarão algumas dessas respostas para todos nós. 

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Rodolfo Marques
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