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Bolsonaro 'calibra' seu discurso para manter apoiadores, em meio à expansão da pandemia da covid-19

Rodolfo Marques

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), continua ajustando a sua estratégia de comunicação política de acordo com suas perspectivas e em uma busca de adequação aos números cada vez mais preocupantes da pandemia Covid-19, no Brasil. Ele investe em uma comunicação junto aos mais pobres, tentando gerar empatia, mesclando falas mais polidas em rede de TV e rádio com um cenário cada vez mais acirrado de confrontos políticos, nas redes sociais e nos bastidores. Assim, o presidente consolida uma comunicação mais próxima com os seus grupos de apoiadores – os chamados “convertidos”. Bolsonaro também visualiza seu futuro político, buscando manter o seu mandato e de olho no seu principal objetivo, quase uma “obsessão”: sua reeleição para a presidência, em 2022.

Em um plano, Bolsonaro continua o processo de “fritura” do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), desautorizando as principais ações da pasta, principalmente àquelas que tratam do isolamento da população para evitar a ampliação dos casos de contaminação, já que o novo Coronavírus se prolifera velozmente. Mandetta, em entrevista coletiva, chegou até a evocar a conhecida história do “mito da caverna”, deixando claro que vai priorizar a ciência diante de “achismos” e/ou das ações sem o devido suporte comprobatório. Há um movimento do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), apoiando a saída de Mandetta do cargo. No âmbito do pacto federativo, Bolsonaro continua mantendo conflitos com vários governadores, como os de São Paulo (João Dória Jr./PSDB), do Rio de Janeiro (Wilson Witzel/PSC), do Pará (Helder Barbalho/MDB), do Maranhão (Flávio Dino/PCdoB) e do Ceará (Camilo Santana/PT). A maior parte dos governadores vêm ampliando a política de restrições de circulação e fomentando o distanciamento social, como formas de enfrentar a Covid-19, procedimentos dos quais Bolsonaro discorda.

Em outro plano, o presidente da República tenta se fortalecer junto a 1/3 do eleitorado, que continua hipotecando apoio a ele. Passando por um processo de isolamento político por uma série de desgastes que acumulou nos últimos 15 meses, Bolsonaro vem sendo “tutelado” pelo núcleo militar mais próximo de seu governo, em especial pelos ministros da Casa Civil (general Braga Neto) e da Secretaria do governo (general Batista Ramos), que vêm sugerindo uma comunicação mais assertiva do presidente.

Os filhos “01”, “02” e “03” de Bolsonaro continuam causando confusões em todos os níveis – e isso também causa danos gerais à imagem e à gestão do presidente, tanto na “bandeira” anticorrupção quanto nas relações internacionais, principalmente no intercâmbio com a China.

Bolsonaro, também em sua estratégia de comunicação política, parece cada vez mais envolvido com o apoio ao uso da cloroquina como medicamento para enfrentar os casos mais graves da Covid-19, embora as experiências médicas realizadas até o momento não tenham sido conclusivas.

Desde o registro do primeiro caso da doença no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, logo após o período de Carnaval, Bolsonaro já fez cinco pronunciamentos, sempre oscilando em suas abordagens – ora mais agressivo e, por vezes, com um discurso mais conciliador. O Brasil continua mobilizado para buscar alternativas para conter o avanço da doença, e ver, junto às autoridades públicas, principalmente as do governo federal, mecanismos para enfrentar a crise econômica, uma realidade no país.

A gestão pública deve propor ações efetivas, nos campos da saúde pública e da economia. Nessa sexta-feira (10.04.2020), o país chegou à “marca” de 1.057 mortes pela Covid-19 e a quase 20 mil pessoas contaminadas, com o pico da doença sendo previsto para a segunda quinzena de abril e para o mês de maio. O Brasil tem cada vez mais pressa.

Rodolfo Marques