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Um diálogo atemporal entre grandes filósofos sobre a ética (parte IV)

Ocelio de Jesús Morais

No quarto encontro sobre reflexões filosóficas “Um diálogo entre grandes filósofos sobre a ética”, participam os filósofos Platão, Epicteto e Marco Aurélio (os grandes filósofos). A convite de Epicteto, o Aprendiz do Tempo (este escriba) entrou no bate-papo, sendo-lhe, ainda, dada a oportunidade de dialogar com Marco Aurélio.

O que poderiam dizer um ao outro, esses grandes filósofos? E qual seria a pergunta desafiadora de Epicteto ao Aprendiz do Tempo? E qual seria o questionamento deste ao filósofo Marco Aurélio? E qual poderia ser o pedido ou conselho final do filósofo romano ao Aprendiz do Tempo? Vamos juntos, caro leitor, atrás das respostas. O diálogo imaginário atemporal começa entre o racionalista, materialista e idealista   Platão e o estóico Epicteto.

– De Platão para Epicteto: Por ter sido o filósofo clássico que influenciou a teologia de Agostinho de Hipona, a partir das ideias acerca da filosofia da natureza, imagina-se que o filósofo grego (28/427 – 349/347) ao ex-escravo e depois filósofo Epicteto (50-138) – recorrendo à maiêutica de Sócrates – poderia fazer a seguinte pergunta: “A Alma justa e o homem justo viverão bem e o injusto, mal?” Ou ainda: “Podemos afirmar que a Alma também possui a sua virtude própria?” (Cf. Platão, in Fédon).

Apesar de ter sido filósofo, Epicteto não deixou livros escritos assim como Marco Aurélio. Todavia, importantes fragmentos de seu pensamento estóico estão reunidos no livro “A arte de viver - manual clássico da virtude, da felicidade e da sabedoria: “o apelo da Alma”. À pergunta – A Alma justa e o homem justo viverão bem e o injusto, mal?” –   indo às raízes do estoicismo, Epicteto assim poderia responder com aquela singular simplicidade que sempre lhe fora inata: essa é uma questão mais relativa  ao modo de viver do que uma visão filosófica sobre a vida, meu caro Platão, porque a Alma justa do homem igualmente justo é o resultado das escolhas virtuosas, escolhas que o homem mau prefere não se comprometer. Assim, a virtude “é de fato uma filosofia de liberdade e de tranquilidade interiores, um modo de viver cujo propósito é tornar nossa alma mais leve’. (CF. Epicteto, In “A arte de viver)

E acrescentou quanto à pergunta "a alma também possui a sua virtude própria?: “Tudo tem dois lados”, disse Epicteto. Por outras palavras: os dois lados são  o bem eo mal, o bom e o justo, sendo que o justo tem por alicerce o bem, e, por isso, nas próprias palavras do filósofo estóico, o justo sabe que “A boa vida é a vida com serenidade interior”, logo, pode-se concluir que a Alma possui uma virtude própria, porque o que ela busca é “a essência da fidelidade”. (Cf. Epicteto, In A Arte de viver).

Desse modo, assim Epicteto poderia concluir: “a felicidade é um atributo do justo”, aquele que tem consciência que “A sabedoria é revelada pelas ações, não pelas palavras.” (Cf. In A Arte de viver). 

Platão agradeceu a Epicteto,   e, para finalizar, citando o seu mestre Sócrates, fez outra indagação, seguindo-se à própria resposta: “(...) o injusto pretenderia prevalecer sobre o justo e sobre a ação justa?”. E, ainda citando Sócrates, apresentou a resposta: “(...) os honestos e bons são justos e não têm capacidade de cometer injustiças”. (Cf, Platão, In A República).  

         – De Epicteto para o Aprendiz do Tempo: O leitor precisa lembrar que Epicteto compreendia a ética sob duas perspectivas para a vida: a ética teórica e a técnica prática, sendo que a segunda, como ação verdadeira, deve prevalecer em relação à primeira, embora a primeira seja importante base como conhecimento para a prática das virtudes.

  O filósofo estóico – com toda humildade de quem viveu a plenitude ética numa casa modesta que sempre esteve com portas abertas e que tinha apenas três cômodos (a cadeira, a mesa de trabalho e a mesa de refeições) – perguntou   ao Aprendiz do Tempo: “Como viver uma vida plena e feliz? Como ser uma pessoa com qualidades morais?”(Cf. In A Arte de viver).

Feliz pela oportunidade, o Aprendiz do Tempo rememorou que – na sua recente obra “Humanismo: Liberdade Filosófica” (SP: Dialética, 2023) – apontou como caminhos três virtudes chaves que deveriam conduzir a vida humana: ética, sabedoria e felicidade.  

     Especificamente – disse o Aprendiz do Tempo ao mestre Epicteto – assim penso: a virtude como uma condição ético-moral que ensina a pessoa a desempenhar bem o papel que lhe foi designado, a sabedoria como um atributo da virtude e a elicidade como a meta principal de vida ou uma serenidade espiritual, que funciona como um o antídoto da amargura e da perplexidade, sendo que a virtude e a sabedoria – como bases da simplicidade – são também os temperos à felicidade como serenidade espiritual.

Assim posso concluir – disse ainda o Aprendiz do Tempo ao seu interlocutor – acerca da sua pergunta ("Como ser uma pessoa com qualidades morais?”), que a pessoa sempre deve buscar viver a simplicidade, que é uma virtude, pois essa vivência revela a sabedoria  que   mostra os caminhos da felicidade material e espiritual.

Epicteto apreciou a resposta e deixou o seguinte conselho ao Aprendiz do Tempo: “Desempenhe bem o papel que lhe foi dado, (...) porte-se com dignidade, (...) tenha cuidado com as [más] companhias”, viva com simplicidade para o seu próprio bem”, mas sabia que “A busca da sabedoria atrai críticas”.

O Aprendiz do Tempo agradeceu ao filósofo de Hierápolis (Turquia) e escolheu o filósofo Marco Aurélio para responder sua pergunta.

→ Do aprendiz do tempo para Marco Aurélio. Nascido No Século XXI e ainda Aprendiz das transformações do século XXI, dirigiu-se a Marco Aurélio, dando-lhe uma boa notícia: sábio Marco Aurélio, quero lhe dizer que, no século XXI, no Brasil, o estoicismo – com a filósofa Lúcia Helena Galvão – está ressurgindo. Ela vem divulgando os princípios e fundamentos do estoicismo com simplicidade, humildade e sabedoria. E, em seguida, perguntou-lhe: o que seria a ética para o estoicismo no século XXI?

Marco Aurélio, recorrendo às suas “Meditações”, respondeu que a ética sempre deve ser colocada no lugar mais elevado e importante da sociedade, pois a verdadeira conduta do homem está definida numa palavra: a virtude, pois “a virtude é o único bem, e a felicidade consiste exclusivamente na virtude”.

Nos termos colocados pelo filósofo romano, a virtude é uma espécie do dogma estóico, pois representa a luta pelo autoconhecimento e pelo domínio das emoções, à medida que orienta todos os impulsos naturais ao bem.

Por isso, estoicamente, jovem Aprendiz do Tempo, deixo-lhe o seguinte conselho para refletir e para colares em prática na tua vida: “Veste-te com a esplendorosa simplicidade e com o respeito por ti próprio e com a indiferença por tudo o que fique fora do reino da virtude ou pelo vício” (Cf.  Marco Aurélio: Livro 7, Pensamento 31).

E, ainda,  dirigindo-se ao Aprendiz do Tempo, pediu-lhe que sempre divulgasse  a seguinte mensagem a seguir às pessoas do Século XXI: “Não vivas como se tivesses mil anos à tua frente. O destino está ali ao virar da esquina; torna-te bom enquanto a vida e o poder ainda te pertencem.” (Cf. Meditações, Livro 4, reflexão Pensamento, 17.).

Neste diálogo atemporal, Platão – reproduzindo as ideias de Sócrates – destacou que a ética é um atributo do homem justo, aquele que faz escolhas honestas, enquanto que Epicteto destacou que simplicidade e a humildade como escolhas são bases virtudes filosóficas que levam à verdadeira  liberdade e  à tranquilidade da Alma. E Marco Aurélio apontou que o tempo da virtude é o tempo da existência, pois a virtude é o único bem, que realmente sustenta a felicidade. E, por sua vez, este Aprendiz do Tempo definiu que a ética é a honestidade em face das boas escolhas cotidianas e da forma vivê-las com coerência.

 
MORAIS, OJC.
PhD em Democracia e Direitos Humanos (IGC/CDH, instituto associado à Universidade de Coimbra e à FDUC através de protocolos de cooperação institucional.).Doutor em Direito (com ênfase ao princípio da proteção social)  pela  puc/sp; Mestre em Direito pela UFPA, e Acadêmico Perpétuo da APL, da APLJ, da APJ e da ABDSS. E
scritor brasileiro.

Océlio de Morais