O estoicismo – a escola filosófica helenística da Grécia e da Roma antigas fundada por Zenão de Cítio cerca de 300 a.C. – ensina que as virtudes (sabedoria, coragem, temperança e justiça), quando vividas de acordo a natureza, são suficientes para as experiências da felicidade, porque as virtudes são o único bem que engrandece a Alma.
Sobre a natureza da Alma já refleti em outras “pensatas”, mas quando o trema se refere à ética das virtudes, intrinsecamente estamos também falando da Alma humana, porque – conforme já o disse em diversas outras ocasiões, por exemplo, nos ensaios “Sobre a alma e o espírito antes e depois da morte” e “O tempo, a eternidade e o que isso tem a ver com a natureza humana?” – a Alma é o primeiro princípio ético motor da vida humana. Isso quer dizer que a Alma é a substância espiritual onde viceja a ética das virtudes.
Viver conforme a natureza, na mentalidade estóica, não era (e ainda continua não sendo) viver de acordo com os impulsos naturais da emoção, mas significa entender que a natureza é funcional e, nessa condição, ela é a raiz onde tudo se renova a cada ciclo, a cada época ou a cada estação. Assim, nela, por lógica, está contida a natureza humana.
Neste sentido, todas as coisas têm uma natureza comum: tudo tem um início e um fim, sendo que o tempo de cada coisa ou cada ser é a totalidade de toda a existência. Mas, na totalidade da vida humana, a natureza é mista: coexistem a razão e a emoção, que às vezes estão harmônicas, mas quase sempre entram em choque na hora das escolhas.
Nessa condição, a máxima estóica – viver conforme a natureza – não é exatamente como diz na atualidade o cantor e compositor Zeca Pagodinho, com a sua liberdade musical, na letra “Deixa a vida me levar (...) O negócio é deixar rolar (...)”.
Antes, e filosoficamente, viver conforme a natureza, significa compreender que a felicidade humana será possível a partir da escolha e da vivência da ética das virtudes – a ética das virtudes quer dizer ou designa a honestidade como essência da vida.
Ora, a compreensão da natureza comum das coisas e dos seres é uma ação cognitiva, portanto, é um ato racional. Eis, então, através dos verbos “compreender” a natureza e “viver” de acordo com ela, a aqui a chave interpretativa: compreender é ato de observar, porque decorre do pensar, o que leva ao ato de analisar. Logo, é a razão como critério seletivo. E a razão, para o estoicismo, é a arte de cultivar a lógica e, desse modo, compreender a essência de cada coisa ou ser que integra holisticamente a natureza.
Então, no caso específico da natureza humana, dotada de razão e de emoção, temos que a razão – a partir do controle dos impulsos emotivos – levaria às escolhas das virtudes fundamentais do estoicismo, que são a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça.
Pois bem, fiquei pensando na importância dessas virtudes porque, se bem observado, a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça – como virtudes estóicas – atravessaram a barreira do tempo, tornaram-se atemporais e ganharam a reconhecida universalidade ao ponto de, na atualidade, muitos estarmos nos esforçando para aplicá-las honestamente em nossas vidas.
Todos os dias, a cada ato e em cada fração de tempo, estão ali postadas à nossa frente a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça como ferramentas para as escolhas honestas às nossas vidas, porque da vivência delas dependem a felicidade da Alma e a evolução do Espírito. Mas não podemos esquecer que, de modo concomitante, as facilitações aos vícios são tentações reais que a Alma virtuosa precisa lutar contra. E mais: rejeitá-los.
E como fazemos as escolhas? A partir daquilo que é certo e justo, com sabedoria, com coragem e com temperança? Sem dúvida que o nível de conhecimento e compreensão da importância e da vivência dessas virtudes fará a diferença entre as pessoas. E por que? Porque, o ato de cultivar e procurar viver as virtudes naturalmente neutraliza os vícios que podem entorpecer a Alma. E – se ao contrário for – cultivar vícios corrosivos da Alma (inveja, egoísmo, vaidade, orgulho, usura, arrogância, rancor, vingança e ódio, por exemplo) e viver nesses vícios, leva à mortificação ética das virtudes.
Pois bem, considerando que as virtudes e os vícios corrosivos nos desafiam todos os dias, talvez pudéssemos começar a compreender a nossa própria natureza pelo aprendizado da sabedoria, que inicia com a vigilância dos nossos atos – sabedoria que é revelada pelas ações e não pelas palavras – visto que a sabedoria também leva ao autodomínio dos vícios corruptores – ensinamentos precisos de Epicteto.
Epicteto (50 d.C. a 138) – o escravo romano que se transformou num dos maiores filósofos do estoicismo como aprendiz do filósofo Caio Musônio Rufo (24 d.C. a 95) – viveu conforme essa métrica virtuosa.
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