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O que fazer ético e o porquê fazer ético fazem as diferenças

Océlio de Morais

Na pensata “A ética como fiel da balança”, a partir da definição ética do filósofo Mário Sérgio Cortella – ética como conjunto de valores e princípios para decidir as questões da vida – eu afirmei, em concordância com o filósofo, que a ética é o fiel da balança da  tríade comportamental relacionada ao querer fazer, ao poder fazer e ao dever fazer corretamente as coisas.

Recentemente, ouvindo uma homília do padre e teólogo Paulo Ricardo, ocorreu-me imediatamente após a ideia de escrever essa pensata sobre Ética & Etiqueta, partindo da reflexão do teólogo brasileiro sobre a boa intenção (ética) e boa maneira (etiqueta) sobre o que fazer e porquê fazer para deixar tudo e seguir Jesus.

Na homília, a questão “o que fazer” foi posta como livre escolha e o problema “porquê fazer” foi colocada como sinônimo de causa, motivo ou razão. O contexto reflexivo foi, então, a escolha virtuosa (o que fazer) para abraçar com sinceridade o ideário cristão (porquê fazer). 

A ética foi definida como a boa intenção do porquê fazer (ao fazer a escolha por seguir Jesus) e a etiqueta foi definida como um modo de se comportar ou algo comportamental, aparente e sem comprometimento sincero em aderir com honestidade os desafios da fé cristã. 

No campo das relações humanas, isso não é diferente: a ética e a etiqueta estão sempre presentes e não raros são confundidas quanto à sua moral teleológica.

Vejamos alguns exemplos do nosso cotidiano. Alguém fala para outrem: fulano de tal é um gentleman e aquela senhora é uma lady. E numa roda de conversas, alguém fala: cuidado, a sua janela é de vidro, não atire pedras  às cegas.

O modo ser gentleman ou lady está relacionado à educação, ao modo comportamental, à forma como as pessoas se apresentam e procuram se relacionar publicamente.  

Por outras palavras: a etiqueta é adotada ao bom do relacionamento humano. Contudo, embora a boa etiqueta tenha como pressuposto a boa educação, nem sempre pode ser a expressão ética, porque a etiqueta – como disse o teólogo Paul Ricard – às vezes é apenas “uma estética”, algo visual para agradar os influentes interlocutores no ambiente social.

A etiqueta então pode reservar algum “falsete” ou, como se diz em italiano, "falsétto" – uma incontinência entre o real (na intimidade) e o aparente (na relação social). 

A ética, porque deduz a escolha virtuosa, alcança a etiqueta, à medida que está incluída como uma boa intenção das escolhas virtuosas.  

Na ética, “o que fazer” (a escola, a opção) é bem definida pelo sentido do justo e do correto, do bom e do bem. Fazer boas escolhas, nessa perspectiva, é fazer escolhas éticas. É reafirmar com honestidade o compromisso com as virtudes que sublimam a alma humana. 

Na conduta ética, o “porquê fazer” (a causa ou razão) é a própria razão da existência, respeitando-se os limites que os valores humanos impõem como parâmetros para o aperfeiçoamento das virtudes, o que significa, por outro lado, a crescente eliminação das falsas aparências (para  agradar).

No entanto, ética (como virtude) e etiqueta (como modo comportamental), por natureza, são interdependentes, porque, em regra, a etiqueta guarda valores éticos, salvo as situações de desvios. É no desvio ético que a etiqueta é apenas uma estética, uma aparência, um faz de contas. E, nesse caso, a etiqueta se dissocia da virtude ética. 

Seremos, por fim, ética (concretude de virtude) e etiqueta (boas maneiras relacionais) se, e quando, descobrirmos o significado sobre “o quê fazer” e sobre o “porquê” assim fazer com nossas vidas. 

O que fazer ético e o porquê fazer ético farão as reais diferenças.

Océlio de Morais