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O enigma das portas e a sabedoria ética da escolha

Océlio de Morais

Por toda a nossa existência, já passamos por muitas portas largas ou estreitas. E certamente ainda iremos bater em várias portas e também haveremos de passar por muitas outras.

Cada porta (que se fecha ou que se abre) tem seus significados intrínsecos. O desafio de cada andarilho – nessa perspectiva, todos somos aprendizes do tempo – dentro da sua peculiar existencialidade, será decifrar o enigma das portas (ou portais) que são visíveis ou invisíveis ao discernimento e à consequente compreensão humana. 

Tenho pensado no significado das portas larga e estreita, que Mateus (7: 13-14) relata na parábola de Jesus nas suas andanças pela região da Galileia nos últimos três anos de sua extraordinária passagem terrena:

– Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram”

Uma porta fechada sempre oferece a ideia do obstáculo a ser ultrapassado e o propósito de descobrir o que existe lá do outro lado, não por mera curiosidade, mas por necessidade de percorrer a estrada até o final.  As portas larga e estreitas estão no curso da nossa aprendizagem  no tempo. 

Então, é possível associar a parábola das duas portas às escolhas (éticas ou não) que levam aos caminhos da porta estreita ou à porta larga.  

Observe-se bem que as duas portas apontadas por Jesus estarão sempre  disponíveis às livres escolhas para a edificação de uma vida humana feliz: ou infeliz – portas que podem ser designadas  como a porta da honestidade e a porta da desonestidade.  

“A  porta larga” é, figuradamente,   a porta da desonestidade, pois, – conforme advertiu o Mestre –  ela  “leva muitos à perdição,”. É a porta por onde “são muitos os que entram por ela”, precisamente porque a porta larga representa uma  facilidade  atrativa, a lei do menor esforço ou  a vala comum das coisas corruptas e corruptoras.

A porta larga, portanto, representa a passagem corruptiva que leva à perdição. E a questão intrigante é a seguinte: leva à perdição do que? A resposta objetiva é esta: as escolhas desonestas ou de má-fé que levam às condutas sem decência, sem honradez e sem decoro. 

Portanto, a opção às da vida pelo viés da porta da desonestidade leva à perda da honradez e, na perspectiva espiritual, leva à perda do domínio da própria alma, ainda que possua todo o poder terreno, fato gravíssimo que Jesus também advertiu nos termos seguintes, conforme relatado por “Mateus (16:25-26): “Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?”

Por outro lado, a “porta estreita” é a porta da virtude (a porta da honestidade) porque essa porta é o próprio Jesus, conforme relatado por João (10.9):

– “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem. (...) Eu sou o Caminho (...) e ninguém vem ao Pai senão por mim”.

Quando, então, Jesus falou da porta estreita (a porta honesta, que é Ele próprio) e da porta desonesta, que leva à perdição (à corrupção da vida humana), precisamente avisou que a escolha ética é a condição necessária para se entender que o desafio da porta estreita, apesar de o mais difícil, é a única que verdadeiramente vale a pena escolher.

Sendo Jesus a “porta estreita”, todos temos esse grande desafio: cultivar a honestidade, porque ela é chave da porta estreita. A porta que conduz à vida feliz, aquela que abraça a serenidade ética, atributo que designa a pessoa evoluída que entendeu que a honestidade está acima de tudo para chegar à “Casa do Pai”. 

Então, reitera-se a incisiva pergunta de Jesus: “o que o homem poderá dar em troca de sua alma?, a partir da qual também penso ser possível acrescentar: qual benefício se soma à  felicidade desperdiçar o dom da vida fazendo escolhas erradas pelas coisas corruptíveis que advém da porta da desonestidade? 

 

ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

Océlio de Morais