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O dinheiro pode comprar quase tudo, menos as virtudes da prateleira ética

Océlio de Morais

Desde que foi inventado –   segundo registros históricos, há cerca de 2.000 a.C., para tornar fácil as trocas comerciais e possibilitar às pessoas a aquisição de bens ou serviços – o dinheiro tornou-se uma espécie de valor: trabalhar para garantir o sustento próprio e da família, trabalhar para obter bens e acumular riquezas, trabalhar para bem-viver, 

Nunca presenciei alguém e nunca ouvir falar que alguém tenha colocado o dinheiro em primeiro lugar como uma questão exclusivamente altruística – aquela conduta consciente e desinteressada de vantagens visíveis ou ocultas – embora sejam vários os exemplos de pessoas que doam com virtuosidade parte de suas riquezas para fins filantrópicos.

Mas, podem observar, como regra geral, bem ampla mesmo: por sua típica natureza, o dinheiro pode comprar qualquer coisa ou quase tudo que é precificado no mercado das necessidades básicas ou das necessidades sugeridas.  Qualquer pessoa com capacidade cognitiva saudável sabe disso.

Quando penso que o dinheiro pode comprar qualquer coisa ou quase tudo que é precificado no mercado, também podem ser incluídas, nesse mercado das relações humanas, as negociatas, aqueles negócios nada transparentes ou negócios desonestos.

  Nesses casos, o dinheiro compra a dignidade, compra a honra e compra o decoro daqueles envolvidos nas negociatas – negociatas   de quaisquer naturezas que se apresentem (às vezes às claras e às vezes subliminares) como vantajosas ou como se fossem uma espécie de “escambo político”.

Quando o “escambo político” ocorre, a moeda da relação não é a boa ética; mas, sim, a moeda corrupta e corruptível, pois o dinheiro e o poder, que estão em jogo, podem comprar quase tudo.

O dinheiro no “escambo político” – pelas vantagens materiais que são oferecidas a curto e a longo prazos – provoca um efeito devastador nas consciências dos envolvidos: uma espécie de letargia como ausência da ética virtuosa, caso em que todos os valores éticos são desconstruídos, precarizados ou relativizados.  Nesses casos, criam-se narrativas éticas para serem massificadas. Mas narrativas sem a efetiva prática ética, não são nada, ou melhor, são apenas narrativas manipulatórias. 

Portanto, tem-se pelo menos duas formas de ganhar e de utilizar o dinheiro: de uma forma honesta e lícita, o modo que todos sabemos ser aquele que não causa sobressaltos e nem dores à consciência; logo, é a forma onde o suor do rosto possui o grau máximo de nobreza. Utiliza-se o dinheiro para o bem-estar, inclusive com compartilhamento fraternos e solidários.

 A outra forma é a desonesta e ilícita, aquela onde a artimanha não se preocupa como ganhar o dinheiro, tampouco se importa de onde vem (a origem) o dinheiro da negociata, exatamente porque os envolvidos demonstram não ter escrúpulos ou são destituídos da sem essência ética ou moral. 

Para a segunda hipótese – conseguir dinheiro de forma desonesta, também para utilização desonestas –  é bem apropriada a advertência de Jesus, nas palavras do evangelista Mateus (16:26-)

– "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" 

E também segundo o Evangelho relatado por Marcos (8:36-37): "E qual é o proveito que um homem tira se ele ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderia dar em troca de sua alma?"

A obtenção de dinheiro de forma desonesta gera desassossego à alma e, nessa condição, os envolvidos são pessoas que, geralmente, adotam à vida as estradas da avareza, da luxúria, da soberba, da inveja, da arrogância e da prepotência. Nesse tipo de vida, a alma não possui sossego, pois vive sobressaltada pelo aprisionamento das algemas de aço da própria estupidez humana que ignora os bons valores éticos.

O dinheiro pode comprar quase tudo, é bem verdade. Mas, por exemplo, com ele não é possível comprar a honestidade, a esperança, o perdão, a caridade e o amor na prateleira de um supermercado, numa feira livre, num shopping ou nas relações sociais.

As virtudes da honestidade, da esperança, do perdão, da caridade e do amor estão gratuitamente expostas (para levar e cultivar) nas prateleiras ou nas estantes éticas da vida.  

 

ATENÇÃO: Em observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

Océlio de Morais