Quero começar essa breve pensata com algumas perguntas: (1) quantos de nós já parou e se deu conta das tantas vezes que choramos na vida e o que significaram as dores de nossas lágrimas? (2) Quantas vezes sorrimos e cantamos e quantas nos sentimos infelizes, tristes ou felizes? (3) Quantos de nós já se deu conta das vezes que ficamos doentes e recuperamos a saúde e, a partir disso, o que mudou no nosso sentido de vida? (4) Quantos de nós já se deu conta das vezes que fizemos o bem ou o mal para alguém?
É possível que as coisas do cotidiano desviem nossas atenções às questões imediatistas e materialistas, portanto, deste modo, abafando ou mortificando o que poderia ser o sábio encontro do eu material com o eu espiritual.
Essa é, sem dúvida, uma das características da modernidade, o período da sociedade líquida – onde as relações socioeconômicas e as relações humanas são frágeis, fugazes e maleáveis – conceito temporal estruturado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman para caracterizar o período após a década de 1960.
A pressa das relações humanas tão frágeis, tão fugazes e tão maleáveis da modernidade líquida, agora, na pós-modernidade – marcada pela Era digital – que cria a Era da Super-velocidade informacional, e fomenta a Era da artificialidade comandada pela Inteligência Artificial.
De modo geral, estamos vivendo (e quase não percebemos) a Era do esvaziamento progressivo dos valores primários da condição humana. E quais são esses valores primários? (fraternidade, solidariedade e caridade) – valores que o maior filósofo, o maior profeta, o maior teólogo de todo os tempos (Jesus Cristo, o Messias) legou para a humanidade como a fonte natural mais nobre à sublimação da alma, portanto, para a realização da felicidade humana.
Ah!, a Felicidade!!! Mas, o que é felicidade?
Eis uma questão central das nossas vidas, mas não pragmática ao ponto de ser respondida com um conceito.
Mas podemos partir do que disse o teológico e filósofo Agostinho de Hipona – o único Santo Católico que foi canonizado por aclamação popular – : a verdadeira felicidade não está nas coisas materiais (riquezas e poder, e do que disse decorar) porque a riqueza material e o poder são efêmeras e podem desvirtuar o caráter humano. Mas, a verdadeira felicidade é a espiritual, porque é duradoura só pode ser encontrada em Deus, a fonte de todo o bem.
Então, formulo a seguinte questão: a felicidade é um bem relacionado à virtude material (ou seja, não desvirtuamento da ética) e à virtude espiritual (aquela alimentada nas virtudes teológicas: a fé, a esperança e a caridade?
Vamos visitar o conhecimento legado pela sabedoria da Antiguidade e pela Idade Moderna e ver o que disseram, a esse respeito, três importantes filósofos:
Aristóteles disse que a virtude ética é cultivada por meio da prática contínua e do desenvolvimento do caráter.
Logo, posso afirmar: a realização da felicidade depende da opção ética como virtude ao desenvolvimento do caráter honesto.
Sêneca (o Moço nascido em Córdoba, Espanha) afirmou que a virtude é um meio prático de alcançar a tranquilidade da alma, pois ela (a virtude) está na capacidade de controlar os impulsos corruptivos da vida, focando em viver de acordo com a razão ética.
Com efeito, se a serenidade da alma depende da virtude como um meio prático para controlar os desvios corruptivos, nessa perspectiva também é possível afirmar que a experiência da felicidade é o resultado da escolha pela ética virtuosa.
Khalil Gibran, o poeta e filósofo libanês, nos apresentou a virtude como expressão da Alma e da compaixão, porque entendeu que as virtudes não são regras rígidas ou comportamentos controlados, mas, sim, uma expressão natural da alma humana e da comunhão espiritual com os semelhantes.
Por outras palavras: a experiência da felicidade individual exige o compartilhamento, através da compaixão, isto é, a comunhão de sentimentos nobres e espirituais com os semelhantes, o que, na prática, significa a caridade deve ser prevalecente, mesmo em relação àqueles de quem não se tem simpatia ou não se gosta.
Essas reflexões levam à outra questão, como aderência prática e de aplicação aos dias atuais:
→ Se estamos na Era do esvaziamento progressivo dos valores primários da condição humana, e, se, como consequência, temos a redução das virtudes ética – sobre o que constitui uma vida ética e virtuosa – então, tudo ou quase tudo está perdido no tempo de existência?
A resposta é a seguinte: depende dos valores que individualmente cada um escolhe para a vida, assim como dependerá do que a sociedade adota como pilares para a sua própria civilidade.
E isso parte da natureza personalíssima. Recorde-se: quando cada indivíduo – um a um ao seu tempo – nasceu, houve a definição de um propósito: um propósito humano-espiritual, como costumo dizer, qual seja, cumprir a missão da semeadura, parábola que também serve para mostrar que – como ontem, e ainda hoje – pouco aprendemos (com toda singeleza espiritual) o que significa a lei da semeadura.
Sim, é verdade: ainda não aprendemos a semear na boa terra e nem aprendemos colher os bons frutos, porque não sabemos escolher as boas sementes e tampouco sabemos arar a terra .
Ora, a boa tarrea é o nosso ambiente social (a família, o grupo de amigos, o trabalho, o ambiente do nosso Silogeu), onde cada um de nós deve aprender a ser o semeador e a semear – com insistência e perseverança virtuosas – as sementes da felicidade: a fraternidade, a caridade, a solidariedade, a esperança e a fé.
Portanto, é seguro afirmar: semear na boa terra é uma escolha honesta. Dessa escolha ética dependerá os esforços para a construção das bases do bem-estar coletivo (não apenas como utilidade de subsistência, mas também como princípios de sociabilidade e solidariedade) – bem-estar que seja mais eticamente aceitável para a edificação de uma sociedade realmente justa, fraterna e solidária.
A felicidade humana é o resultado da lei da semeadura. Essa é a missão especial que recebemos ao vir ao mundo, e para a qual fomos designados com corpo, alma e espírito.
Por isso, finalizo com o meu Mestre profético e preferido: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!, disse Jesus, conforme Mateus, (18:9). Em conclusão, eis a sentença teleológica do propósito espiritual designado a cada ser humano ao nascer: a busca da felicidade espiritual como o resultado da lei da semeadura.