Muitos dizem: eu quero ser feliz! “Não me interessa a vida dos outros”. Alguns falam: “Quem tem pena do miserável, vai para o lugar dele”. Outros agem traiçoeiramente para levar vantagens em relação aos outros.
Nada indica ou sugere que comportamentos egoísticos conduzam à felicidade, ainda que materialmente alguma vantagem efêmera seja obtida como consequência da falta de altruísmo.
Então, a questão a saber é: o que e como agimos em busca da felicidade, pois a causa (a razão da escolha e do agir) e o efeito (a consequência ou resultado da ação) são inumeráveis como a lei da semeadura (Gálatas 6:7-8): “Cada um colhe aquilo que semeou em sua vida”.
Tudo isso tem a ver com a ética comportamental, aquele modo de proceder diante de alguém ou de algo, visto que diz respeito aos valores (ou desvalores) que influenciam, orientam e determinam o agir de cada pessoa.
Eis, portanto, o tema desta pensata teológica-filosófica: a ética como fundamento virtuoso para o bom e ao aprazível estado de serenidade da alma em busca da felicidade espiritual.
A filosofia pensa a ética como a razão que orienta as escolhas e define o caráter moral do ser humano. Os fundamentos das razões são de caráter individual ou de natureza coletiva, mas penso que, na origem, estão as razões individuais, as quais podem ou não ser influenciáveis por razões coletivas. E, na sequência, as razões individuais e coletivas tornam-se interdependentes.
As razões da ética individual – geralmente atreladas à visão moral da pessoa acerca da sua própria condição humana e do seu respectivo papel na sociedade – buscam as virtudes como caminhos ao objetivo maior, que é a felicidade existencial.
As razões da ética coletiva – a obra “Ética a Nicômaco” se refere à ética particular e à ética em geral – no comentário de Aristóteles é “a finalidade da vida política”; contudo, ambas assentadas na premissa de que são indispensáveis ao que “escolhemos no interesse da felicidade”.
Nessa perspectiva, a ética é um fundamento virtuoso à felicidade do ser humano, à medida que – justifica Aristóteles – ela constitui um “princípio racional”; portanto, relativo à escolha honesta, discernimento inerente apenas àquele que, “por princípio natural” alcançou a compreensão de que sua “função é uma atividade da alma”, aquela que se dedica a “uma boa e nobre realização das virtudes”.
Assim, conforme Aristóteles, alguns identificam a felicidade com a virtude, outros com a sabedoria prática”. O filósofo grego falou isso entre os anos de 335 a.C. a 323 a.C., quando escreveu “Ética a Nicômaco”, obra que trata das virtudes éticas ou cardeais – sabedoria, justiça, coragem (ou fortaleza) e temperança – a partir da conduta humana ou seja, a partir das escolhas do ser humano, o que equivale dizer, a racionalidade teleológica.
Penso que as duas identificações são complementares na perspectiva teleológica da ética – o sentido do que é correto, do que é justo, do que é honesto, do que não é corrupto e nem corruptível das virtudes – porque a pessoa sábia coloca em prática as experiências virtuosas e sepulta os vícios.
As experiências virtuosas – honestidade, solidariedade, caridade, bondade, por exemplo – por serem inerentes à alma dadivosa, naturalmente projetam (ou são uma espécie de promessa ou profetizam) sobre maravilhosas experiências de felicidade.
A ética também é, desse modo, fundamento da felicidade como sabedoria profética. Jesus garantiu isso na oitava bem-aventurança ou beatitude anunciadas no Sermão da Montanha, na forma relatada no Evangelho segundo São Mateus (5, 8): “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”
Em termos teológicos, quem são e o que significa “(...) os limpos de coração (...)? Na própria mensagem profética de Jesus, são aqueles naturalmente “mansos e humildes” (Mateus 11:29).
E os opostos são os homens “maus”, aqueles que não fazem coisas boas e, por isso, Instagram “a raça de víboras” (Mateus 12:34). Ou seja, naquele tempo, referia-se aos fariseus e, nos dias de hoje, aplica-se àqueles que reproduzem as condutas farisaicas ou as ampliam com outras condutas que se opõem às virtudes teologais: a fé em Deus, a esperança na salvação espiritual e a caridade dadivosa.
Na sabedoria profética de Jesus, aos “limpos de coração” é exigida como missão de vida a igual qualidade virtuosa de Jesus e o compromisso consciente com seu “jugo”, assim anunciadas pelo próprio Messias: a mansidão e a humildade de coração. Veja-se:
– “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas” (Mateus, 11: 29-30).
Logo, a bem-aventurança número 08 é uma das sabedorias proféticas proclamadas por Jesus como recompensa às pessoas virtuosas, aqui em termos teológicos: (a) as pessoas que são amáveis, dóceis, caridosas, solidárias e dadivosas, porque designadamente são mansas de coração; e (b) as pessoas humildes de coração (não soberbos, não prepotentes, não arrogantes, não orgulhosos e não arrogantes).
Essa bem-aventurança é, por conseguinte, a mais confiável promessa a todos os que desejam alcançar a felicidade espiritual: “os limpos de coração verão a Deus”:
Por outras palavras: ver a Deus sugere ser acolhido numa das inúmeras moradas espirituais da Casa do Pai. E também é o maior e mais importante projeto finalístico da ética espiritual da criação, qual seja, premiar com a felicidade espiritual (a vida espiritual eterna) todos os virtuosamente mansos e humildes de coração.
Com efeito, afirma-se que as virtudes éticas e as virtudes teologais são ao mesmo tempo fundamentos e princípios necessários para se alcançar a felicidade espiritual.
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