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Sem cheiro e sem ideologia

Linomar Bahia

A história da humanidade é farta em episódios e exemplos da fixação humana em tudo quanto simboliza o que passou a ser conceituado como "dinheiro", desde quando se trocavam produtos nos escambos. Continuou através dos tempos, nas diferentes representações como meios de pagamentos e outras formas representativas de valores. Tem sido objeto de preconceitos e fonte de uniões e desavenças, que já lhe valeram considerações nada lisonjeiras, como "vil metal", subvertendo princípios éticos e ignorando escrúpulos sanitários ao considerarem seu manuseio como veículos possíveis de contágios.

Aos que dizem, talvez como consolo, que o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda, segundo os avarentos. Para outros, dinheiro é uma fonte permanente de discórdia, inclusive no seio de famílias em disputas de heranças, motivo de guerras entre povos e distinção social econômica entre segmentos humanos. Costuma ser associado tanto à vitória quanto à derrota, e a muitas causas de vida e de morte. Estudiosos das relações e influências econômico-financeiras têm concluído que dinheiro, sexo e poder constituem uma trilogia envolvida em quase todos os movimentos sociais e políticos desde as primeiras civilizações. 

Motivaram o início, a ascensão, o auge, o declínio e a derrocada de homens e mulheres, famílias e etnias, povoados e nações. É impossível pensar em um período histórico que não tenha sido motivado ou, pelo menos, influenciado por um dos elementos dessa tríade, ou por todos eles. Povoa todas as formas de práticas ilegais, entre as quais a corrupção é a mais evidente, sendo frequentes disputas entre grupos criminosos, pelos inconformismos quando na divisão dos produtos das ações criminosas, praticamente ninguém usufruindo de suas eventuais benesses, nem na sobrevivência humana.

Aos que consideram que o dinheiro compra e decide tudo, o poeta português Fernando Pessoa respondeu que "compra um mausoléu, mas não compra um lugar no céu". Alexandre O Grande, que imperou sobre os 24 fusos horários do planeta, determinou que seu caixão fosse transportado pelos médicos da época, para mostrar que não tinham o poder de cura diante da morte; que seus tesouros fossem espalhados no caminho para o túmulo para mostrar que os valores aqui conquistados aqui permanecem; e que suas mãos ficassem à vista de todos, mostrando que elas voltam como vieram.

Todavia, desde o século VII antes de Cristo, acontecimentos e ações públicos e privados sempre envolvem algum componente financeiro, num "topa tudo por dinheiro" nas mais inusitadas formas e situações. Na Roma dos anos 69 e 79 da era cristã, o imperador Vespasiano respondeu aos protestos contra a cobrança e a fedentina de banheiros públicos, cheirando uma moeda de ouro e exclamando que "pecunia non olet", ou dinheiro não tem cheiro. Também não tem ideologia, como na união dos contrários pelos 5 bilhões do fundo partidário, nada importando significarem quase 500 milhões de cestas básicas.

 

Linomar Bahia