Como reagiria o barão de Montesquieu diante da reunião entre o legislativo, executivo e judiciário, contrariando a teoria da separação dos poderes que exprimiu em 1748 no clássico “O espírito das leis”? Provavelmente custaria a acreditar que as instâncias definidas como independentes, embora harmônicas entre si, pudessem reunir para negociar direitos e deveres considerados exclusivos das respectivas instituições, com o resultado festejado por um dos participantes com a frase “todos nós saímos felizes”.
Felicidade que não tem sido experimentada pelos condenados à sofrida realidade da maior carga tributária do planeta. Certamente desejariam que reunião assim pudesse buscar formas e meios de para selecionaras sempre crescentes carências da população, justificando o conceito formulado pelo personagem “Justo Veríssimo de Chico Anísio de que “o povo que se exploda”. Ou Rui Barbosa que “(...) de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude (...)”.
Entre os resultados, sobrevieram palavras-chave reativadas e criadas, sempre que convêm como ilustração que levou Sócrates a considerar que “a palavra foi dada ao homem para esconder os pensamentos”. Poderia ser acrescentada à expressão filosófica também constituírem oportunistas biombos com os quais costumam desviar as atenções da plebe para as migalhas, configurando as famosas “cortinas de fumaça” que obscurecem a visão clara das enganações como nos tempos romanos do pão e circo.
Os avanços tecnológicos lançaram e evidenciaram recursos para tornarem pesquisas e consultas mais acessíveis do que quando a mesma missão constituía desafio à paciência à necessidade. São termos que também passaram a ser associados a objetivos e situações passíveis de ações que se eternizam no tempo e nos espaços na permanente sobrevida necessária a que se prolonguem “per omniasaeculasaeculorum”, como diriam os greco-latinos, aportuguesado “para sempre, por todo o sempre”.
Assim tem sido no uso e no abuso das palavras-chave “pobreza”, “fome”, suas variantes e derivativos, acrescidos nos últimos tempos de “povos originários”, “inclusão social” e nos discursos que conseguem falar tudo sem dizer nada. Não obstante, cumprem o papel de sofismar e anunciarem promessas que nunca se concretizam, ganhando na reunião dos Poderes a companhia de “imposição”, “rastreabilidade”, “transparência”, “consenso” e algumas que sempre serão criadas conforme as conveniências e circunstâncias.
Pobres e fome sempre existiram por serem indispensáveis à sobrevivência de castas e de instituições. Já imaginaram ricos e poderosos viverem sem essas vítimas preferenciais?Existem desde os tempos imperiaise sempre existirão como meio de manipulação de massas, no Brasil pelo processo colonizador e escravidão. Foiagravado com o êxodo rural para as zonas urbanas sem infraestrutura, Formaramos bolsões nas periferias, dependentes dos benefícios dos programas sociais como o “bolsa-família”.
Linomar Bahia é jornalista e escritor, membro das Academias Paraense de Letras, de Jornalismo e Literária Interiorana