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Entre lágrimas e lenços

Linomar Bahia

Não precisa ser profeta, nem ter vocação para pitonisa, para que se preveja o que está para acontecer num país de obviedades históricas, bastando observar, nas contumácias nacionais, como a história se repete. No isolamento dos primeiros meses do “coronavírus”, escrevi artigos abordando situações inerentes à compulsão manifestada diante dos montões de dinheiro, como em tempos de pandemia, em meio ao sofrimento nacional. Até as garças de Batista Campos previam a inevitável reafirmação da máxima universal de que "onde há dinheiro, há ladrão por perto" que os fatos viriam a confirmar.

Embora sem pretender qualquer forma de premonição, antecipando o que iria acontecer, perenizei os textos no livro "Reflexões de uma quarentena", que poderá ser consultado gratuitamente na plataforma “issuu”. Lá poderá ser conferido, mesmo que por mera curiosidade, quanto previsíveis podem ser os brasileiros, particularmente quando se vê diante de alguma possibilidade de se apropriar de dinheiro, pouco se importando se virá a causará mal a terceiros, como no caso. Entre essas tristes previsões está o texto "Coronajato, a próxima atração", publicado na edição de 3 de maio de 2020.

Tais perspectivas se transformaram na realidade das constrangedoras ações policiais, expondo o lado sombrio de altos funcionários públicos e empresários, principalmente alguns de ocasião, diversas prisões e a revelação de que aspiradores e acessórios foram comercializados até por firmas de objetivos incompatíveis, como vendedoras de vinhos. Enquanto isso, milhares de pacientes lotavam UTIs e ampliavam as funerárias, transformando o país em imensos UTIs e cemitério, ao mesmo tempo em que surgiam novos ricos e ricos ainda mais ricos, exibindo nas redes sociais as mostras do enriquecimento criminoso.

Após a constatação do desvio dos bilhões dos auxílios federais, com a devolução compulsória e futuros políticos ameaçados, estamos vivendo mais uma previsão de que a mesma história policial logo irá se repetir, reverberando o provérbio popular “quando a esmola é grande, o Santo desconfia”. Na esteira dos auxílios financeiros estaduais e municipais, disponibilizados aos realmente necessitados, não há como duvidar que a bondade governamental, e preocupação com a sobrevivência de milhares, também estará servindo de oportunidade para novas apropriações indevidas pelos oportunistas de sempre.

A sucessão de situações sanitárias e a utilização do terrorismo mundial passou a constituir fator econômico. Proporciona, de um lado, o enriquecimento vertiginoso das indústrias de produtos e prestadores de serviços consumidos, enquanto, por outro ângulo de visão, negócios de todos os níveis e atividades sofrem os prejuízos, irrecuperáveis pela restrição à circulação e concentração de pessoas, na mesma proporção dos milhões ganhos por uns e perdidos por outros. Como ensina a sabedoria popular, enquanto alguns choram, outros enriquecem vendendo lenções para enxugar as lágrimas.

 

Linomar Bahia