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Controle da comunicação

Linomar Bahia

Esse tem sido o sonho de consumo de poderosos no Brasil, como agora, quando a democracia sofre arranhões em seus preceitos fundamentais. Nestes tempos, em que o país parece estar em permanente campanha eleitoral, mais uma vez aflora esse desejo de controlar todos os canais de comunicação existentes ou que venham a existir, submetendo ao bel prazer dos poderosos de plantão o que deve ser lido, visto e ouvido pelos brasileiros. Ainda não conseguiram, graças à blindagem das sete constituições já promulgadas no país, contra essa obsessão tutelar, deixando tais propósitos censores nas más intenções. 

O cerceamento da livre manifestação do pensamento sempre foi típico dos regimes ditatoriais, salvo em situações episódicas. Já na redemocratização, o então ministro da Fazenda foi flagrado dizendo que “o que é bom, a gente mostra; o que é ruim, a gente esconde”, vazado de conversa informal num estúdio de televisão no intervalo de uma entrevista. Em 1939, com o advento da ditadura getulista, no chamado “Estado Novo”, foi criado o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, para “realizar a propaganda oficial do governo e censurar as informações”, extinto em 1945, com a decadência daquele regime. 

Seguia o modelo hitlerista, na segunda guerra mundial, mostrando uma Alemanha próspera e feliz, com a supremacia da raça ariana e o ministro Joseph Goobels propagando que “uma mentira, repetida muitas vezes, com aparente convicção, adquire foros de verdade”. As estratégias fundamentais do DIP criaram os similares nazistas, inclusive aproveitando a penetração do rádio com a “Hora do Brasil”, posteriormente e até hoje denominada de “A voz do Brasil”, mantendo 83 anos depois, o mesmo horário das 19 horas, embora o conteúdo democratizado, com espaços abertos a todos os Poderes e ideologias. 

Policiamento de veículos e meios de maior apelo popular, como novelas, peças teatrais e até composições musicais, voltou com a revolução de 64, utilizando as mesmas formas de isolamento e punição de opositores, algumas ente trágicas e cômicas. Compositor que teve quebrados os dedos das mãos, ironizou classificando de imbecis os que pensavam que “escrevia com as mãos”. Eu mesmo fui mandado prender por um prefeito, querendo saber a fonte de uma façanha suspeita que publiquei. O “Estadão” manteve o título “Novo ritmo na Agricultura” em matéria censurada, complementando “Agora é samba”. 

Intenções censoras têm mostrado frequentemente as suas garras, disfarçadas, sob variadas formas de “controle da mídia”, inclusive nas exclusões de elementos e punição inconstitucionais de autores. Paradoxalmente, seus praticantes têm sido justamente aqueles que se autoproclamam democratas e têm, entre seus deveres, proteger as liberdades que condenam. Regular a mídia frequentou muitos desejos, voltando, agora, pela própria pregação de candidatos, confirmando o sonho de consumo que não gostam de notícias que lhes desagradem, preferindo a propaganda e a publicidade, mesmo quando enganosa.

 

Linomar Bahia