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Atualidades filosóficas

Linomar Bahia

É notável e, em muitos casos, até aterrador, como pensamentos filosóficos e aforismos atravessam séculos e se fazem atuais, com incrível oportunidade nos dias de hoje que se vivem no país. Alguns eram passíveis de serem rotulados como meras pilhérias quando foram expendidos mas ganham foros de realidade, do que é ilustrativa a frase “no Brasil até o passado é incerto”, atribuída a um ministro de quase trinta anos atrás. Outros se assentam perfeitamente em personagens e fatos da atualidade, tanto quanto correspondiam aos comportamentos originários de tais epítetos.

São constatações entre um passado longínquo e um presente político e institucional turbulento. Permite mesmo ensaiar uma visualização do futuro próximo, avaliando em quem e no que podem caber carapuças contidas em pensamentos seculares que, por isso, se tornaram emblemáticos. Antonio Gramsc, ativista comunista, jornalista e intelectual italiano que viveu entre os anos 1891 e 1937, defendia o que classificou de hegemonia cultural, estabelecida por meio de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado.

Pregava ele que “a crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer, enquanto uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece”. E classificou os políticos entre os que lutam pela consolidação da distância entre governantes e governados e os que lutam pela superação dessa distância.”, conceituação possível de ser considerada quando decisões e práticas adotadas desde o período do Brasil Colônia, independentemente de regimes e vieses ideológicos, parecem preferir a manutenção da pobreza, enquanto fingem o contrário.

Quando se apresentam tantos pais de filhos considerados bonitos e atribuições de paternidades para filhos desprovidos de belezas políticas e institucionais,  há que recordar a célebre frase l’état c’est moi”, traduzida livremente como “o Estado sou eu”. A exemplo dos muitos se julgam, rotulava a vaidade e a veia autoritária do Rei Luís XIV, também conhecido como “Rei Sol”, podendo exprimir comportamentos e gestões que pareçam se distanciar do mandamento constitucional de que “o Poder emana do povo...”, expressão que implica a substituição do pronome “eu” pelo “nós”.

Em meio às nuvens de incertezas que pairam sobre o país, vale recorrer à afirmação do terceiro presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson, de que “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, utilizado por muito tempo como “slogan” pela antiga UDN. Significava que as sociedades devem estar sempre atentas aqueles e aos atos que parecem almejar o poder para dominar as pessoas e as situações, nos prós e contras dos questionamentos da democracia. Envolvem o que seria defesa e o que é definido como atentado ao que se convencionou denominar de “Estado Democrático e Direito”.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

Linomar Bahia