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Ativismo linguístico

Linomar Bahia

Mudanças de hábitos e novas formas de viver têm implicado em que nada do que se fez ou se pratica está imune a modismos e invencionices. Até o sentido das coisas sofre inversão, quando o certo passa a ser o errado e vice-versa. Impõem que determinados segmentos sociais e econômicos procurem se adequar, até para evitarem não ficar à margem das “inovações”, algumas com viso político e outras meramente convenientes, vicejando no terreno fértil dos avanços tecnológicos.

Enquanto uns procuram otimizar ações e produções construtivas, necessárias a acompanhar a velocidade com que a humanidade caminha, outros, por ignorância ou má fé, se dedicam a práticas que em nada de útil influem nem contribuem. Vegetam numa vulgaridade que, como toda vulgaridade, vai passando sem lamentações, algumas por inócuas, outras inconsequentes, geralmente apenas refletindo o ativismo político pela distinção entre as tendências ideológicas de grupos.

Exemplos disso são os movimentos que têm envolvido inclusive a linguagem, procurando impor variantes em expressões de natureza culta, numa forma de dialeto para distinguir entre os gêneros masculino e feminino, sedimentados na língua portuguesa adotada no país. Por isso, defensores do chamado neutro no português e opositores de alterações de gênero,vêm se empenhando em debate sobre o uso de “todos” e “todas”, já incluindo “todes” e “todxs”.como definidores de sexo.

Todavia, na essência da língua que professamos, expressões assim diferenciadas incorrem em redundância gramatical, cometida inclusive por um presidente da República que, embora também envergando o fardão de escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras, passou a se inscrever entre os frequentes modismos que assolam o país, abrindo discursos presidenciais com um redundante “brasileiros e brasileiras” que. à época, soou somente como charme em ser diferente como na versão de agora.

Tem sido perceptível a estranheza de audiências às expressões identitárias de “todos” e “todas”,considerados gramaticalmente incorretas. Cultores do idioma passaram a defender a expressão realmente escorreita em respeito à histórica da língua,esclarecendo que na transição do latim para o português, o neutro assumiu a condição de masculino, consagrando “todos” como norma culta, deixando variantes classificadas apenas entre os “dialetos”à margem do vernáculo.

Será que o ativismo ideológico e político conseguirá fazer com que “tod@s”, “todxs” e “todes” se sobreponham ao português escorreito, prosperando como deturpação do idioma conceituado por Luiz de Camões? Ou ficarão circunscritos à classe dos “dialetos” para identificação de determinados segmentos? Enquanto isso, “todos” continuarão a ser “todos”, e não somente alguns, que, entretanto, são livres para utilizarem quaisquer designativos para distinguir os diferentes. Veremos até quando.

 

Linomar Bahia é jornalista, escritor e membro das Academias Paraense de Letras, Jornalismo e Interiorana

Linomar Bahia