GUSTAVO FREITAS

GUSTAVO FREITAS

Internacionalista e comentarista de política internacional em O Liberal. Com experiência recente nas eleições argentinas, Estados Unidos e Oriente Médio, usaremos este espaço para falar sobre tudo que acontece pelo mundo.

No Líbano, o libanês é sempre o último a decidir

Gustavo Freitas

Na quinta-feira, o governo israelense lançou mais de cem mísseis contra o sul do Líbano em um ataque cada vez mais indicativo de uma ofensiva militar contra o país nos próximos dias.

O Líbano sofre de um problema sem solução: não tem capacidade de decidir seu futuro. O Hezbollah atua no sul como uma força paramilitar, com mais poder que as forças armadas, enquanto o governo nacional sequer tem capacidade de gerenciar a própria governabilidade.

O país sofre com inflação de 35% ao mês, queda no poder de compra e alto índice de desemprego. O colapso na economia é uma dor de cabeça que se alia ao eterno problema energético, que faz os cidadãos lidarem diariamente com quedas de energia por horas, a depender da localidade onde se vive.

Politicamente, o país é refém do sectarismo que engloba forças estrangeiras de todos os lados. No Líbano, o presidente sempre é um cristão maronita, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e a presidência da Câmara fica para os muçulmanos xiitas. Esta divisão visa englobar as diferentes comunidades religiosas que convivem harmonicamente no país, mas também trava qualquer avanço político como nação.

Cada grupo religioso sofre influência estrangeira. Os sunitas tem ligações com os sauditas, os xiitas com os iranianos e os maronitas com o ocidente. Atendendo a interesses de fora, sobra pouca autonomia para olhar de dentro, e assim sempre caminha o Líbano.

O Hezbollah, formado por xiitas, atende primeiro aos interesses do Irã, seu principal aliado. E assim está em guerra contra Israel desde o fim do ano passado, para defender o Hamas - outro parceiro do Irã - e os palestinos em Gaza.

Já o governo libanês, que sequer tem força política para administrar o país, não tem autonomia para decidir se quer ou não ir à guerra contra Israel. O silêncio diário é a única arma que eles tem para usar enquanto o Hezbollah decide o que vai fazer no território.

Neste cálculo, falta o ator principal: o libanês. O que querem? Não querem guerra, sonham com um país minimamente estável para se viver bem, detestam ver Israel violar diariamente a soberania do país com caças sobrevoando Beirute para assustar os moradores e estão cansados do país não poder decidir o próprio futuro.

O problema é que nesta equação, quem deveria ser ator principal, acaba sempre sendo coadjuvante. Isso não é de agora, a história do Líbano é recheada de episódios em que os outros decidem pelos libaneses, às vezes com os mesmos personagens de nomes diferentes.

No Líbano, um país pequeno que abraça diferentes grupos religiosos de forma harmônica, todos podem ter voz, mas infelizmente o libanês é sempre o último a decidir.

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Gustavo Freitas
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