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GUSTAVO FREITAS

GUSTAVO FREITAS

Internacionalista e comentarista de política internacional em O Liberal. Com experiência recente nas eleições argentinas, Estados Unidos e Oriente Médio, usaremos este espaço para falar sobre tudo que acontece pelo mundo.

A tragédia de um presidente sem voz

Gustavo Freitas

Nas próximas semanas, o famoso jornalista Bob Woodward, conhecido por ter denunciado o escândalo de Watergate na década de 70, lançará um livro sobre bastidores da política em Washington.

Entre tantas revelações já divulgadas, uma delas retrata muito bem a dura realidade momentânea no Oriente Médio. Joe Biden teria repetido reiteradas vezes que Netanyahu não tem o menor interesse em derrotar o Hamas, pensando apenas em se manter vivo no poder. “Ele é um cara ruim”, repetiu o presidente americano.

Isso reflete o que tem sido a relação entre Israel e os Estados Unidos nos últimos meses. Ainda que os chefes de Estado se desentendam, Washington nunca poderá deixar os israelenses à deriva, mas há um evidente desprezo de Netanyahu com o presidente da maior potência do planeta.

Nos últimos meses, Biden pediu um cessar-fogo que nunca veio. Ora por culpa do Hamas e ora por falta de vontade de Netanyahu. Depois da retaliação iraniana ao bombardeio israelense na embaixada do país na Síria, Biden alertou Israel dos riscos de seguir escalando as tensões com o Irã. Em vão. 

Agora em setembro, o governo americano pediu aos israelenses que não transformassem o Líbano em uma zona de guerra, restringindo os ataques ao Hezbollah. Não adiantou. Há três semanas o país viu o conflito no sul passar pra todo o território, com milhares de moradores sendo forçados a viver nas ruas de Beirute da noite para o dia, com bombardeios incessantes na capital libanesa que já vitimaram mais de duas mil pessoas entre membros do Hezbollah e muitos civis.

A falta de liderança de Joe Biden, já atrelada a sua idade, é um grave risco à estabilidade do Oriente Médio. A região vive seu momento mais grave em décadas, e ainda que Biden já tenha dia e hora marcada para deixar o poder, um país como o Líbano não pode esperar até janeiro para que um novo presidente tome as rédeas da crise.

Na década de 80, durante a guerra civil libanesa, o então presidente Ronald Reagan ligou enfurecido para o primeiro-ministro israelense Menachem Begin, criticando-o pelos bombardeios à oeste de Beirute e afirmando que o derramamento de sangue estaria reduzindo as possibilidades de paz no Líbano. Em uma ligação, Reagan ameaçou interromper toda a ajuda aos israelenses na Operação Habib. Trinta minutos depois, o premiê israelense retornou avisando que havia autorizado um cessar-fogo completo.

Quatro décadas depois, as cenas se repetem, desta vez com uma singela diferença: uma ligação do presidente dos Estados Unidos já não assusta e nem intimida mais. Nem mesmo o principal aliado na região obedece. No momento, a relação é inversa: as ordens vêm de Tel Aviv e Washington obedece e assina os cheques. 

A falta de liderança na Casa Branca é grave para a estabilidade da região, e o futuro não é nada animador. Trump parece estar muito comprometido em dar mais aval para Netanyahu, e Kamala Harris sequer consegue explicar o que pretende fazer se assumir o poder. A tragédia no Oriente Médio está ganhando contornos irreversíveis.

*Gustavo Freitas é articulista do jornal O Liberal

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