Alcoolismo no futebol, um vício contra a carreira, a saúde e a vida
O alcoolismo é um assunto ainda tratado como tabu nos clubes brasileiros e pouco estudado no país. No entanto, seus efeitos podem ser devastadores para a carreira, a saúde e a vida dos atletas. Embora os dados sobre o problema sejam escassos no Brasil, um levantamento global sobre problemas de saúde na profissão, realizado em 2014, evidenciou a dimensão dessa questão. A pesquisa, que ouviu 180 atletas em atividade e 121 aposentados, revelou que 26% dos jogadores em atividade apresentavam distúrbios de ansiedade e depressão (principalmente pela pressão do trabalho), enquanto 40% dos ex-atletas sofriam desses problemas, geralmente devido ao desânimo após a aposentadoria.
Em 2015, o Sindicato Internacional dos Profissionais de Futebol realizou um estudo com cerca de 800 jogadores e constatou que 9% dos atletas ativos e 25% dos aposentados admitiram consumir bebidas alcoólicas em excesso. Vale lembrar que, de acordo com a Agência Mundial Antidoping, o álcool não está incluído na lista de substâncias proibidas no esporte.
Ídolos vencidos pelo alcoolismo
Diversos ídolos do futebol brasileiro foram tragicamente marcados pelo alcoolismo. Alcino, Neves, Bira, Durvalino, Paulinho Rabiola e Lupercínio – todos atacantes – e o goleiro Ferreira são nomes expressivos do futebol paraense cujas vidas foram encurtadas por doenças causadas pelo consumo excessivo de álcool. Outros grandes nomes nacionais, como Garrincha e Sócrates, também tiveram suas histórias ligadas a esse problema.
Além de encurtar vidas, o consumo excessivo de álcool compromete carreiras, prejudicando o desempenho dos atletas. Adriano Imperador, Ronaldinho Gaúcho, Jô e Cicinho são exemplos de jogadores que enfrentaram problemas com o álcool. Seu consumo, agudo ou crônico, provoca desidratação, desequilíbrio psicomotor e psicológico, inflamação, menor capacidade muscular e retarda a recuperação pós-jogo.
Baixinhas
- Em resposta ao pedido do colunista, o professor Erick Cavalcante, fisiologista do Remo, aprofundou-se nos estudos sobre os efeitos do álcool na performance e na saúde dos atletas. Embora as farras com cerveja tragam prazer, seus danos são significativos.
- O efeito mais impactante do álcool é o desequilíbrio psicomotor, que compromete a coordenação nas ações em campo. Isso se traduz em erros de passes, finalizações e tomadas de decisão. Muitas vezes, o atleta não percebe ou nega a relação entre suas falhas e o álcool ainda presente em seu organismo.
- Além de desidratar, o álcool reduz o desempenho físico, aumenta a inflamação nos músculos, retarda a recuperação e causa danos psicológicos, especialmente em casos de consumo agudo. Alguns atletas bebem com tanta frequência que podem ser considerados alcoólatras.
- O ambiente dos atletas da base, que buscam interação com profissionais, é propício a aderir às farras de cerveja, churrasco e pagode. Cabe aos clubes e às famílias ficarem atentos e trabalharem na conscientização desses jovens.
- Infelizmente, alguns clubes acabam trazendo o problema para dentro de casa, como nos casos de Yony González e Cazares, cuja curta e danosa passagem pelo Paysandu foi marcada pelo envolvimento com álcool. O agravante é que o clube os contratou já ciente de seus históricos.
- As histórias sobre Alcino no Remo dos anos 70, quando chegava embriagado, dormia algumas horas e ainda conseguia atuar bem, são amplamente exploradas. Naquela época, os atletas corriam sete a oito quilômetros em 90 minutos; hoje, percorrem mais de 12 quilômetros por jogo. O nível de exigência física aumentou significativamente, embora ainda existam no mercado jogadores que deixam a desejar em disciplina e preparo físico.
- Amanhã, às 21 horas, o Papão enfrentará a Ponte Preta em Campinas. Será uma partida decisiva para ambos os times na luta contra o rebaixamento, exigindo total lucidez e desempenho físico completo dos jogadores.