No início deste mês o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que prevê sanções comerciais contra o Brasil e outros países em razão de desmatamento, em uma grande derrota de nossa diplomacia.
Os importadores europeus de soja, café, cacau, carne e outros produtos teriam que provar que tais produtos não procederiam de áreas de desmatamento. Os importadores europeus, naturalmente, transfeririam o ônus e o custo do controle das importações para os exportadores brasileiros com o consequente aumento do custo da produção local.
Embora o pretexto para as sanções seja a agenda do clima e a proteção do meio ambiente, a verdade é que se trata de mais um capítulo da guerra comercial promovida pelos agricultores europeus, apoiados pelos seus eurodeputados, contra os concorrentes do Brasil e do resto do mundo.
É a nobre causa da preocupação com o aquecimento global servindo de espantalho para proteger a agricultura subsidiada cada vez mais dependente do socorro dos tesouros dos países europeus para sobreviver.
As sanções europeias são apresentadas no Brasil como derrota do atual governo, o que não deixa de ser verdadeiro, mas é acima de tudo uma derrota para o Brasil, pois a agenda neocolonial da Europa Ocidental e dos Estados Unidos não se limita no tempo ou no espaço ocupados pela interinidade dos governos e governantes.
O Brasil liderou uma reação reivindicando a ampliação da consulta aos governos estrangeiros, pois, segundo uma carta entregue aos eurodeputados, as sanções prejudicariam pequenos agricultores dos países atingidos.
Assinaram a carta, além do Brasil, Argentina, Equador, Peru, Colômbia, Paraguai, Malásia, Indonésia, entre outros países produtores agrícolas. O grupo considera as medidas unilaterais, discriminatórias e prejudiciais aos seus povos e aos seus interesses.
Adotadas às vésperas das eleições no Brasil, as decisões do Parlamento Europeu dividiram nosso País e impediram uma resposta à altura da ofensa e do prejuízo aos interesses nacionais. Enfraquecido e isolado no mundo, o governo brasileiro não encontrou aliados suficientes para impedir a resolução europeia e o Brasil dividido às vésperas das eleições não contou com uma ampla faixa da oposição para fazer a defesa dos interesses nacionais, já que os opositores temiam que essa defesa ajudasse o adversário na disputa eleitoral.
O episódio demonstra que o futuro reserva para o Brasil desafios que só serão enfrentados caso o País esteja unido em torno de uma diplomacia independente de defesa dos interesses nacionais, o que está distante do cenário que se avizinha. Divididos em torno da agenda identitária e da guerra cultural e ideológica seremos presas frágeis e fáceis para os predadores das nossas riquezas. O Brasil precisa de união para proteger seus recursos naturais, seus interesses comerciais, sua agricultura, sua indústria e seu futuro. É possível vencer uma eleição dividindo o País, mas é muito difícil conseguir governá-lo depois. Que a lição seja aprendida.