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Ainda dá para adiar o fim do mundo? O que dizem os alertas sobre a saúde do planeta

Ima Vieira

O último trimestre de 2024 nos presenteou com uma sequência devastadora de notícias científicas que, juntas, pintam um quadro alarmante sobre a saúde do nosso planeta.

Em setembro, cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático trouxeram uma revelação chocante. Sete dos nove limites planetários fundamentais para a sobrevivência da vida como conhecemos já foram ultrapassados: o uso intensivo e desordenado do solo está destruindo habitats naturais; as mudanças climáticas elevam perigosamente a temperatura global; a biodiversidade desmorona em um ritmo sem precedentes; os ciclos de nitrogênio e fósforo estão desequilibrados; a água doce se torna cada vez mais escassa; e a poluição química, incluindo microplásticos, contamina cada canto do planeta. Apenas a camada de ozônio e os aerossóis atmosféricos ainda mantêm alguma estabilidade.

E o quadro fica mais sombrio. O Relatório Planeta Vivo 2024 do WWF nos trouxe outro diagnóstico devastador: em apenas 50 anos, perdemos 73% das populações de vida selvagem monitoradas. É como se, em apenas meio século, três quartos de todos os animais selvagens tivessem desaparecido de nossas florestas, rios e oceanos. Os ecossistemas de água doce foram os mais atingidos, com uma redução chocante de 85% de suas populações. 

A situação das árvores, fundamentais para a manutenção da vida na Terra, revelou-se ainda mais crítica do que se imaginava. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) apresentou, uma avaliação completa das árvores do mundo, e os números são aterradores: das 47.282 espécies avaliadas, pelo menos 16.425 estão em risco de extinção. Para dimensionar a gravidade desta descoberta, o número de árvores ameaçadas é mais que o dobro da soma de todas as espécies ameaçadas de aves, mamíferos, répteis e anfíbios juntas. Em 192 países, praticamente todo o planeta, há espécies de árvores à beira do desaparecimento.

Este não é apenas um número abstrato. Cada espécie de árvore que perdemos representa um elo crucial quebrado na cadeia da vida. As árvores são as verdadeiras arquitetas dos nossos ecossistemas: produzem oxigênio, regulam o clima, fornecem abrigo e alimento para inúmeras espécies, e ajudam a prevenir desastres naturais. Mas o ritmo da destruição ainda supera em muito os esforços de conservação.

Para completar este cenário sombrio, a Organização Meteorológica Mundial anunciou que as concentrações de gases de efeito estufa atingiram um novo recorde em 2023. O dióxido de carbono na atmosfera aumentou 11,4% em apenas 20 anos, atingindo níveis 151% superiores aos da era pré-industrial.

Enquanto os sinais de alerta se multiplicam, as respostas dos líderes mundiais continuam aquém da urgência necessária. As Conferências das Partes (COPs), tanto sobre clima quanto sobre biodiversidade, têm se transformado em rituais anuais de promessas vazias e compromissos não cumpridos. Desde o Acordo de Paris em 2015, as metas de redução de emissões estabelecidas pelos países permanecem insuficientes para conter o aquecimento global em 1,5°C, e mesmo essas metas modestas não estão sendo alcançadas.

A paralisia dos líderes mundiais tem um custo devastador. Cada ano de atraso em ações efetivas significa mais espécies extintas, mais ecossistemas destruídos e mais proximidade com pontos de não retorno climáticos. Então, ainda é possível adiar o fim do mundo? A resposta está em nossas mãos, mas o tempo está se esgotando rapidamente.

Estas quatro notícias juntas não são dados científicos isolados - são um grito de socorro do planeta. Precisamos de ações imediatas e drásticas para reverter este quadro: uma transformação completa em nossos sistemas de produção e consumo, proteção rigorosa dos ecossistemas remanescentes, e um compromisso global real com a redução de emissões de gases de efeito estufa.

As próximas COPs não podem ser mais um palco para discursos vazios - precisam ser marcos de mudança real, com compromissos verificáveis e consequências para seu descumprimento. A questão não é mais se devemos agir, mas sim com que urgência e intensidade vamos responder a este chamado desesperado do mundo por socorro.

*Pesquisadora Titular do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e Assessora da Presidência (FINEP)

 

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