Símbolo da festa, manto da Virgem é confeccionado com devoção e delicadeza
A escritora e poetisa Mízar Bonna está entre os vários católicos estilistas que receberam a missão de produzir, desenhar e criar a veste
Um dos principais e mais importantes símbolos da festividade do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, o manto, que “veste” a imagem peregrina durante a procissão que reúne milhares de pessoas na capital paraense, já foi confeccionado por vários católicos estilistas que receberam a missão de produzir, desenhar e criar o símbolo usado pela imagem de Nossa Senhora.
O trabalho da confecção do manto iniciou-se pelo grupo Filhas de Maria. Anos depois, a confecção foi assumida pela irmã Alexandra, da Congregação das Filhas de Sant’Ana. Ela confeccionava os mantos anualmente, com material doado por promesseiros. Após a sua morte, a criação passou para uma ex-aluna interna do Colégio Gentil Bittencourt, Sra. Esther Paes França, que chegou a confeccionar 19 mantos. A partir daí, vários católicos e estilistas famosos já receberam a importante tarefa de produzir o manto usado pela Imagem Peregrina para as procissões do Círio.
A escritora e poetisa Mízar Bonna, 85 anos, natural de Belém do Pará, também fez parte da criação de boa parte dos mantos de Nossa Senhora de Nazaré, entre os anos de 1995 e 2010. Quando ela e o marido, o engenheiro Evandro Bonna, foram convidados a integrar a Diretoria da Festa de Nazaré, sua participação na história do Círio ganhou muita importância.
A escritora conta como se sente fazendo parte da criação do símbolo tão querido pelos devotos. “Como católica, eu fui muito atuante atendendo aos chamados que foram feitos para servir a Igreja, desde os meus 11 anos de idade. Da minha parte, fiz o que foi possível”, contou.
Mízar conta que integra a organização da Festa de Nazaré desde 1975, quando ainda era formada apenas por homens. Disponível para fazer de tudo, ela diz que não era mulher de dar “talvez” como resposta. “Para as causa de Maria Santíssima, meus lábios sempre pronunciaram sim”, diz. Os trabalhos mais difíceis do dia a dia eram entregues a ela, porque tinha uma fama de “abelhuda”.
“Foi há 25 anos, quando meu esposo, após cirurgia de coração, era vigário do padre José Ramos e pediu para ofertar. E disse: ‘vou procurar quem crie, desenhe e quem borde. Busquei a inspiração sempre na Basílica de Nazaré e nomeei os mantos. O último foi ‘o manto da alegria’ com os periquitos da Praça Santuário. Criei 11. Meu esposo morreu em 2009 e eu só fiz mais um em 2010”, explicou a poetisa.
Dona Mízar conta como tudo se originou: “O manto se ocasionou do achado, a imagem foi encontrada com uma espécie de ‘capinha portuguesa’. É a capa que os portugueses usam na época de inverno. Então, esta capinha deu início do manto de Nossa Senhora. Os primeiros devotos faziam mantos, porque eles usavam lamparinas para iluminar na hora da reza, e escureciam os mantos. Depois que o grupo de pessoas mais ricas passou a participar da devoção, que formaram uma espécie de irmandade, aí ela já começou a aparecer com manto de brocado, tecidos que vinham da Europa”, relatou.
A escritora chegou a vestir a peregrina com 11 mantos que criou e desenhou, e possui uma relação de fé e devoção muito grande pelo Círio de Nossa Senhora de Nazaré. “Enquanto as preparações para o Círio aconteciam, não havia muito tempo para pensar, sobretudo, para sentir. Mas quando via passar a santinha na berlinda, era tomada por uma emoção que não conseguia explicar, esse momento era único, precioso e inigualável”, explica Mízar.
Inspirada no Círio, a escritora Mízar Bonna também coleciona diversas obras ao longo da sua trajetória com a temática Círio de Nazaré. Ao todo são 12 livros, sendo seis direcionados ao conteúdo da festa religiosa. São eles: “Círio-painel de vida”, “Dois séculos de fé”, “Corda do Círio: marca de fé”, “Círio de A a Z”, “A lenda da santinha”, “Meus 80 Círios”, além de dois livros de bolsos: “Maria seu povo e suas estórias” e “Ened Almeida Tri campeã de mantos belos”.
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