Quem é Plácido de Souza? Conheça o homem que encontrou a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré

Jornalista Mizar Bonna conta a história por traz do caboclo paraense 'responsável' pelo início do Círio de Nazaré

Gabriel da Mota
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Plácido José de Souza é um nome crucial na história do Círio de Nazaré. Segundo a tradição, foi ele quem encontrou a Imagem Original de Nossa Senhora de Nazaré, no início do século XVIII, às margens do igarapé Murutucu. O episódio, envolto em lendas e mistérios, é o ponto de partida para o surgimento de uma devoção que, com o tempo, se transformaria na maior manifestação da religiosidade paraense e brasileira.

A pesquisadora Mizar Bonna, escritora e jornalista especializada na história do Círio, traz luz sobre essa figura histórica, muitas vezes envolta em equívocos e interpretações errôneas. "Plácido era um caboclo paraense, descendente de uma das primeiras famílias colonizadoras do Pará", explica Mizar.

"Era casado com Ana Maria de Jesus, e juntos viviam em um sítio, dedicando-se a diversas atividades típicas da época, como a caça, a pesca e a agricultura. Não era um homem pobre, como muitos pensam, mas sim um proprietário de terras, o que o colocava em uma posição de destaque na sociedade da época".

A história do encontro da Imagem é carregada de simbolismo e, ao mesmo tempo, alvo de várias versões e mitos que foram se consolidando ao longo dos séculos. "Há quem diga que Plácido encontrou a Imagem com a ajuda de um cachorro, que teria latido incessantemente até ele se aproximar do local. Essa versão foi construída, provavelmente, para agradar quem valoriza histórias envolvendo animais", comenta Mizar, com tom crítico. Outra versão popular sugere que a imagem foi encontrada em meio à lama — uma clara mistura com a história de Nossa Senhora Aparecida. 

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A tradição do manto remonta ao achado da imagem de Nossa Senhora de Nazaré pelo caboclo Plácido, nas margens do igarapé Murucutu

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Iniciativas como da Casa de Plácido, além de instituições como a Cruz Vermelha do Pará e do TJPA oferecem suporte, distribuídos ao longo de diferentes trechos entre Belém e Ananindeua

De acordo com Mizar Bonna, essas narrativas populares não correspondem aos fatos históricos. "O mais provável é que a Imagem tenha sido colocada ali intencionalmente por alguém que já conhecia seu valor. A água corrente do igarapé era vista como uma bênção, e o local escolhido, entre pedras, reforça essa ideia de um lugar seguro e sagrado", explica. Ela também destaca que a imagem foi posteriormente restaurada em Portugal e voltou a Belém com grande pompa, sendo recebida com um desfile que seria uma espécie de precursor do que mais tarde se tornaria o Círio de Nazaré.

Outro ponto que Mizar faz questão de esclarecer é a relação de Plácido com o Círio.

"Há quem afirme que Plácido assistiu ao primeiro Círio, o que é impossível, já que ele teria, na ocasião, mais de 140 anos de idade!", brinca a pesquisadora.

De fato, o Círio, tal como o conhecemos hoje, só começou a ser celebrado oficialmente em 1790, muito tempo depois de Plácido ter encontrado a imagem. A demora se deveu à necessidade de uma autorização formal da Coroa Portuguesa e da Santa Sé para que a devoção pudesse ser instituída em Belém.

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A imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que se tornou Padroeira do Pará, ocupa um papel central na identidade religiosa e cultural da região. Contudo, como Mizar ressalta, há muitas nuances a serem compreendidas. "Belém deveria ter como padroeira Nossa Senhora de Belém, conforme a escolha feita pelos reis de Portugal e pela Santa Sé. No entanto, o fundador da cidade, que era devoto de Nossa Senhora da Graça, acabou mudando os planos ao construir uma capela dedicada à sua devoção pessoal, no Forte do Castelo", conta a pesquisadora. 

Essa particularidade histórica contribuiu para a rica e complexa devoção mariana que se desenvolveu em Belém, onde Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora de Belém e Nossa Senhora de Nazaré coexistem no imaginário religioso da população. "O curioso é que a Paróquia de Belém é dedicada a Nossa Senhora da Graça, mas a padroeira oficial da cidade é Nossa Senhora de Belém, enquanto Nossa Senhora de Nazaré é padroeira de todo o estado do Pará", explica Mizar, destacando a importância de entender esses detalhes para melhor apreciar a história do Círio.

Por fim, Mizar Bonna reflete sobre a importância de Plácido na perpetuação dessa devoção. "Ele foi mais que um simples achador da imagem. Plácido e sua esposa Ana Maria de Jesus fazem parte de um capítulo fundamental da história do Pará. E é essencial que reconheçamos sua dignidade e a profundidade de sua fé, que não estava ligada à pobreza, como muitos acreditam, mas à humildade de coração", conclui a pesquisadora. 

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