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Paixão por documentar o Círio fez nascer o projeto visual ‘Mãos de Outubro’

Videomaker paraense se mudou para o Rio de Janeiro mas volta, todos os anos, a Belém para registrar a Festa de Nazaré

Gabriel da Mota

Desde a infância, o videomaker e pesquisador paraense Vitor Souza Lima, 39, já se encantava com a estética singular do Círio. Começou fotografando o evento com sua primeira câmera de filme e, ao longo dos anos, assumiu o compromisso profissional de explorar novas formas de documentar as diversas expressões da Festa de Nazaré. Em 2008, o curta-metragem “Mãos de Outubro”, de sua autoria, foi a semente de um projeto que atualmente pode ser acompanhado nas mídias sociais YouTube e Instagram.

“Eu venho de uma família de formação católica, então estar no Círio e em outras procissões religiosas sempre foi uma vivência minha”, diz Vitor. Segundo ele, a proximidade com a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, especialmente durante o Traslado para Ananindeua, no início dos anos 2000, permitia capturar momentos únicos. “Naquela época, eu conseguia chegar a um metro [de distância] da Imagem ou até menos”, relembra.

A transição da fotografia para o cinema ocorreu quando Vitor percebeu a necessidade de expandir suas habilidades visuais. “Eu queria fazer Cinema, mas não tinha esse curso aqui. Então fui fazer Artes Visuais, alguns cursos de documentário, de curta-metragem e de criação de projetos”. Foi durante essa fase que nasceu “Mãos de Outubro”, seu primeiro curta-metragem, que explora a predominância das mãos nas expressões de fé durante o Círio. O filme abriu portas para festivais de prestígio, como o "É Tudo Verdade", onde recebeu dois prêmios.

Com o tempo, o videomaker, que também é pesquisador da temática nazarena, reconheceu a importância de documentar o Círio de maneira mais estruturada, tanto histórica, quanto contemporânea.

“Eu comecei a sentir falta do registro das coisas do Círio de maneira mais sistemática. Você entra no site oficial do Círio, nas agências, e existe um acervo imagético mas não tem identificação do ano daquilo. Assim, as coisas vão se perdendo”, analisa.

Vitor se mudou para o Rio de Janeiro em 2011 e, desde então, retorna à capital paraense a cada outubro para viver e registrar o Círio.

Uma parceria com a Guarda de Nazaré permitirá, em 2024, o acesso privilegiado a áreas geralmente restritas durante a procissão. “Nas romarias finais do Círio do ano passado, eles vieram perguntar se eu topava registrar algumas coisas pra eles. Esse ano, eu vou estar junto com a Guarda, com esse intuito de registrar mais de perto esse trabalho é feito”, comenta.

Quanto aos seus próximos projetos, Vitor mantém um olhar atento sobre os personagens e os momentos ainda não registrados. Ele expressou o desejo de criar um documentário detalhado sobre o histórico da berlinda de Nossa Senhora de Nazaré, destacando os artistas e suas histórias. “O Círio é cheio de segredos e expectativas. E as pessoas querem saber sobre esse processo, nem que seja depois”, afirma.

Ao refletir sobre o significado do Círio de Nazaré, o artista visual vê a festa como um momento de renovação espiritual e de união entre pessoas de diferentes crenças. “Nossa Senhora é uma luz, no sentido da espiritualidade mesmo. Ela rege essa cidade e as pessoas que moram aqui, e isso nunca se apaga”, conclui.

A cobertura do Círio 2024 em O Liberal tem o apoio do Instituto Cultural Vale e o patrocínio da Bet.Bet.


Círio 2024