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Veja como é feita a corda do Círio de Nazaré; objeto que liga promesseiros é produzido no Pará

Desde 2023, a corda da Trasladação e da grande procissão de domingo é produzida em Castanhal, na região nordeste do Pará

Gabriel da Mota

Anteriormente produzida no estado de Santa Catarina com fibras de sisal, desde 2023, a corda do Círio de Nazaré é fabricada em território paraense, mais precisamente na cidade de Castanhal, região nordeste do Estado, com fibras amazônicas. Para a gerente industrial da empresa encarregada da missão, Rita Queiroga, o trabalho vai além de um simples processo fabril.

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"Produzir a corda, o segundo símbolo mais importante do Círio, é diferente. É com sentimento, é com outra motivação", afirma a funcionária que trabalha há 38 anos na confecção têxtil e é a primeira mulher no cargo.

A fabricação do objeto que liga os promesseiros de Nazaré à berlinda começa com a fibra de malva, planta oriunda da região bragantina, cuja cobertura do caule passa por vários estágios de processamento para se transformar no fio que, posteriormente, será torcido e unido para formar a corda. "O processo inclui amaciar a fibra com óleo de palma, um produto típico da região, o que torna a corda mais flexível e confortável para os romeiros que a puxam durante a procissão", explica Rita. Ela também destaca a diferença entre a corda de malva e a de sisal, utilizada anteriormente: "A malva é menos abrasiva e machuca menos as mãos dos participantes”.

A preparação começa cedo, por volta de fevereiro, e inclui todas as etapas, desde a preparação da matéria-prima até o fio acabado. "A corda é dividida em lotes de 30 a 50 metros, já prontos com as argolas necessárias para a procissão", explica Rita. O transporte da corda para Belém é feito de maneira cuidadosa para evitar qualquer dano. "No ano passado, o caminhão que transportava a corda foi decorado especialmente, mas, como este ano já temos mais experiência, o transporte foi mais convencional, embora com o mesmo cuidado na embalagem para garantir que a corda tenha chegado em perfeitas condições", afirma.

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Aprimoramento

A produção da corda pela Companhia Têxtil de Castanhal (CTC) começou como um experimento. "Nós não visitamos o processo de produção da corda de sisal, mas criamos nosso próprio método a partir da demanda da procissão e das características da malva", detalha Rita. A companhia precisou realizar inúmeros testes para garantir que a corda resistisse às tensões extremas que enfrenta durante o evento. "Simulamos essas tensões com equipamentos especializados, puxando a corda em direções opostas para avaliar sua resistência e flexibilidade", explica. 

Para evitar o rompimento — problema ocorrido na saída da Trasladação do ano passado por conta de um deslize na amarração feita entre as partes da corda e as estações metálicas —, representantes da empresa participaram, no último dia 28 de setembro, da revisão de argolas e nós. Até então, o procedimento era sempre feito em conjunto pela Guarda de Nazaré e Diretoria da Festa de Nazaré (DFN). 

Na fábrica, cerca de 600 funcionários se envolvem diretamente na produção da corda, embora o número total de pessoas impactadas pelo processo seja muito maior, considerando os agricultores que plantam e colhem a malva. Segundo Rita, muitos deles, que antes participavam do Círio apenas como romeiros, agora sentem que contribuem de forma tangível para um dos maiores símbolos da fé paraense.

Além da corda utilizada na procissão principal, a Companhia Têxtil de Castanhal está desenvolvendo souvenirs a partir dos materiais remanescentes. "Estamos trabalhando em itens que permitirão às pessoas levar um pedaço da corda do Círio para casa, como lembrança da sua fé e devoção", conta Rita. Esses produtos, ainda em fase de desenvolvimento.

O impacto de utilizar materiais amazônicos na produção da corda também é algo que Rita faz questão de destacar. "É um orgulho usar a malva e a juta, que são produtos típicos da Amazônia. Isso não só valoriza os recursos da nossa região como também mantém viva uma tradição que é nossa", conclui.

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Da matéria-prima ao transporte a Belém

1. Seleção da matéria-prima

A malva é a principal fibra utilizada na corda do Círio. Suas raízes precisam secar à beira do rio, pelo período aproximado de uma semana, antes de serem agrupadas em fardos para transporte até a fábrica. Além da malva, fios de juta dão resistência à composição. 

2. Amaciamento

Na fábrica, os fardos são desmanchados (processo de embonecamento) para se tornarem fileiras a serem amaciadas com óleo de palma, tornando-as mais flexíveis.

3. Transformação em fio

Os estágios de processamento da fibra, até se tornarem linhas, incluem penteagem (paralelização dos fios) e tratamento com emulsificante para retirar as impurezas. São necessárias 72 horas de descanso antes de entrar na cardagem (continuação da abertura das fibras para dispô-las de forma uniforme). Após o terceiro passador, as fibras viram fitas, o último estágio antes de virar carretel.

4. Torção

Os fios são torcidos e unidos para formar lotes de 30 a 50 metros de corda.

5. Revisão de segurança

A corda é conectada a dois caminhões, sendo utilizada para rebocar um deles. O teste busca simular condições extremas de tração para garantir sua resistência e flexibilidade.

6. Transporte para Belém

A corda é cuidadosamente transportada para Belém, a cerca de 40 dias do Círio de Nazaré, em lotes de 30 a 50 metros. Duas cerimônias são realizadas: uma para entrega do produto, em Castanhal; e outra para recebimento, na Estação Padre Luciano Brambilla, no Centro Social de Nazaré.

7. Revisão final

Em Belém, duas semanas antes das procissões da Trasladação e do Círio, as argolas e nós da corda são revisados. É quando é feita a amarração dos lotes uns aos outros e às cinco estações metálicas, que agrupam os promesseiros em uma espécie de gradil, ao longo dos 400 metros de corda em cada uma das procissões.

Círio 2024