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Em Abaetetuba, produção dos brinquedos de miriti chega à reta final para o Círio 2024

500 artesãos da capital mundial do miriti devem vir a Belém participar da festa da Padroeira do Pará

Gabriel da Mota

A produção dos brinquedos de miriti para o Círio de Nossa Senhora de Nazaré é uma tradição que carrega em suas fibras a cultura e a religiosidade do povo paraense. Essa prática, enraizada principalmente no município de Abaetetuba — capital mundial do miriti —, é realizada por artesãos que dedicam o ano inteiro a esculpir, pintar e dar vida a peças que se tornaram símbolos da festividade. A pouco mais de um mês para o Círio 2024, cerca de 500 profissionais finalizam seus artefatos para comercializar entre os dias 9 e 13 de outubro em estandes que serão montados na Praça Dom Pedro II, no bairro da Cidade Velha, em Belém.

Produção dos brinquedos de miriti para o Círio 2024

A fabricação desses brinquedos começa logo após o Círio do ano anterior. “A produção não pode parar. Quando termina um ano, já começamos a trabalhar para o próximo”, conta Rivaildo Peixoto, conhecido como Mestre Riva, presidente do Instituto Multicultural Miritis da Amazônia (IMMA). Diferente de décadas atrás, quando a produção era sazonal, hoje o trabalho é constante devido à demanda crescente, tanto local quanto internacional. “Nossa maior vitrine ainda é o Círio de Belém, mas o mercado agora é mundial”, explica Riva.

image Rivaildo Peixoto, o "Mestre Riva", mostra uma arara vermelha feita de miriti (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

Os brinquedos de miriti são feitos a partir da madeira leve da palmeira de miriti, encontrada em abundância nas ilhas da Amazônia. O processo de extração é sustentável, respeitando o ciclo natural da palmeira. A madeira é coletada na fase certa da lua, permitindo que a árvore se recupere rapidamente. Após a colheita, o material passa por um processo de secagem que leva algumas semanas, garantindo que mantenha sua leveza e características únicas.

Entre os brinquedos mais tradicionais, destacam-se barcos, pássaros, tatuzinhos, pombinhas e figuras que representam o cotidiano amazônico. “Os tradicionais sempre serão nossos carros-chefe, porque representam nossa realidade aqui em Abaetetuba”, explica Riva. Além disso, há peças específicas para pagamento de promessas, como barcos em miniatura, membros do corpo humano e réplicas de casas. Essas peças são usadas pelos fiéis como agradecimento por graças alcançadas junto à Virgem de Nazaré, reforçando a ligação entre a arte de miriti e a devoção religiosa.

A produção desses brinquedos é minuciosa e envolve várias etapas. Começa com o manejo da palmeira de miriti e segue com a preparação da madeira, passando pelo entalhamento, acabamento e pintura. “Cada peça tem um significado e uma história própria. A pintura, por exemplo, é considerada a alma do brinquedo, pois é ela que dá vida às cores vibrantes que encantam os olhos de quem as vê”, comenta Riva.

image Raimundo Peixoto, o "Mestre Diabinho", fabrica uma escultura feminina feita de miriti (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

Raimundo Peixoto, conhecido como Mestre Diabinho, é um dos artesãos mais antigos de Abaetetuba, com 51 anos de experiência. Ele relata como a produção de miriti se tornou parte essencial de sua vida. “Eu comecei trabalhando como padeiro e confeiteiro, mas fui me apaixonando pelo miriti. Hoje, dedico todo o meu tempo a essa arte”, conta Diabinho, que aprendeu o ofício após casar-se com uma mulher de uma família centenária na fabricação de miriti.

A produção de brinquedos para o Círio é também um negócio familiar. Diabinho, por exemplo, envolve sua esposa e filhos no processo, além de contar com a ajuda de outros artesãos para cumprir as encomendas. “Neste ano, estou produzindo cerca de 600 peças, variando entre cobras, rodas gigantes e passarinhos, sempre pensando no que será mais procurado durante o Círio”, explica.

Os brinquedos de miriti são vendidos a preços variados, que vão de R$ 20 para peças menores até R$ 15 mil para peças mais elaboradas. A venda ocorre principalmente na Feira de Miriti, em Belém, mas também há encomendas feitas ao longo do ano. “A demanda é tão grande que muitos artesãos precisam trabalhar o ano todo para dar conta dos pedidos”, afirma Diabinho.

O miriti, além de seu valor cultural e religioso, também tem um impacto econômico significativo na região. O Festival do Miriti (MiritiFest) e outras feiras que ocorrem ao longo do ano ajudam a sustentar diversas famílias e mantêm viva essa tradição centenária. “Hoje, o miriti não é apenas uma forma de arte, mas também uma fonte de sustento para muitas famílias”, destaca Diabinho.

Para muitos artesãos, como Riva e Diabinho, o Círio e a produção de brinquedos de miriti representam muito mais do que um trabalho. “Do artesanato de miriti, eu consegui tudo. Tenho minha boa casa, tenho meu carro. Graças a Deus, eu vivo bem. Então, o Círio, para mim, representa tudo. Só de chegar lá já é uma benção”, resume Diabinho, emocionado.

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