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Cartazes do Círio estampam transformações de Belém; conheça a história das peças

Um levantamento liderado por Anselmo Paes, curador do Museu do Círio, busca documentar quais peças

Gabriel da Mota

O Museu do Círio, inaugurado em 1986, é um repositório da rica tradição da maior festa religiosa e cultural do Pará, o Círio de Nazaré. Anselmo Paes, curador do museu, tem se dedicado a uma investigação detalhada sobre os cartazes do Círio, que são peças fundamentais na representação visual e simbólica desse evento. Uma das descobertas mais significativas feitas por Anselmo Paes e sua equipe foi a aquisição de um cartaz de 1878, considerado o mais antigo registro gráfico do Círio.

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Este cartaz, segundo Paes, é um marco importante na história da religiosidade paraense. "O cartaz de 1878 é um verdadeiro achado. Ele traz elementos que conectam a devoção portuguesa com a fé paraense e marca um momento de tensão e transformação na história do Círio", explica Paes.

Além de sua antiguidade, o cartaz de 1878 destaca-se por seus elementos iconográficos. Ele apresenta a imagem de Nossa Senhora de Nazaré sentada, semelhante à devoção portuguesa, e ilustrações de milagres importantes, como o salvamento de D. Fuas Roupinho, figura nobre portuguesa. "Este cartaz é quase um ex-voto, uma oferenda votiva que registra milagres e aproxima os devotos da imagem sacra de Nossa Senhora de Nazaré", destaca o curador.

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Anselmo Paes também descreve a evolução estilística dos cartazes ao longo do tempo. Segundo ele, existem três grandes momentos na história dos cartazes do Círio. O primeiro momento, no século XIX, caracteriza-se por um estilo mais próximo das imagens sacras devocionais. No século XX, há uma diversidade maior de suportes e formatos, incluindo cartazes produzidos por empresas e jornais locais, que presentearam seus fregueses e leitores com essas peças gráficas.

Já no século XXI, a partir da década de 1990, observa-se uma maior homogeneização dos cartazes, com um controle maior da imagem e da mensagem, refletindo uma profissionalização da comunicação visual do evento. "O cartaz do Círio evoluiu de uma representação devocional para uma peça gráfica mais homogênea e controlada, refletindo a necessidade de uma imagem oficial do evento", analisa Paes.

Uma curiosidade apontada por Paes é a ausência de documentação oficial sobre muitos cartazes antigos do Círio. Essa lacuna motivou o museu a iniciar uma investigação mais aprofundada e a fazer um chamado à comunidade para ajudar na identificação e preservação desses materiais.

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"Muitos cartazes do século XX não têm registro no museu. Isso nos leva a questionar quem pode ter guardado esses cartazes e onde eles estão hoje. É um convite para que as pessoas que possuam essas peças raras entrem em contato conosco", convoca o curador.

Além das peças preservadas no museu, Paes destaca a presença viva dos cartazes do Círio nas ruas, nas janelas das casas, e nos comércios de Belém. "Os cartazes do Círio são uma parte essencial da vida cotidiana paraense. Eles não apenas decoram, mas também simbolizam afeto e devoção, sendo uma extensão da fé e da tradição", explica. Ele também menciona a prática comum entre devotos de personalizar seus cartazes, adicionando toques pessoais para aproximá-los ainda mais da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

O Museu do Círio continua a expandir sua coleção e busca novas maneiras de conectar o público com a história. Anselmo Paes convida todos os interessados a visitar o museu, tanto fisicamente quanto virtualmente, através da página dos museus paraenses, onde é possível explorar a história dos cartazes e outros elementos significativos do Círio de Nazaré. "A história dos cartazes do Círio ainda tem muito a revelar. Cada cartaz é uma janela para o passado e um reflexo da devoção e criatividade do povo paraense", finaliza.

Círio 2024