Auto do Círio 2024: diretora geral diz que evento já tem uma estrutura sólida:'pronto para celebrar'
Além de celebrar o Círio, o Auto também reflete sobre a importância do patrimônio histórico e cultural de Belém
O Auto do Círio, realizado na noite desta sexta-feira (11/10) na Praça do Carmo, em Belém, reuniu arte, música, teatro e dança em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré. Em sua 30ª edição, o evento consolidou-se como uma manifestação cultural significativa no Círio de Nazaré, contando com a participação de artistas que desfilam pelas ruas da capital paraense representando personagens ligando a cultura local à tradição religiosa. A manifestação contou com a presença ilustre de Alba Mariah e Zélia Amador.
Inês Ribeiro, diretora geral do Auto e responsável pela direção cênica, destacou a evolução do evento ao longo dos anos. “O Auto do Círio já adquiriu uma dinâmica própria. Ao longo desse tempo, com tanto planejamento e organização, ele desenvolveu uma estrutura sólida, permitindo que tudo siga de forma natural”, afirmou. Para Inês, esse amadurecimento do evento é fruto do esforço coletivo: "Hoje, estou tranquila, porque houve muito trabalho prévio. Agora, o Auto do Círio está pronto para celebrar junto com a população".
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Além de celebrar o Círio, o Auto também reflete sobre a importância do patrimônio histórico e cultural de Belém. Segundo a diretora, o evento envolve artistas locais e até estrangeiros, o que contribui para sua expansão e defesa do patrimônio histórico. “O Auto do Círio se expandiu como uma defesa do nosso patrimônio, e hoje também é uma luta ecológica, associada à Nossa Senhora, aquela que nos alimenta”, explicou.
Inês também compartilhou uma memória pessoal que conecta sua vida à Nossa Senhora de Nazaré. Durante um banho na Praia do Farol, em Mosqueiro, onde treinava como atleta da Seleção Brasileira de Atletismo, ela enfrentou uma situação de quase afogamento. “Me lembro de cair em um canal na Praia do Farol, sem saber nadar. Me debati muito, até que afundei. Nesse momento, tive uma visão, como se estivesse em uma conexão profunda com algo maior, e senti como o mundo é pequeno e repleto de ilusões", contou.
"Quando eu desisti, vi uma mulher imensa com muitas flores. Eu olhei e era Nossa Senhora, uma gigante muito maior do que todos nós. Ela me deu as mãos, e, quando ela fez isso, fui puxada de volta por um casal de negros que me salvou e me entregou para o meu técnico de atletismo", relatou.
Entre os participantes, cada fantasia e interpretação carrega um significado especial, conectando elementos da espiritualidade, história e tradição local.
Cassius de La Cruz, diretor da Casa de Cultura e Flamenco, participa há três anos do Auto do Círio com seu grupo, usando vestimentas ciganas. Ele destaca o convite para representar a espiritualidade por meio da figura do povo cigano.
Ele mencionou a preparação intensa para o evento, que inclui ensaios aos fins de semana e noites alternadas. "O povo cigano é muito forte na fé, e Santa Sara Kali, essa imagem feminina, agrega esse lado espiritual junto ao momento que nossa cidade, Belém do Pará, vive com as bênçãos de Nossa Senhora", acrescentou.
Jorge se fantasiou para homenagear o caboclo Plácido que encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré (Carmem Helena / O Liberal)
Jorge Monteiro, analista contábil, participa do Auto do Círio há 24 anos consecutivos. Para a grande noite, ele decidiu se vestir como o caboclo Plácido, o homem que encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
Jorge explica a importância de sua fantasia: "Demorou 90 anos depois que Plácido achou a imagem para acontecer o primeiro Círio. Ele estava construindo a capela, mas não conseguiu terminar e nem ver o primeiro Círio, pois já havia falecido. É uma homenagem mais do que justa, uma renovação e justificação da fé".
O traje dele incluía um adorno que representa Plácido sob o manto de Nossa Senhora, simbolizando que todos estão acolhidos por sua proteção.
Joyce Barros, que participa do Auto do Círio há vários anos, retorna à celebração vestida de garça, inspirada na música de Dona Onete.
"Escolhi a garça por conta da música da Dona Onete, que tem tudo a ver com nossa cultura e o Ver-o-Peso", disse Joyce.
Para ela, a importância de sua fantasia está na preservação das tradições culturais da cidade. "É justamente para não deixar a cultura morrer, porque fala um pouco dos nossos costumes, nossas danças”, disse.