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Atual berlinda do Círio completa 60 anos; conheça a história de um dos símbolos nazarenos

Criada por João Pinto nos anos 1960, a quinta berlinda da história nazarena recuperou um estilo que já havia sido utilizado no século XIX

Gabriel da Mota
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Em 2024, a berlinda que transporta a imagem de Nossa Senhora de Nazaré nas procissões da Trasladação e do Círio completou 60 anos. Criada em 1964 pelo renomado escultor paraense João Pinto Martins, essa peça de arte sacra tornou-se um ícone do Círio de Nazaré, preservando uma tradição que remonta ao século XIX. No entanto, o historiador Aldrin Figueiredo, professor do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA) alerta para imprecisões históricas sobre o Círio, especialmente no que diz respeito à introdução da berlinda na procissão.

A berlinda, como explica Figueiredo, tem origem no termo alemão "Berline", que designava uma carruagem leve de quatro rodas, concebida para Frederico Guilherme I de Brandemburgo no século XVII. "Já no século XVIII, esse transporte caiu no gosto português por vários motivos", relata o historiador. No Pará, o termo e o uso da berlinda se difundiram já na primeira metade do século XIX, sendo utilizada tanto para o traslado de imagens sacras quanto para transportar autoridades e pessoas abastadas. "Encontrei até sátiras jornalísticas falando de prisioneiros e malfeitores fugindo na sua 'berlinda'", comenta Figueiredo.

A crença popular de que a berlinda foi incorporada ao Círio em 1882, por iniciativa do bispo D. Antônio de Macedo Costa, é contestada por Figueiredo, que encontrou registros de imprensa mencionando a berlinda já na década de 1850. Segundo ele, a berlinda entrou na procissão ao mesmo tempo que a corda, que puxa o carro onde a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é transportada. "Muito provavelmente a berlinda entra no Círio junto com a corda, porque quando o Círio é criado, o governador vinha em uma liteira, aqueles palanquins, ou poderia vir montado a cavalo", observa o historiador.

Figueiredo ressalta ainda que, na origem do Círio, em 1793, a imagem da santa era transportada nas mãos ou no colo do governador ou do capelão do palácio, dentro de uma liteira fechada, conduzida por homens que se revezavam durante o cortejo. O historiador também chama atenção para o pouco explorado papel militar na organização das procissões no século XIX. "Na década de 1860, os batalhões de infantaria da Guarda Nacional formavam a brigada que acompanhava e guardava a berlinda com a imagem da Virgem de Nazaré", explica.

Já no século XX, diversas tentativas de modernizar a berlinda foram realizadas, com algumas sendo rejeitadas pela população. "Houve tentativas de modernizar a berlinda nos anos de 1950, em modelos de ferro e alumínio, amplamente rejeitados pela população", relembra Figueiredo. Isso culminou na criação da atual berlinda, desenhada por João Pinto Martins, que recuperou o estilo barroco das procissões mais antigas. "Na década de 1960, João Pinto Martins era já reconhecido como o mais importante escultor, artista, principalmente da escultura, na cena artística de Belém", observa Figueiredo. O escultor tinha um trabalho conhecido por visitar outros estilos, incluindo o barroco, o que tornou sua escolha para a confecção da nova berlinda natural. 

A berlinda desenhada por João Pinto dialoga diretamente com modelos de berlindas portuguesas, como as da Casa Real de Bragança, presentes no Museu dos Coches, em Lisboa, e no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Essa recuperação do estilo barroco reflete a conexão umbilical entre a colônia portuguesa no Pará e a aristocracia lusitana. 

Em 2012, a berlinda passou por uma nova atualização, ganhando uma cobertura em folhas de ouro e um sistema de iluminação em fibra ótica. Essa intervenção trouxe mais leveza e harmonia à peça, com luzes brancas no interior, simbolizando a pureza de Nossa Senhora, e luzes amarelas no exterior, destacando os contornos e relevos artísticos da obra.

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Círio 2024
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