Vinícolas gaúchas podem ser responsabilizadas por trabalho análogo à escravidão
Mais de 200 pessoas foram resgatadas em operação no município de Bento Gonçalves
As vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora podem ser responsabilizadas pelo caso dos mais 200 trabalhadores resgatados de condições de trabalho análogas à escravidão na última quarta-feira (23), no município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
A afirmação é do gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego em Caxias do Sul (RS), Vanius Corte.
As três vinícolas utilizavam os serviços terceirizados de uma empresa de apoio administrativo, mas, segundo Corte, também foram beneficiárias diretas do trabalho análogo à escravidão.
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"As pessoas que foram beneficiadas por esse serviço também podem ser responsabilizadas. A gente chama isso de responsabilidade subsidiária. Primeiro, o empregador tem a responsabilidade. Se ele não pagar, as pessoas que trabalharam em determinada vinícola, que prestaram o serviço lá, podem cobrar, e nós vamos chegar nesse ponto, dessa vinícola que se beneficiou desse trabalho", afirma.
Relatos de violência
Corte pontua que os relatos das vítimas feitos ao Ministério do Trabalho e Emprego incluem episódios de violência física.
Um dos trabalhadores contou que saiu da Bahia para trabalhar na colheita da uva com outros colegas.
A promessa era de salários superiores a R$ 3 mil, além de acomodação e alimentação.
No entanto, ao chegarem no Rio Grande do Sul, os trabalhadores enfrentavam atrasos nos pagamentos dos salários, longas jornadas de trabalho, oferta de alimentos estragados e violências físicas, que incluíam choques elétricos e uso de spray de pimenta.
Além dos alojamentos insalubres, havia um sistema de aviamento, na qual o funcionário fica refém de eternas dívidas impostas pelo próprio contratante.
Neste caso, a alimentação era comprada em um mercadinho que vendia fiado.
"O empregado ficava sempre devendo e não conseguia sair sem pagar a conta, não recebia o salário e ficava essa situação, de ficar preso no local por conta da dívida", diz Corte.
Vinícolas se pronunciam
Todas as vinócolas disseram se solidarizar com as vítimas em notas distribuídas para a imprensa.
A Salton disse repudiar o fato, mas o apontou como um caso isolado.
A empresa disse que também irá reforçar os controles de contratação de serviços terceirizados.
A Garibaldi disse que desconhecia os crimes relatados e que o contrato com a empresa foi encerrado.
A empresa diz esperar a apuração dos fatos para avaliar novas ações.
Já a Aurora disse que repassa à empresa terceirizada um valor acima de R$ 6,5 mil ao mês por trabalhador, acrescidos de eventuais horas extras prestadas.
"Além disso, todo e qualquer prestador de serviço recebe alimentação de qualidade durante o turno de trabalho, como café da manhã, almoço e janta", diz a empresa.
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