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Universidade brasileira relata tratamento que elimina HIV de paciente

Depois de descobrir o uso das novas drogas, os pesquisadores desenvolveram uma espécie de vacina

Agência Estado

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizaram um estudo em escala global com pessoas infectadas pelo HIV e conseguiram eliminar o vírus do organismo de um paciente brasileiro de 34 anos que teve o diagnóstico em 2012. A pesquisa será apresentada nesta terça-feira, 7, na 23.ª Conferência Internacional de Aids, o maior congresso sobre o tema do mundo.

De acordo com a universidade, os resultados representam mais um avanço nas pesquisas que, um dia, podem levar à descoberta da cura da aids. Este é o terceiro caso na história em que a eliminação do HIV é descrita.

Coordenada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da instituição, a pesquisa da Unifesp contou inicialmente com 30 voluntários que apresentavam carga viral do HIV indetectável no organismo e faziam tratamento padrão com coquetéis antirretrovirais. Eles foram divididos em seis grupos e cada um recebeu uma combinação de medicamentos, além do tratamento padrão.

O grupo que apresentou melhor resultado recebeu dois antirretrovirais a mais que os outros: uma droga mais forte chamada dolutegravir e o maraviroc, que "força" o vírus a aparecer, fazendo com que ele saia do estado de latência, uma espécie de esconderijo no organismo. Ainda segundo a Unifesp, outras duas substâncias prescritas potencializaram os efeitos dos medicamentos, a nicotinamida e a auranofina.

Mas a pesquisa em torno de um tratamento eficaz contra o HIV não parou por aí. Depois de descobrir o uso das novas drogas, os pesquisadores desenvolveram uma espécie de vacina com as chamadas células dendríticas (células imunes), que conseguiu "ensinar" o organismo a encontrar as células infectadas e destrui-las.

O tratamento foi realizado durante um ano e depois de 14 meses o vírus continua sem ser detectado no organismo do paciente. "Esse caso é extremamente interessante, e eu realmente espero que possa impulsionar mais pesquisas sobre a cura do HIV", disse Andrea Savarino, médica do Instituto de Saúde da Itália que co-liderou o estudo.

Andrea alertou que os outros quatro pacientes do grupo que recebeu a mesma medicação não tiveram o vírus eliminado do organismo. "Pode ser que o resultado não seja passível de reprodução. Este é um primeiro estudo, que precisará ser ampliado."

A Conferência Internacional de Aids é organizada pela Sociedade Internacional de Aids (International Aids Society, ou IAS, em inglês) a cada dois anos e tem apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). O evento, que debate descobertas científicas sobre o HIV no mundo todo, ocorreria neste ano em San Francisco, nos Estados Unidos, mas será realizado de maneira virtual por causa da pandemia.

A pandemia do coronavírus também está afetando a distribuição de medicamentos para pacientes do HIV ao redor do mundo. Nesta segunda-feira, 6, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 73 países alertaram que correm o risco de ficar sem antirretrovirais. Vinte e quatro países relataram que estão com baixo estoque e sofrem com interrupções no fornecimento desses medicamentos que salvam vidas.

Os dois outros casos descritos na ciência

Outros dois casos de pacientes que tiveram o HIV eliminado do organismo são descritos pela ciência.

O pioneiro foi o do americano Timothy Ray Brown, hoje com 54 anos, que, além de HIV, também tinha leucemia. Para superar a doença, após sessões de quimioterapia sem grandes efeitos, a equipe médica realizou um transplante de medula.

O HIV precisa de uma proteína presente no sangue para se reproduzir e algumas pessoas não a produzem, em razão de uma rara mutação genética que as deixa imunes ao vírus. A estratégia - inédita e certeira - foi encontrar um doador que se encaixasse nesses parâmetros, para destruir o sistema imunológico original e criar um novo mecanismo de defesa para eliminar o vírus.

Após vencer o HIV, em 2007, Brown ficou conhecido como "paciente de Berlim", já que vivia na cidade alemã. Para combater a leucemia, o americano precisou de um novo transplante de medula, do mesmo doador. Cerca de 12 anos depois, a estratégia da doação de medula voltou a dar certo, dessa vez em um paciente de Londres. Os cientistas descreveram o caso como "remissão em longo prazo".

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