Toda semana, professora percorre 80 km para dar aula a deficiente auditivo
Com a pandemia do novo coronavírus, Joyce ficou com medo de que Edilson ficasse perdido academicamente
A professora Joyce Barcelos Barbosa, de 34 anos, leciona português, matemática e outras disciplinas que Edilson Gomes Monteiro, 15, precisa aprender em Libras no 1º ano do ensino médio. A diferença é que, toda semana, a professora dirige cerca de 80 quilômetros, usando seu carro particular, com dinheiro próprio. Eles estudam embaixo de um pé de manga, em uma tábua de madeira, dentro de um sítio de Bananal do Sul, distrito da cidade de Linhares, a 145 km da capital do Espírito Santo.
Com a pandemia do novo coronavírus, Joyce ficou com medo de que Edilson, que é deficiente auditivo, ficasse perdido academicamente. Segundo ela, ele já não estava indo para a escola desde o começo do ano, antes mesmo da pandemia. "Entrei em contato com a família, que explicou que, por conta de uma forte chuva na região, o transporte não passava por uma ponte, que havia ido por terra abaixo", conta a professora. Portanto, antes da quarentena, Edilson já estava isolado na Fazenda Guaianazes, onde mora com pai, mãe e duas irmãs mais novas.
A chegada do vírus fez com que o governo do Espírito Santo começou a veicular aulas diariamente em um canal de televisão aberto. No entanto, nas disciplinas diferentes, não havia intérprete de Libras. "Edilson não sabe ler e a mãe não tem conhecimento de Libras. Como ele é deficiente auditivo e não é completamente surdo, consegue captar um pouco de leitura labial e conversa com a mãe pelo que chamamos de comunicação caseira", lembra a docente.
Por conta disso, a professora decidiu pedir permissão para atendê-lo presencialmente no sítio, e a mãe autorizou. "Vou de máscara, levo álcool em gel, sentamos ao ar livre, levo as atividades e dou as aulas para ele, de 8h30 às 12h. Caso isso não acontecesse, Edilson estaria até agora sem estudar. É preciso entender que um aluno deficiente auditivo, sobretudo num momento de exceção, precisa ser acolhido", diz.
A professora conta que agora, com as aulas, o aluno se sente feliz. "Ele já espera pelo dia. Vejo nele uma dedicação, um sentimento de gratidão, apesar da timidez. Ele se esforça nas atividades, volta de fato suas atenções para as disciplinas", diz. Já a mãe, a dona de casa Valdelice Gomes da Silva, de 33 anos, afirma que, depois que Joyce começou a ir dar aula, ele melhorou até a comunicação. "Pergunta quando ela vem e, antes dela chegar, já fica vigiando. Até acorda mais cedo", comemora. Joyce diz que pretende continuar percorrendo os 80 km até o final de pandemia.