PMs são acusados de racismo por apontarem armas e revistarem adolescentes negros filhos de diplomata

Após liberação, policiais teriam recomendado a adolescentes para não andarem na rua senão seriam abordados mais uma vez

Gabriel Bentes
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Dois policias militares foram flagrados abordando um grupo de adolescentes, de 13 a 14 anos, na entrada de um prédio em Ipanema, no Rio de Janeiro, por volta das 19h da última quarta-feira (3). Três dos quatro adolescentes são negros, estrangeiros e filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso, e estavam passando um período de férias com a família na cidade. A família de um deles denuncia que houve racismo durante a abordagem policial na Rua Prudente de Moraes.

Em uma publicação, nas redes sociais, a mãe de um dos adolescentes, Raiana Rondhon, contou que os meninos estavam deixando um colega na porta de casa quando foram surpreendidos pela abordagem dos policiais, que já chegaram com armas em punho e mandando eles encostarem na parede para uma revista. O relato foi publicado inicialmente nas redes sociais do jornalista Guga Noblat, cunhado de Raiana e tio do menino branco. Veja o vídeo:

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Rhaiana Rondon conta que eles experienciaram, nas primeiras horas, “a pior forma de violência”.

“Foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas, e sem perguntar nada, encostaram os meninos (menores de idade) no muro do condomínio. Três, dos quatro adolescentes, são NEGROS! Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados”, afirma Rhainara. 

Ainda de acordo com o relato, os meninos foram obrigados a tirar os casacos e passar por revista, testemunhada pelo porteiro do prédio. Nas imagens, é possível ver o grupo sendo obrigado a encostar na parede para serem revistados, de forma “desproporcional”, segundo a mãe. 

“Foram questionados de onde eram, e o que faziam ali. Os três negros não entenderam a pergunta, porque são estrangeiros, filhos de diplomatas, e, portanto, não conseguiram responder. Caetano, o menino branco e meu filho, disse que eram de Brasília e que estavam a ‘turismo’. Após 'perceberem' o erro, liberaram os meninos, mas antes alertaram as crianças que não andassem na rua, pois seriam abordados novamente! As imagens, os testemunhos e o relato das crianças são claros!! Não há dúvida!! A abordagem foi racial e criminosa”, afirma.

A mulher finaliza dizendo que ela e a família frequentam há anos o Rio de Janeiro e nunca testemunhou nada igual ocorrido em Ipanema com seus filhos. "É um lugar aparentemente seguro. Depende pra quem! Antes da viagem, fiz inúmeras recomendações, alertas e conselhos de mãe preocupada: 'não ande com o celular na mão, cuidado com a mochila, não fiquem de bobeira sozinhos'. Pensei em diversas situações, mas jamais que a polícia seria a maior das ameaças. É traumático, triste, é doloroso. Estão assustados e machucados, com marcas que nem o tempo apagará”, desabafa. 

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De acordo com ela, o Itamaraty - órgão responsável pela relação do Brasil com outros países - foi informado sobre o caso e os consulados no Rio já entraram em ação. “Sabemos que isso acontece todos os dias, mas não vamos nos calar! Essa luta é nossa”, finalizou. Segundo a TV Globo, a embaixada do Gabão também encaminhou uma carta de protesto para o Itamaraty.

A embaixadora do Brasil Julie-Pascale Moudouté questiona a ação da PM. "A polícia está aqui para proteger. Como é que você pode colocar armas na cabeça de meninos de 13 anos? Mesmo para nós, adultos, você me aborda, me pergunta, me apresenta primeiro, e depois me diz o que você está me reclamando. Nesse momento, a gente pode começar a dialogar.  Mas você não sai com uma arma e me manda colocar a mão na parede. A gente crê na Justiça brasileira e a gente quer justiça, só isso", afirmou à emissora. 

Ao Terra, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso por parte dos agentes. 

“Em todos os cursos de formação, a Secretaria de Estado de Polícia Militar insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais para as praças e oficiais que integram o efetivo da Corporação”, declarou a PM. 

A Polícia Civil, por sua vez, informou que após a veiculação de notícias sobre o ocorrido, a Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat) começou uma investigação e buscam identificar os jovens para serem ouvidos. As informações são do portal Terra.

(*Gabriel Bentes, estagiário de Jornalismo sob supervisão de Mirelly Pires, editora web de oliberal.com)

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