Grupo xamânico é acusado de aplicar veneno de sapo em participantes de forma ilegal
Os praticantes do Xamanismo foram denunciados por participantes do ritual que sofreram com surtos psicóticos causados pelo veneno
Um grupo de práticas xamânicas está sendo acusado de fazer uso de psicodélicos ilegais em participantes dos rituais, sem o consentimento dos mesmos. O material seria o veneno do sapo Bufo alvarius, usado com o intuito de aprofundar a jornada espiritual, mas a substância é proibida no Brasil.
Participantes de um ritual, ocorrido em 2021, alegam que após o contato com a substãncia, passaram a apresentar crises de pânico e de ansiedade, surtos psicóticos, problemas respiratórios e pensamentos suicidas, sendo estes os mais recorrentes sintomas.
Alguns membros da sessão com o grupo Xamânico Sete Raios, de Goiás, foram ouvidos pela polícia e pela imprensa, onde identificaram um padrão: todos os relatores alegaram que não assinaram qualquer termo de responsabilidade, não foram informados sobre a ilegalidade da substância e nem tiveram acompanhamento após a sessão.
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A advogada Grabriela Augusta Silva, uma das participantes, foi submetida a uma sessão com o veneno de sapo em 21 de outubro de 2021, após passar por problemas familiares envolvendo a morte do irmão. Na ocasião, ficou desmaiada por cerca de 30 minutos. Ela contou que, após o episódio, chegou a ser internada em um hospital neurológico e ter a necessidade de frequentar um psiquiatra, além de fazer uso de remédios controlados.
A jurista entrou com uma ação de reparação de danos moral e material contra o instituto. Entre os crimes estão charlatanismo, "pois eles anunciam cura por um meio secreto e infalível", e curandeirismo, "pois eles prescrevem, ministram ou aplicam, habilmente a substância", afirma a defesa de Gabriela, Auro Jayme.
"Eles manipulam pessoas, dão um tom de religiosidade nesses rituais e anunciam essas curas, inclusive através dessa substância proibida, que é o bufo", afirma o advogado.
Substância ilegal
O veneno do sapo Bufo alvarius, 5-MeO-DMT, é um psicodélico que está na lista de substâncias proibidas pela Anvisa. O "bufo", como é conhecido, seca quando extraído e é usado como fumo em cerimônias religiosas no exterior e no Brasil.
Segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça, "o uso de substâncias alucinógenas como a 5-MeO-DMT, retirada do sapo Bufo alvarius, é crime, uma vez que tal prática é proibida no país". A fiscalização é atribuição da polícia.
O grupo Xamanismo Sete Raios é alvo de inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura crime de tráfico de drogas. Segundo a polícia, o Departamento de Investigações sobre Narcóticos segue realizando diligências para o esclarecimento dos fatos.
Sete Raios nega
o Instituto Xamanismo Sete Raios afirmou, por meio de suas advogadas, que "jamais teve ou tem como objetivo incentivar ou promover o uso social ou terapêutico de substâncias ou, ainda, a substituição de práticas de saúde, tratando-se exclusividade de abordagem de caráter ritualística e religiosa, com finalidades espirituais".
O instituto afirma que, no final do ano de 2019, recebeu a visita de um suposto líder espiritual que trouxe do México o 5-MeO-DMT, extraído do sapo Bufo alvarius, e conduziu dois rituais com a substância na presença de integrantes do grupo Xamanismo Sete Raios. "À época dos eventos, os representantes do Instituto não tinham conhecimento da discussão acerca da legalidade do Bufo alvarius no Brasil", afirma a nota.
O instituto nega que tenha tido qualquer associação a rituais como esses posteriormente.
(Carolina Mota, estagiária sob supervisão da editora web Ana Carolina Matos)
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