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Farmacêuticas responsabilizam médicos por venda de Annita e outros remédios

Demanda por medicamentos dispara nas farmácias, a despeito de não terem efeito positivo contra a covid

Redação Integrada com informações do G1

Apesar de alertas de sociedades médicas, de farmacêuticos e da própria Organização Mundial da Saúde, vendas de remédios aprovados para outras doenças e sem eficácia para a covid dispararam no Brasil em 2020. Hidroxicloroquina (antimalárico), a ivermectina (vermífugo) e a nitazoxanida (antiparasitário) tiveram altas expressivas nas vendas, apesar dos riscos associados. Farmacêuticas afirmam que cabem aos médicos receitar e assumir a responsabilidade pelo uso desses fármacos.

Apenas no caso da hidroxicloroquina, o total de vendas mais que dobrou, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020, conforme levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

O remédio foi amplamente defendido pelo presidente do Brasil Jair Bolsonaro, e pelo então presidente dos EUA, Donald Trump. O norte-americano, quando contraiu covid, no entanto, não se tratou com a hidroxicloroquina, mas sim com um soro de anticorpos que tem recebido atenção da comunidade científica pelos bons resultados.

CFM

O Conselho Federal de Medicina (CFM) tem sido pressionado a tomar uma posição mais firme quanto à prescrição de medicamentos sem eficácias, que põem em risco a vida dos pacientes de covid. Mas a entidade afirma que não endossa o uso, e que defende a autonomia dos médicos.

Kit covid

Aos três remédios já citados acima há outros que integram o chamado kit covid, voltado ao enganoso "tratamento precoce" da doença – kit que foi enviado pelo Ministério da Saúde a Manaus (AM), não amenizando a crise de saúde com a pandemia no Estado. Estudos científicos no Brasil e no mundo não apontaram benefícios e alertaram para riscos associados ao uso.

Fora da bula

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou a ineficácia da estratégia off-label (fora da bula) que tem enriquecido os fabricantes e revendedores desses medicamentos pelo mundo sem nenhum efeito positivo, mas contando com o desespero das pessoas. Entretanto, para as empresas, a responsabilidade pelo aumento das vendas é dos médicos que assinam as receitas. Muitas vezes esses remédios são comprados sem receita médica.

Annita

A FQM, uma das 10 que comercializam o vermífugo nitazoxanida, enviou nota ao G1 sobre o medicamento por ela batizado de Annita, reconhecendo que o remédio não "possui a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento da covid-19 no Brasil", mas que apoia quatro estudos clínicos da substância como alternativa contra o Sars-Cov-2 e citou que estudos in vitro (em laboratório) ainda não publicados apontam "poder inibidor" da molécula contra o vírus. Resultados de estudo no laboratório precisam ser confirmados em outras etapas, que vão dos animais até chegar às pessoas.

Os que defendem o vermífugo afirmam que tiveram covid, tomaram o remédio e conseguiram se curar. Os que criticam, dizem que também tiveram covid, tomaram chá de hortelã e também se curaram, ironizando o fato de que a maioria das pessoas se cura de covid sem precisar de medicamentos.

A FQM observa que não há remédio para a covid e apontou que o uso é de responsabilidade dos profissionais.

"(...) Dessa forma, torna-se exclusivamente uma decisão médica o uso como tentativa de terapêutica para a doença, onde o profissional deverá assumir a responsabilidade da prescrição, com o consentimento do paciente", disse a FQM.

A EMS, uma das empresas que que produzem a hidroxicloroquina/cloroquina no país, destacou em nota ao G1 que tem a "missão de cuidar de pessoas sempre com responsabilidade e com o apoio da ciência", e citou que a responsabilidade é dos médicos.

"Os médicos são os únicos profissionais habilitados a prescrever o uso adequado do medicamento, seguindo os protocolos de Medicina", disse a EMS.

Brasil