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Ceará registra alta de 75% dos homicídios em 2020

Diversos fatores impactam nos números de violência do Estado, entre os quais conflitos armados entre facções - sobretudo a partir de 2016 -, conflitos pessoais e violência policial

Heloísa Vasconcelos, Especial para o Estadão - AE
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A última vez que a agricultora Leidiane Rodrigues da Silva, de 32 anos, viu o próprio filho, Mizael da Silva Lima, de 13 anos, havia sido poucos dias antes de 1º de julho de 2020. Nessa data, às 2 horas da madrugada, ela recebeu uma ligação dizendo que o garoto havia sido baleado. Ao chegar no hospital, a enfermeira lhe deu a notícia: "Seu menino já foi para o céu".

Mizael foi uma das 4.039 vítimas de homicídio no Ceará em 2020, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS-CE). Com isso, a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes chegou a 45,2, a mais alta do País. O crescimento no número de casos entre 2019 e 2020 foi de 75%, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira, 15, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O caso de Mizael se tornou emblemático no Estado porque o jovem foi morto por policiais enquanto dormia na casa da tia em Chorozinho, a 68,6 quilômetros de Fortaleza. A versão da polícia é de que os agentes de segurança procuravam um adolescente com histórico de atos infracionais, que estaria armado no momento do crime.

"A gente tinha uma relação boa. Nós nunca discutimos com nada, ele era meu xodó, meus pés e minhas mãos dentro de casa. Quando eu estava doente era ele quem cuidava de mim. Agora no dia 1º, fez um ano que eu estou sem meu filho, ainda dói muito", conta a mãe, enlutada. Segundo ela, Mizael era um menino quieto, sem reclamações de indisciplina na escola e não tinha qualquer envolvimento criminal.

Mizael adorava animais e sonhava em se tornar vaqueiro, a mesma profissão do avô. "Ele dizia que o sonho dele era ser vaqueiro, dar uma vida boa para mim e para minha mãe e que ele ia fazer torneios mundo afora", lembra Leidiane.

De acordo com o professor de sociologia e pesquisador do Laboratório de Estudos em Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luis Fábio Paiva, as taxas de homicídio no Ceará têm apresentado crescimento desde 2006. Diversos fatores impactam nos números de violência do Estado, entre os quais conflitos armados entre facções - sobretudo a partir de 2016 -, conflitos pessoais e violência policial.

"A gente tem esse movimento de conflito em determinados territórios, com várias mortes ocorrendo de maneira sistemática. O ano de 2020 teve muita movimentação no mercado de drogas, de armas, além de diversas situações envolvendo conflitos interpessoais. A gente observou aumento do homicídios de mulheres e interdição do próprio Estado, principalmente na periferia", enumera.

O maior pico de homicídios no ano passado, com 459 óbitos, ocorreu em fevereiro, mês em que houve greve policial. Para o especialista, o evento pode ter influenciado no número ao criar uma "janela de oportunidade" com a defasagem da segurança pública.

"O que a gente começou a observar em 2020 foi uma série de conflitos até internos desses grupos (facções), com notícia de novos grupos surgindo, especialmente em Caucaia (cidade na região metropolitana de Fortaleza), que teve uma situação muito grave. Tudo isso mexeu muito nesse xadrez dos conflitos armados", explica Luis.

Em nota, a SSPDS-CE informou que o motim de policiais ocorrido em fevereiro de 2020 "interrompeu uma sequência de mais de 30 meses seguidos de redução nas mortes provocadas por crimes violentos". Segundo a pasta, o número de homicídios no estado em 2020 também foi influenciado pela própria pandemia, devido à necessidade de afastamento de profissionais com sintomas gripais de atividades de segurança.

A nota afirma que a secretaria atua de forma preventiva, "por meio da territorialização do policiamento em locais com maior incidência de crimes". Acrescenta, ainda, que o trabalho investigativo da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) e da inteligência da SSPDS têm auxiliado na identificação e captura de chefes de grupos criminosos.

Conforme a SSPDS-CE, o Estado registrou uma redução de 28,8% nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) no primeiro semestre de 2021, indo de 2.245 crimes para 1.599. A maior retração ocorreu em Fortaleza, com 38,1%, indo de 721 para 446. "O resultado é consequência da reorganização de ações policiais após períodos atípicos encarados em 2020, como o motim de parte da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e também a pandemia da covid-19", afirma.

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