Belém acolhe a vida nova de mais de 700 indígenas Warao
Com o acolhimento dos indígenas venezuelanos Warao, Belém conquistou prêmio concedido pela Organização Internacional para Migrações (OIM) e projetou a cidade como exemplo de recepção no mundo
Quando decidiu fugir de uma crise econômica que abalou a Venezuela, a indígena Warao Maria Virgínia, de 25 anos, escolheu o Brasil para recomeçar e ter uma vida melhor. Em busca de emprego e muitos sonhos para realizar, ela chegou em Belém e por aqui ficou. "Estou muito feliz e lutando para ter algo melhor para nós e nossos filhos. Também estamos aprendendo a cultura da cidade para melhor conhecer o que nos cerca", explica Maria.
Assim como ela, Belém acolhe cerca de mais 700 indígenas da etnia Warao, dos quais 170 são assistidos no Espaço de Acolhimento Institucional da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), no bairro do Tapanã. Maria Virgínia é uma das nove pessoas da etnia que conseguiram ingressar em cursos de graduação na Universidade Federal do Pará (UFPA) e já está criando laços para a estadia fixa.
"Estou cursando pedagogia na UFPA e quero realizar o sonho de ser professora para as crianças Warao e também para as não-indígenas de Belém", complementa. Os demais 530 indígenas vivem em territórios concentrados no distrito de Outeiro, com assistência e acompanhamento socioassistencial da Prefeitura de Belém.
Para a diretora do centro de acolhimento do Tapanã, Nádia Aline, essas conquistas são reflexo dos investimentos em políticas públicas para a melhor estadia de quem chega na capital buscando um recomeço. "Hoje, abrigamos 135 pessoas, são 35 famílias venezuelanas da etnia Warao que vieram na condição de refugiados/imigrantes. Esse abrigo é totalmente diferenciado de outras instituições da Funpapa. Para cada faixa etária, tem atividades diversas e esportivas. Além disso, temos oficinas de cidadania que trabalham com eles a noção do que é viver na cidade de Belém. Também ocorre a parte documental, para registrá-los em solo brasileiro e ter acesso aos serviços da cidade", explica Nádia.
Esse atendimento aos indígenas venezuelanos Warao, prestado pela Prefeitura de Belém, conquistou o Selo MigraCidades, concedido pela Organização Internacional para Migrações (OIM), agência da ONU, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Selo é uma forma de reconhecimento às políticas públicas voltadas para a integração e bem-estar de migrantes e refugiados nos municípios e estados.
Planos para 2022
Diferente do que ocorreu em algumas capitais, onde os indígenas chegaram e depois precisaram ir embora, os Warao foram recebidos e seguem vivendo em Belém. Em 2022, o presidente da Fundação, Alfredo Costa, pretende intensificar os serviços do projeto. "Através de cursos profissionalizantes em diversas áreas, pretendemos incluir essa população no mercado de trabalho, para que eles não dependam sempre do poder público. A autonomia financeira dessas pessoas será um dos nossos objetivos em 2022", explica o gestor
Além disso, a Funpapa tem o projeto de alfabetização na língua Warao, com diversas frentes e apoios de secretarias do município. "Integrá-los na sociedade de uma maneira geral é o maior objetivo. Nós e a prefeitura temos um olhar diferenciado para a população de imigrantes. Baseado na política migratória de acolhimento, temos diversos parceiros para dialogar sobre os serviços prestados. Priorizamos a inclusão e muitos já nasceram no Brasil, são paraenses. Daqui vamos ter diversas pessoas da etnia Warao formado e contribuindo para a melhoria de Belém, conclui Alfredo Costa.
(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)
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