Belém 407 anos: Venda de açaí garante renda na periferia de Belém
Fruto é responsável por cerca de 28 mil empregos, principalmente, na periferia da cidade
Muita gente em Belém gosta e, principalmente, vive da venda do açaí, fruto-símbolo do Pará, e, por isso, os vendedores do produto são bem conhecidos do grande público, em especial na periferia, onde essa atividade é muito presente. Ela responde por cerca de 30 mil empregos e garante a alimentação do dia a dia para famílias de baixa renda. Com um ponto de venda na Feira da Pedreira, Heron Amaral Rocha, 54 anos, trabalha nesse ramo há 28 anos, e diz que “o açaí foi e é tudo na minha vida”.
Heron conta que vender açaí foi uma descoberta maravilhosa que aconteceu com ele, de vez que estava em uma crise financeira, e optou em atuar nessa atividade. “E graças a Deus deu certo, e hoje a gente se tornou, inclusive, uma referência na manipulação do açaí, a gente tem uma história bem legal nesse ramo”, declara.
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Ele atua como capacitador para manipuladores de açaí pela Vigilância Sanitária. Heron obtém o açaí para vender ou à noite ou na madrugada, leva o fruto para o ponto de venda, onde é higienizado pelo filho dele, para a venda ao consumidor. “A cadeia produtiva do açaí emprega muita gente; Belém e açaí têm tudo a ver; o açaí é um fruto magnífico que jamais vai sair do cardápio do paraense, e Belém é uma cidade maravilhosa, eu não me vejo morando em nenhuma outra cidade que não seja Belém", acrescenta.
Cooperativa possui o cadastro de 2.751 pontos de venda de açaí
Para se ter uma ideia da força econômica e social de venda do açaí em Belém, sobretudo nos bairros periféricos da cidade, a quantidade de pontos de comercialização do produto situa-se perto de 10 mil unidades, como relata Paulo Tenório, 49 anos, presidente da Cooperativa Mista de Produtores e Vendedores Artesanais de Açaí do Pará (Coopvaap). Com mais de 10 anos nesse ramo, Paulo diz que a entidade possui o cadastro de 2.751 pontos de venda do produto, mas, de acordo com a Vigilância Sanitária de Belém, funcionam aproximadamente 7 mil pontos de açaí em Belém.
“Usando os parâmetros da Vigilância Sanitária, na safra, esses pontos geram 28 mil empregos, e, na entressafra, esses números caem pela metade. A maioria dos pontos funcionam na periferia de Belém, sendo que 50% deles fecham na entressafra”, declara Paulo Tenório.
Se em toda a Região Metropolitana, consome-se o açaí, na periferia esse produto é presente no almoço de quase todo mundo, e, assim, “consegue baratear a cesta básica”, como frisa Paulo Tenório. “Isso gera emprego e renda na periferia; ajuda muitos jovens a ter seu primeiro emprego temporário e contribui para manter viva a nossa cultura do consumo do açaí, porque o paraense consome mais açaí que o leite”, acrescenta.
Presidente de cooperativa explica variação de preço
A diferença de preço que o consumidor constata de um ponto a outro de venda no mesmo bairro do produto ocorre, segundo Paulo Tenório, pelo fato de a compra ser feita de fornecedores diferentes em feiras diferentes. “Quem compra (o vendedor do fornecedor) caro vende caro, quem compra barato vende barato”, salienta o presidente da cooperativa. Paulo relata que esta safra foi muito difícil para os vendedores, porque tiveram de pagar um preço mais alto aos fornecedores.
Para os vendedores de açaí em Belém, como diz Paulo, o maior desafio é enfrentar o desabastecimento das feiras, porque Belém não tem produção própria e depende de outros municípios que produzem o fruto, como diz Paulo Tenório. Esse desabastecimento ocorre no período de entressafra.
Cerca de 100 mil pessoas estão envolvidas na atividade
Na periferia de Belém a disseminação das máquinas é alta, e a quantidade de pessoas que vivem da venda do açaí é gigantesca, como ressalta Everson Costa, 40 anos, técnico e pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA). A cadeia de produção e venda do artigo passa de geração a geração, e cerca de 100 mil pessoas estão envolvidas na atividade de comercialização do açaí no Pará como um todo, desde quem apanha o fruto até quem comercializa o produto na ponta.
Na entressafra do produto, todos são atingidos, ou seja, produtores, vendedores e consumidores. Everson Costa pontua que, até abril, o consumidor paraense, em particular belenense, sente os reflexos da entressafra do açaí, como o preço alto e a diminuição da oferta.
O açaí é comercializado em supermercados, pontos de venda e feiras livre, por exemplo, e com preços diferentes, dado que cada comerciante compra uma quantidade do produto para venda, disponibiliza-o com base na sua própria margem de lucro e sabe também que a prática do seu preço vai obedecer àquele público, àquele perfil consumidor além do fator exportação, como pontua Everson.
Açaí do grosso (Agência Pará / Arquivo)
“A gente sabe que o açaí vendido na área central de Belém, ele tem preços diferenciados daquele que é vendido na periferia; o litro do açaí que é comercializado no centro, bairro Reduto, Nazaré, é bem mais caro que o comercializado, por exemplo, em pontos da Terra Firme, Jurunas, Guamá, obedecendo o perfil de consumo. Uma questão curiosa é como se dá a venda do açaí de cada tipo: papa, grosso, médio e o popular (antigo fino). O papa é vendido congelado para outros estados; o grosso é uma derivação do tipo papa; o médio é o tipo mais consumido pelos paraenses; e o popular é uma variação do produto para o público de menor poder aquisitivo”, destaca Everson Costa. Ele ressalta que, antes, o açaí era comida de pobre, mas hoje o fruto tem várias aplicações e isso contribuiu para essas variações do produto na oferta aos consumidores.
Uma política de preços mostra-se necessária para o açaí, para fomento e apoio à cadeia produtiva, diagnosticando os gargalos, como os atravessadores, como pontua Everson Costa. Deve-se facilitar o escoamento da produção, realização de feiras do produtor, incentivo à formação de cooperativas, formação de empresas locais para beneficiamento. “Há possibilidades de fazer com que a cadeia de produção de açaí ganhe musculatura, profissionalização e qualidade”, observa. O fator exportação prejudica o setor e o consumidor locais, dada a falta de mecanismos para melhorar a circulação do produto, com preços mais equilibrados.
Média de 251 toneladas de açaí in natura são comercializadas nos quatro portos municipais
A Secretaria Municipal de Economia (Secon) informa que apenas quantifica os pontos de vendas administrados pelo órgão, ou seja, os que funcionam nas feiras e mercados municipais de Belém. Nesses logradouros de abastecimentos existem 64 pontos de comercialização do açaí batido, como repassa o órgão.
Madrugada em Belém (Igor Mota / Arquivo O Liberal)
Segundo dados da Secon, uma média de 251 toneladas de açaí in natura são comercializadas nos quatro portos municipais de Belém (Feira do Açaí, Porto do Açaí, Porto da Palha e Porto de Icoaraci). A Feira do Açaí é considerada o maior entreposto de comercialização do fruto in natura, com a média de 205 toneladas por dia, o que representa 81,67% de toda a oferta do produto. Ainda segundo o órgão, 35 municípios paraenses abastecem a capital com o açaí, com destaque para Ponta de Pedras, Muaná, Barcarena, Anajás e Cametá. Além disso, Belém também é abastecida por alguns municípios dos estados do Amapá e Maranhão.
Sobre o incentivo aos pequenos comerciantes, batedores e vendedores de açaí, a Secon tem cedido espaços nas feiras e mercados municipais de Belém, oportunizando renda a esses trabalhadores, que também estão sendo beneficiados com as reformas das 15 feiras e mercados municipais, que serão entregues pela Prefeitura de Belém e Governo do Pará.
A Secon informa ainda que atua junto com o Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde (Devisa/ Sesma), no sentindo de promover a capacitação dos batedores e vendedores de açaí. Para comercializar nas feiras e mercados municipais de Belém, os permissionários passam um treinamento de boas práticas de manipulação do fruto e adquirem a carteira de saúde, o que garante a qualidade e segurança do açaí ao consumidor final.
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