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Usuários do SUS em Belém contam como o serviço público de saúde mudou suas vidas

Sistema fortalece o cuidado integral com a população, do pré-natal à terceira idade

Eva Pires | Especial para O Liberal

Muito além dos atendimentos de urgência, o Sistema Único de Saúde (SUS) é parte essencial da vida dos brasileiros, oferecendo cuidado gratuito desde o nascimento até a velhice — e, em Belém, não é diferente. O sistema busca atender a uma demanda crescente e diversa, com serviços que vão de consultas médicas, fisioterapia e odontologia até pré-natal, vacinação, distribuição de medicamentos e ações de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Na capital, vários usuários do SUS relatam como o serviço público de saúde mudou suas vidas. Para Milene Ferreira, 22 anos, vendedora e grávida pela primeira vez, a experiência com o pré-natal na rede pública tem sido positiva. “Desde o cuidado, o atendimento, está tudo sendo bom. E por ser perto de casa, facilita muito”, conta. Ela compartilha que buscou o atendimento mesmo diante de comentários negativos que tentaram desencorajá-la a fazer o pré-natal pelo SUS. “Minha mensagem para outras mães e gestantes é não acreditar no que dizem e ir atrás”, afirma.

Há mais de dez anos, a UMS da Marambaia abriga o projeto voluntário de Capoterapia, coordenado pelo terapeuta Marcos Silva. A iniciativa mistura capoeira, cantigas e atividades físicas voltadas a idosos, promovendo saúde física e mental. “A UMS tem que ser vista como um lugar de prevenção”, destaca Marcos. Para ele, o SUS também é essencial para combater problemas como ansiedade, depressão e isolamento social.

Maria do Socorro Silva, 91 anos, é um exemplo vivo do impacto da Capoterapia. Com apenas 3% da visão e diagnosticada com diabetes, ela frequenta as aulas com entusiasmo: “A Capoterapia para mim é uma felicidade”. Moradora da região e paciente da unidade há mais de 20 anos, ela ainda trabalha com reciclagem em casa. “O SUS para mim é tudo. Desde a insulina até esse espaço para atividades como esta”, afirma.

Importância da atenção primária

Na capital paraense, o SUS busca promover uma saúde pública integral e acessível. A atenção primária — porta de entrada do sistema — é o primeiro ponto de contato entre o usuário e a rede. Ela acolhe, acompanha e encaminha para atendimentos mais especializados, como cardiologia, neurologia ou cirurgias. “A atenção primária é a porta aberta para o serviço”, resume Afonso Peres, coordenador da Unidade Municipal de Saúde (UMS) da Marambaia.

Nessa etapa, são realizados atendimentos básicos, como consultas, acompanhamento de gestantes, vacinação e programas para condições crônicas como hipertensão, diabetes e autismo. Segundo Peres, a base desse cuidado é o trabalho integrado entre os profissionais das unidades, com destaque para as equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), que fortalecem o vínculo com a comunidade. Para ele, a enfermagem é um elo fundamental para garantir um cuidado humanizado e atento às singularidades de cada caso.

SUS enfrenta os desafios do envelhecimento e da crise climática

Entre os principais desafios enfrentados pelas unidades de saúde em Belém está a necessidade de lidar com uma demanda crescente da população. Afonso Peres reconhece que “não vivemos só um mar de rosas”, e que é preciso agir com agilidade e sensibilidade diante das situações. “A saúde não pode esperar”, afirma ele, reforçando que quando alguém procura atendimento, geralmente está em um momento de fragilidade e cabe à equipe acolher e encaminhar com responsabilidade. Para o gestor hospitalar, a desinformação ainda é um dos principais desafios: "Muitas pessoas deixam de acessar o que têm direito por falta de informação”, avalia.

O papel do SUS também ganha novos contornos diante de desafios globais, como o envelhecimento da população e a crise climática. “A população idosa está crescendo, e o SUS precisa estar pronto para isso, com políticas que promovam bem-estar e qualidade de vida”, defende o gestor hospitalar. Ao mesmo tempo, ele reforça a relação entre saúde pública e meio ambiente: o clima afeta diretamente a saúde da população e exige atuação integrada, com foco em saneamento, moradia digna e descarte adequado de resíduos. Com a aproximação da COP30 em Belém, ele reforça: “É preciso que todas as áreas da sociedade, inclusive o sistema de saúde, atuem juntas, com responsabilidade, para garantir um futuro mais saudável e sustentável. Temos que unir forças”, afirma.

Avanços no atendimento

Com 27 anos de experiência no serviço público, Afonso Peres testemunhou melhorias importantes no SUS em Belém. Uma delas é a maior proximidade entre a gestão municipal e a população, como a oferta de avaliação de risco cirúrgico diretamente nas unidades básicas, o que tem ajudado a reduzir filas.

Na UMS da Marambaia, a implantação do DIU gratuito é outro exemplo positivo, com grande procura e impacto direto na saúde das mulheres. Outro avanço importante é a central laboratorial da Cremação, que recebe amostras coletadas nas unidades e garante mais agilidade e precisão nos exames.

Peres destaca ainda a parceria com empresas privadas que exigem vacinação de seus funcionários, reforçando o papel do SUS na prevenção: “Mesmo quem tem plano de saúde, na maioria das vezes busca o SUS para vacinas”, conclui.

Serviços oferecidos pelo SUS em Belém

A Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) disponibiliza serviços gratuitos por meio do SUS, abrangendo desde a atenção básica até atendimentos especializados.

Atenção Básica

Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)

- Consultas médicas e de enfermagem;

- Atendimento odontológico;

- Vacinação;

- Acompanhamento pré-natal;

- Tratamento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes;

- Distribuição de medicamentos essenciais.

 

Serviços Especializados

- Consultas com especialistas, como cardiologistas, neurologistas e ortopedistas;

- Exames laboratoriais e de imagem, incluindo raio-X, ultrassonografia e tomografia;

- Atendimento em saúde mental por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS);

- Programas específicos para saúde da mulher, do idoso e da criança.

 

Vigilância em Saúde

- Vigilância Sanitária: fiscaliza estabelecimentos de saúde, alimentos, medicamentos, água potável e ambientes públicos, garantindo o cumprimento das normas sanitárias e a prevenção de riscos à saúde.

- Vigilância Epidemiológica: monitora e investiga surtos, epidemias e doenças transmissíveis, como dengue, covid-19 e gripe, promovendo ações de controle e prevenção.

 

Urgência e Emergência

- Unidades de Pronto Atendimento (UPA);

- Hospitais de pronto-socorro;

- Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), que realiza atendimentos pré-hospitalares em casos graves.

 

Para ter acesso aos serviços, é necessário:

- Estar cadastrado em uma Unidade Básica de Saúde próxima à sua residência;

- Apresentar documento de identificação com foto e cartão do SUS.

 

Medicamentos disponíveis:

Belém possui uma Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME), que inclui mais de 300 medicamentos distribuídos gratuitamente de acordo com o local de acesso. A lista completa pode ser acessada no Portal da Transparência, disponível aqui.

 

Vacinas Disponíveis nas unidades de saúde

- BCG

- Hepatite B

- Pentavalente

- VIP/VOP (poliomielite)

- Rotavírus

- Pneumocócica 10-valente

- Meningocócica C

- Febre amarela

- Tríplice viral

- Tetra viral

- DTP

- Hepatite A

- Varicela

- HPV

- Influenza (em campanhas sazonais)

- Covid-19 (conforme calendário vigente)

 

Atendimento para prevenção e tratamento de IST's (Infecções Sexualmente Transmissíveis)

- Testagem rápida para HIV, sífilis, hepatites B e C;

- Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Pós-Exposição (PEP);

- Aconselhamento pré e pós-teste;

- Atendimento médico e farmacêutico;

- Diagnóstico e tratamento de ISTs.

 

Quando o diagnóstico de HIV é confirmado, o paciente é encaminhado ao serviço especializado Casa Dia, onde recebe acolhimento e acompanhamento clínico por equipe multidisciplinar. Exames como CD4 e carga viral são realizados e, com os resultados, o usuário é atendido por médico especialista para iniciar o tratamento com antirretrovirais, garantindo cuidado integral e humanizado.

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