Sensores de baixo custo ajudam no monitoramento da qualidade do ar no Pará

No Estado, há 16 desses equipamentos, dos quais sete estão em Belém e Região Metropolitana

Dilson Pimentel

Sensores de baixo custo ajudam a monitorar a qualidade do ar na região amazônica. No Pará, há 16 desses equipamentos. Sete deles estão instalados em Belém e região metropolitana. Há, ainda, sensores nos municípios de Altamira, Breves, Capitão Poço, Marabá, Medicilândia e Santarém e São Félix do Xingu. Na capital, um deles fica na Universidade Federal do Pará e está em funcionamento deste julho deste ano (SBPC). A UFPA integra a Coalizão Respira Amazônia.

Trata-se de uma iniciativa inovadora que reúne instituições públicas, privadas e organizações da sociedade civil para fomentar o monitoramento da qualidade do ar na Amazônia Legal, região que enfrenta uma grave falta de dados e informações localizadas devido à escassez de equipamentos de referência para monitoramento.

Focada no uso de sensores de baixo custo e na integração com outras tecnologias, o objetivo geral da Coalizão Respira Amazônia é estimular a ampliação do monitoramento, especialmente em áreas de difícil acesso. Para incentivar políticas ambientais mais eficazes e fortalecer a resposta aos desafios climáticos, a iniciativa busca ampliar a conscientização e a capacidade de ação na região, protegendo a saúde pública e o meio ambiente.

image A pesquisadora Sílvia Fernanda Mardegan mostra o sensor; um desses equipamentos está instalado na UFPA (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Segundo o relatório World Air Quality, das 38 cidades brasileiras com a pior qualidade do ar em 2023, 13 estão localizadas na Amazônia Legal, o que representa cerca de 30% do total. A poluição atmosférica na Amazônia, impulsionada principalmente pelas queimadas, resultado do desmatamento e da degradação florestal, o que gera impactos devastadores no meio ambiente e na saúde pública. O uso do fogo, que era uma técnica tradicional de manejo do solo, se tornou descontrolado, liberando grandes quantidades de poluentes nocivos, como partículas em suspensão e monóxido de carbono. Esse cenário afeta tanto as áreas rurais quanto os centros urbanos, onde as emissões industriais e de transporte se somam à poluição gerada pelas queimadas, agravando a qualidade do ar.

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image A pesquisadora Sílvia Fernanda Mardegan, do Laboratório de Botânica, que fica no Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, integra a Coalizão Respira Amazônia (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Queima de terrenos e de resíduos sólidos causam muita fumaça

A pesquisadora Sílvia Fernanda Mardegan, do Laboratório de Botânica, que fica no Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, integra a Coalizão Respira Amazônia. “Esses sensores de baixo custo são uma ferramenta de apoio para gente conhecer a concentração de material particular 2.5, que é um material associado à queima de biomassa e que entra em nossas vias respiratórias e vai se acumulando. Ele não sai, causando assim o agravamento de doenças respiratórias crônicas, principalmente nos grupos mais sensíveis - crianças e idosos”, disse.

De uma maneira geral, e sobre o que esses sensores têm mostrado, a pesquisadora explicou: “Isso depende muito de cada localidade que já iniciamos o monitoramento. Então, dependendo do município, como no caso de Breves, no Marajó, a gente tem observado um aumento na concentração desse material particulado sistematicamente entre o final da tarde e o início da manhã. Em outros municípios, como Santarém, a gente vê, em determinados períodos, a qualidade do ar deteriorada ao longo de todo o dia. Assim como está ocorrendo também em outros municípios, como Medicilândia”, afirmou. “No caso de Breves, ao conversar com a população local e em visita à região, nós pudemos ver que essas queimadas se devem à limpeza do terreno para ter essa ocupação e, também, à queima de resíduos sólidos”, afirmou.

A deterioração da qualidade no ar na Amazônia, aliás, é um problema que diminui a expectativa de vida da população. “Hoje já existem trabalhos que mostram que a má qualidade do ar já leva a uma redução de 2 a 4 anos na expectativa de vida em certas regiões da Amazônia. Então, essas queimadas não são um problema só em relação à perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Também tem a ver com a nossa qualidade de vida, nosso bem-estar, e a nossa expectativa de vida”, disse.

A Coalizão Respira Amazônia passou a unir pesquisadores de instituições públicas e privadas, bem como sociedade civil. “A gente busca ampliar esse monitoramento e trazer essa informação para a pauta do cotidiano das pessoas. Muita gente sabe que a qualidade do ar, em determinadas épocas do ano aqui na Amazônia, é ruim, mas não sabem o quanto ela é ruim e o que isso causa à saúde”, disse.

“Hoje nós estamos trabalhando para criar uma rede integrada de monitoramento da qualidade do ar na região para poder avaliar esse comportamento da qualidade do ar, buscando padrões. E extrapolar esses achados para poder, assim, apoiar políticas públicas mais eficazes”, afirmou. No domingo passado, à noite, estava um cheiro de fumaça muito forte no ar. “Esse período de secas, em que a gente tem a restrição das chuvas e as temperaturas elevadas, como estamos vivenciando, acarreta a intensificação dos incêndios criminais”, disse. “A gente está tendo muitos incêndios. E, com esses incêndios, a gente está tendo liberação de materiais, de uma série de gases, mas também de compostos que chamamos de materiais particulados – em especial o material particulado 2.5, que entra em nossas vias áreas, mas não sai”, afirmou.

A pesquisadora Sílvia Fernanda Mardegan também disse que, atualmente, há uma grande lacuna no monitoramento da qualidade do ar na Amazônia, pelo baixo número de estações existentes e a ausência de estações de referência nos grandes centros urbanos. Um dos desafios desse baixo número é a dificuldade de acesso a muitas áreas da região. “Há localidades em que a gente só consegue chegar de barco ou avião, por exemplo. Então a instalação de estações de referência acaba sendo custosa, além de demandar pessoal qualificado para seu garantir seu funcionamento e sua manutenção. Por isso, para auxiliar nesse monitoramento, estamos utilizando essas estações que têm um valor mais reduzido quando comparadas aos equipamentos de referência. 300 dólares aproximadamente. Além de que esses sensores precisam de energia elétrica e internet. Podemos acessar os dados, em tempo real, em nossos computadores e smartphones”, contou.

Coalizão Respira Amazônia

“A Coalizão Respira Amazônia foi criada para ampliar a rede de monitoramento, mas também fazer uma integração desses dados da região, para a gente poder gerar informações para apoiar as políticas públicas, apoiar os tomadores de decisão”, disse. No Pará, a estação mais antiga fica em Marituba e foi implantada há cerca de quatro anos.

Apesar da criação da nova Política Nacional de Qualidade do Ar em 2024, a implementação de sistemas de monitoramento na Amazônia Legal enfrenta diversos desafios. A infraestrutura necessária para a instalação e gestão de tais sistemas é insuficiente em muitas regiões e a maioria dos estados carece de profissionais tecnicamente capacitados para operar esses equipamentos de forma eficaz.

A ausência de um acompanhamento contínuo dificulta a resposta a picos de poluição, especialmente durante a temporada de queimadas, quando os níveis de poluentes aumentam drasticamente. Nesse contexto, sensores de baixo custo surgem como uma alternativa viável para expandir a rede de monitoramento, principalmente em áreas remotas e de difícil acesso. Esses sensores são uma solução prática e financeiramente mais acessível, permitindo uma coleta de dados mais ampla, que é essencial para o desenvolvimento de estratégias e políticas eficazes contra poluição do ar, queimadas e desmatamento. Embora apresentem menor precisão em comparação com sensores de referência, sua facilidade de instalação e manutenção torna esses dispositivos.

A Amazônia Legal, que abrange nove estados brasileiros (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e 772 municípios, corresponde a cerca de 58,9% do território nacional, totalizando aproximadamente 5 milhões de quilômetros quadrados. Esta vasta região desempenha um papel importante na regulação do clima global e na preservação da biodiversidade, sendo um dos ecossistemas mais importantes do planeta. No entanto, apesar de sua importância ecológica, a Amazônia vem enfrentando níveis crescentes de poluição do ar, em grande parte resultantes das queimadas realizadas para a remoção de vegetação nativa, principalmente devido à expansão agropecuária.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), os focos de incêndio na Amazônia Legal aumentaram 96% entre setembro de 2023 e setembro de 2024.2 A localização desses focos, assim como das áreas desmatadas, reflete diretamente a expansão da fronteira agrícola, que envolve atividades como a extração de madeira, a conversão de florestas em pastagens e o cultivo intensivo de grãos, como soja, milho e arroz. Essas práticas, além de contribuírem para o desmatamento, também são responsáveis pelo aumento da poluição atmosférica, afetando tanto a biodiversidade quanto as comunidades que dependem da floresta.

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