Enem 2024: Professora paraense descreve o tema da redação como 'acessível' e de baixa dificuldade
Este ano, o exame propôs uma reflexão sobre a desvalorização da cultura africana no Brasil
Milhões de estudantes escreveram na tarde deste domingo (3), sobre os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano. Os participantes precisam demonstrar competências específicas na construção do texto, como domínio da escrita formal da língua portuguesa e compreensão da proposta com aplicação de conhecimentos diversos, por exemplo. A professora de redação paraense, Jamille Flávia, avalia o tema escolhido como “acessível” e conta que trabalhou eixos temáticos relacionados à proposta com seus alunos em Belém.
Segundo a professora, especializada em ensino e aprendizagem de português, a aposta era de que o tema estaria no eixo temático da vulnerabilidade social e humana. Ela explica que a preparação dos alunos é feita a partir de eixos para fornecer uma base com a qual eles consigam escrever sobre diversos temas, ao invés de apostar em alguns mais específicos que podem não cair. O tema deste ano foi divulgado pelo ministro da educação, Camilo Santana, por volta das 14h, através do seu perfil no X.
“A nossa aposta era em um tema que falasse de algum grupo vulnerável na nossa sociedade e trouxesse uma discussão que está aí invisibilizada, logo, o tema desafios para valorização da herança africana no Brasil, vai ao encontro a essa expectativa porque você está diante de um grupo minoritário no país”, explica a professora.
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Sobre a dificuldade para desenvolver a redação este ano, ela destaca que o “tema pode ser classificado como acessível para o aluno porque está dentro da nossa realidade”. Na sua perspectiva, a proposta não representa um grau de complexidade elevado aos estudantes que já se preparavam para o exame, por transpassar boa parte da base teórica utilizada em sala de aula.
A dificuldade que pode se apresentar aos participantes, está justamente na desvalorização da herança africana no país. Embora seja um tema presente e vivenciado rotineiramente, segundo ela, os processos de desvalorização estão enraizados e, por isso, vê-los como objeto de discussão exige um pensamento mais crítico.
“Esse tema, para o aluno que se preparou em 2024, não representa um grau de complexidade muito grande, não é hiper complexo e não foge dos principais repertórios e argumentos que esse aluno fez durante o ano, entretanto, é um tema invisibilizado”, afirma.
Caminho da redação
A professora também descreveu qual seria a sua recomendação de construção dos argumentos no caso deste tema. “Para começar, eu sugeriria a discussão a respeito do princípio da dignidade humana, que reconhece que todo ser humano possui valor ou honra”, aponta. Ela explica que, a partir disso, seria possível lembrar que há uma parcela da população brasileira, as que vivenciam a cultura africana intimamente, cuja dignidade não é respeitada, devido à desvalorização desta herança.
Como exemplo de citação ainda menciona a mudança na obrigatoriedade do Dia da Consciência Negra, que passou a ser um feriado obrigatório em todo o país desde o ano passado. Jamille também aponta alguns autores e pensadores brasileiros que trabalham o assunto e poderiam servir como citação teórica aos participantes. Entre os nomes estão o da escritora Conceição Evaristo, do professor e ex-ministro de direitos humanos, Silvio Almeida e da pensadora e escritora Djamila Ribeiro.
Por fim, ela destaca o uso do conceito de “alteridade”, que descreve o ato de colocar-se no lugar do outro, como base para apontar soluções para combater esta desvalorização. “Eu usaria esse repertório para mostrar a necessidade de a sociedade brasileira se colocar no lugar dos povos que hoje no Brasil possuem a sua cultura desvalorizada”, conclui.