Recado em Libras feito por Tadeu Schmidt surpreende; comunidade surda celebra visibilidade

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) ganhou destaque ao ser utilizada por Tadeu Schmidt durante apresentação do Big Brother Brasil (BBB). Na ocasião, o apresentador se comunicou com a participante Jessilane através de sinais, dizendo “Professora, hoje as mulheres ficam”. Fora da casa, a participante que é professora já deu aula para alunos surdos e estudou a língua para conseguir se comunicar melhor com a turma. 

A língua de sinais é faz parte da realidade de 5% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). A porcentagem corresponde a 10 milhões de pessoas surdas, sendo 2,7 milhões possuem surdez profunda. 

Para a comunidade surda, o discurso em Libras feito ao vivo foi bastante significativo e surpreendente. “A atitude do apresentador Tadeu Schmidt de falar em língua de sinais foi muito boa, pois trouxe representatividade à nossa língua que é viva! Essa visibilidade é importante, pois trás ao protagonismo uma língua que por muito tempo foi negada e invisibilizada. Temos que relembrar da existência dessa língua que é o veículo de comunicação diária da comunidade surda brasileira, muitas vezes excluída”, afirma Uisis Gomes, que convive com a surdez desde a infância. 

Uisis que também é professora da língua de sinais e mestre em Educação sente falta da tradução simultânea em programas televisivos. “Isso falta muito em todos os canais. A comunidade surda necessita de janelinha de tradutor e intérprete de Libras em todas as emissoras televisivas para que de fato possa ter acesso às informações”, ressalta. 

De acordo com O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15), as emissoras de televisão devem usar os recursos de legendas ocultas (closed caption) e janela com intérprete da Libras para garantir a acessibilidade das pessoas com deficiência auditiva, mas sem estabelecer regras mais específicas.

Já a Portaria do Ministério das Comunicações de 2006 obriga as emissoras a ofertar o recurso da legenda oculta na programação. Porém, as legendas ocultas funcionam para quem aprendeu a língua portuguesa antes de se tornar surdo, mas quem nasceu surdo ou perdeu a audição antes de ser alfabetizado em português pode ter dificuldades para ler textos.

A professora de Libras, Leilane Fernanda Monteiro, reforça que o uso da língua de sinais no dia a dia é fundamental, pois quebra a barreira na comunicação entre surdo e ouvinte, além de promover a inclusão de surdos na sociedade. “O surdo é um cidadão e tem direito a todo tipo de informação. É necessário e fundamental a tradução e/ou legenda em qualquer tipo de programa. A comunidade surda há muito tempo vem lutando por espaço e desde a pandemia observei que essa busca foi se concretizando com a contratação de  intérpretes em pronunciamentos dos nossos governantes, lives de entretenimento  e outros, porém os surdos ainda precisam que nossos governantes cumpram as leis de regulamentação da Libras com a criação de concursos públicos a fim de promover essa inclusão de fato para todos”, destaca. 

Ela destaca ainda a Lei 14191, de agosto de 2021, que prevê a educação bilíngue (ensino de Libras e português) em todas as escolas. “Precisamos fazer valer essa lei e o Estado do Pará ainda não tem a criação do cargo de professor de Libras nas escolas o que deixa muito a desejar para a comunidade surda. Hoje em Belém temos duas escolas especializadas, porém nenhuma delas apresenta um professor com o cargo e formação em Letras Libras para educar um aluno surdo em sua língua materna. Precisamos da criação de concursos e da efetivação desse profissional enquanto professor regente e do cargo de intérprete para que eles possam levar as informações de forma acessível à comunidade surda”, pontua Leilane.