Protesto fecha rua após 8 meses da morte de tirador de barro de Icoaraci
Após baleamentos da Operação Diataxi, nenhum responsável é acusado pelos crimes
Moradores fecharam nessa manhã o tráfego na rua Soledade, no bairro do Paracuri, em Icoaraci. O protesto lembrou a morte do tirador de barro Gitão, morto há exatos 8 meses na Operação Diataxi, que vitimou trabalhadores da cadeia ceramista. Quatro tiradores de barro do Paracuri foram baleados, um deles morto, durante a operação policial, ocorrida em 22 de novembro de 2018. Até hoje os responsáveis pelos crimes ainda não foram apontados pela Justiça.
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Ato vai até Fórum e Corregedoria
Os moradores encerraram o protesto por volta das 11h da manhã. Uma caminhada ocorre neste momento até o Fórum de Icoaraci. Depois, familiares e amigos de Osmair Pereira Monteiro, o Gitão, como era conhecido o trabalhador morto em novembro, irão até à sede da Corregedoria Militar, em Belém. Eles querem celeridade na apuração da responsabilidade pelos baleamentos e a morte.
A ação policial envolveu cerca de 70 integrantes da Polícia Militar e Polícia Civil, com intuito de combater traficantes em Icoaraci. O Departamento de Atividades Judiciais do Ministério Público Militar (MPM) recebeu dia 11 de abril o relatório de Inquérito Policial Militar (IPM) que ainda não foi concluído - e que, portanto, ainda não aponta os responsáveis pelos quatro baleamentos e pela morte, ocorridos contra tiradores de barro do Paracuri durante a Operação Diataxi.
A Operação Diataxi 7 se concentrou em áreas de atuação do 10º e 24º batalhões da PM. As ações foram coordenadas pelo comandante do 10º BPM, tenente-coronel Ricardo Polaro, e pelo comandante do 24º BPM, tenente-coronel Neuacy Porto de Oliveira. A investida teve início nas primeiras horas da manhã.
Só quando a ação policial terminou no Paracuri se descobriu o baleamento dos quatro trabalhadores, sem envolvimento em ilícitos. Eles foram alvejados por policiais quando tiravam argila nos mangues de Icoaraci. Das vítimas, Osmair Pereira Monteiro, 42 anos, conhecido como Gitão, morreu na hora, baleado com um tiro na cabeça.
Cinquenta tiros contra canoas
Quando o fato ocorreu, dez trabalhadores estavam distribuídos desde cedo em três embarcações na região de mata do Paracuri. Daniel dos Anjos, 24 anos, um dos quatro baleados pela operação policial, ainda não conseguiu retornar ao trabalho, apesar de já ter sido submetido a cinco cirurgias na perna direita. Ainda hoje sente fortes dores - e não consegue andar normalmente.
Os outros dois baleados sobreviventes são Jucivaldo dos Santos Guedes, de 49 anos, o "Branco", e seu filho, Danilo Guimarães, de 18 anos. Na manhã de novembro em que foi alvejado pela lancha da polícia que integrava a operação Diataxi em Icoaraci, Branco levou dois tiros no braço esquerdo. Segundo ele, foram disparados cerca de 50 tiros contra os trabalhadores que estavam na primeira canoa de tiradores de barro que trabalhavam naquela manhã.
Osmair Pereira Monteiro, o Gitão, estava na mesma embarcação de Branco e Danilo Guimarães. O jovem Danilo também foi atingido com dois tiros de raspão. "Gitão" levou o tiro na cabeça quando ajudava o jovem Danilo a voltar à canoa, após pai e filho serem alvejados. Danilo, que não sabe nadar, havia caido na água, atingido pelos disparos.
Após ser atingido, Gitão caiu nas águas do Paracuri e não voltou à tona. Seu corpo só foi achado pelos familiares e pela comunidade horas depois do fim da operação policial, quando a maré secou, naquele dia 22 de novembro.