Prédios públicos estão entregues à própria sorte em Belém, há mais de décadas
População cobra respostas do poder público sobre o destino ou a reutilização dos imóveis
Em pleno centro de Belém, prédios públicos que já foram importantes por oferecerem serviços aos paraenses estão abandonados há anos. Os espaços ainda estão na memória de trabalhadores e moradores da área, que cobram respostas do poder público sobre o destino das edificações.
Um dos prédios abrigava a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE). O imóvel localizado na rua Gaspar Vianna com a travessa 1º de Março, no Comércio, está interditado desde fevereiro de 2014. A SRTE era vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), órgão administrativo do governo federal.
“Esse prédio está abandonado há mais de ano, mas fechado mesmo já são uns seis a sete anos. Nele funcionava a Delegacia Regional do Trabalho e pertencia à União Federal. Era bastante bonito esse prédio, mas depois que foi abandonado as pessoas começaram a sentir medo de andar por aqui, porque o ambiente é de terror. Elas pensam que vão ser assaltadas e agredidas, mas isso ainda não vi”, conta um homem que trabalha na área há 20 anos.
Segundo ele, o espaço serve de abrigo para dezenas de moradores de rua e também como ponto para o consumo de drogas ilícitas. Mesmo do lado de fora é possível verificar que o lugar está cheio de lixo, entulho, insetos e ratos. No prédio de três anda- res não há vigilância. Na parte superior há um “lago” com possíveis focos de Aedes aegypti. Isto porque criminosos saquearam tudo que havia dentro do prédio, como móveis, além de janelas, forro e telhado. Quando chove, a água entra e empoça. “O poder público precisa tomar alguma medi- da, ocupar o prédio, colocar algo pra funcionar que traga movimento para a rua como era antes, tranquilo”, afirma o trabalhador.
Incêndio
Não muito distante dali existe outro prédio, com 14 andares além do térreo, também abandonado desde que sofreu incêndio de grande proporção, em 2012. Trata-se do imóvel onde ficava o Ministério da Fazenda, onde funcionava a Receita Federal, na avenida Presidente Vargas com a rua Municipalidade, próximo às praças do Escoteiro e Waldemar Henrique, no bairro da Campina.
Fazenda, onde funcionava a Receita Federal, na avenida Presidente Vargas com a rua Municipalidade, próximo às praças do Escoteiro e Waldemar Henrique, no bairro da Campina.
Naquela época, o bom- beiro falou que só queimou do sexto andar pra cima e que em baixo a estrutura estava toda boa. Já vieram aí, limparam por dentro e por fora e falaram que iam mandar reformar. Esse prédio é tão bonito pra ficar assim sem utilidade e permanecer destruído... Quando esse lugar funcionava era espetacular, não sobrava nenhuma vaga para carros aqui fora. Eu chegava a ganhar até R$ 150,00 por dia para cuidar dos carros. Hoje não consigo R$ 30,00”, reclama o flanelinha Francisco Aguiar Alves, de 49 anos, que trabalha na área desde os 13.
O antigo prédio onde funcionava a Receita Federal sofreu incêndio dia 26 de agosto de 2012, e não houve pessoas feridasApesar de ter vigilância, após tentativas de roubo e furto com acesso pelo térreo do prédio, pela Municipalidade, o lugar foi cercado com tapumes de alumínio, há cerca de um ano. “Eu queria que o prédio voltasse a funcionar, porque isso aí é o nosso dinheiro. Falaram que era a Polícia Federal que vinha praí, mas até agora não resolveram nada”, lamenta Alves, que no dia do incêndio estava em casa.
Tapumes são usados no isolamento
Outro prédio na cidade que ainda está destruído é o que abrigava o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), na avenida Nazaré com a travessa Doutor Moraes, no bairro de Nazaré. Um incêndio de grandes proporções ocorreu no local em 1º de agosto de 2010.
“Aqui mudou muita coisa, mas, desde o incêndio, esse prédio ainda está aí quase do mesmo jeito e até pior. Entrei aí muitas vezes, ia buscar passageiros e resolver coisas lá. O incêndio aconteceu à noite e ainda de manhã, quando cheguei aqui, tinha fogo. Mas o fogo foi só em baixo”, lembra Faustino Lisboa, de 61 anos, que trabalha há 36 anos num ponto de táxi próximo.
“Os donos são o INSS, que é a Previdência Social, e o governo federal. Mas o Brasil tem muita burocracia. Um dono de hotel já veio duas vezes olhar para querer comprar, mas até agora nada. Qualquer prédio abandonado e que pertence ao governo tem que ser vendido, porque é o nosso dinheiro jogado fora”, opina o taxista.
Ainda segundo trabalhadores da área, o lugar sempre teve vigilância. Nesses anos, para tentar proteger o imóvel, pelo menos três modelos de tapume já foram colocados ao redor. O atual é feito de compensado e tem pinturas que remetem às culturas regional e nacional. Do lado de fora é possível observar que o prédio está destruído, com portas, paredes e vidros quebrados.
Sesma fará vistoria e pesquisa larvária
Desde o último dia 9 foram procuradas as assessorias de comunicação do INSS, do Ministério da Economia e do Tribunal Regional do Trabalho, no Pará, mas nenhuma delas se pronunciou sobre a situação dos prédios. Em relação ao prédio da antiga SRTE, em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), por meio do Departamento de Vigilância em Saúde (Devs), informou que vai encaminhar uma equipe até o prédio, para realizar uma vistoria e executar uma pesquisa larvária.
A Sesma informou ainda que vai levantar as informações sobre o proprietário do terreno. Sobre as pessoas em situação de rua que vivem nesse imóvel, a Fundação Papa João XXIII (Funpapa) informa que tem equipes que realizam a abordagem social: “O trabalho das equipes é conscientizar, orientar e encaminhar para as redes socioassistenciais municipais. Além da atuação do Centro Pop, em São Brás, que acolhe essa população em situação de rua, durante o dia, oferecendo cuidados com a higiene, apoio alimentar, acesso ao CadÚnico e rede de saúde”.
A Polícia Militar informa que o bairro do Comércio “é policiado diuturnamente pelo efetivo do 2° Batalhão de Polícia Militar (2° BPM) e também recebe o reforço de equipes de outras unidades da PM. Além do motopatrulhamento do Batalhão Águia (28º BPM) que dá suporte na área”.
O 2° Batalhão desenvolve na área operações de saturação, comboio, abordagens de rotina e outras ações que visam reprimir a criminalidade. A Polícia Militar informa ainda que realiza rondas preventivas e ostensivas no local. A Polícia Militar ressalta que todo cidadão pode acionar as unidades da corporação, por meio do Centro Integrado de Operações (Ciop), no número 190. Caso o denunciante não queira se identificar, pode optar pelo Disque-Denúncia (181).