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Pesquisas da UFPA reforçam o poder de plantas da Amazônia na produção de medicamentos naturais

O camapu, o óleo da copaíba e da andiroba são algumas das espécies que apresentam ação medicinal

Gabriel Pires

Medicamentos produzidos a partir de biocompostos de plantas da Amazônia reforçam o poder medicinal no tratamento de diversas doenças. É o que aponta estudos realizados por pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia e Bioprocessos e do Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão de Biomassa e Resíduos, da Universidade Federal do Pará (UFPA), inaugurados em maio deste ano, e que contam com a coordenação da professora Marta Chagas Monteiro, do Instituto de Ciências da Saúde, e vice-coordenação do professor Nélio Teixeira Machado, do Instituto de Tecnologia da instituição. 

A pesquisa e o desenvolvimento desses biocompostos, realizada por professores e estudantes, estão concentrados na Faculdade de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde da UFPA, bem como nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), Engenharia Sanitária e Ambiental (PPGESA), Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia (PRODERNA), Química (PPGQ) e Neurociências e Biologia Celular (PPGNBC/UFPA). Já as formulações farmacêuticas resultantes desses estudos serão produzidas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Segundo a professora Marta Chagas, atualmente, pelo menos 30 plantas estão sendo estudadas. O camapu, o óleo da copaíba e da andiroba são algumas das espécies que apresentam ação medicinal. “O projeto vai trabalhar tanto extrato de plantas vegetais, óleos vegetais, óleos essenciais e resíduos dessas plantas. Muitas delas já vêm sendo estudadas. E com atividades biológicas muitas vezes comprovadas, pois são utilizadas pela comunidade tradicional, por meio do uso empírico, mas também algumas já vinham relatos de que poderia ter essa atividade. E é isso que estamos testando”, afirma a professora.  

imagePesquisadores do Laboratório de Biotecnologia e Bioprocessos e do Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão de Biomassa e Resíduos, da UFPA (Foto: Igor Mota | O Liberal)

O dendê também se mostra promissor e potencial na pesquisa a partir de um subproduto, as “tortas”, resultante da polpa seca do dendê. De acordo com a professora, o remédio obtido por meio disso pode ter diversos efeitos: “Nós podemos, a partir dessas tortas, também gerar produtos farmacêuticos, que podem ter diversas atividades. E podem atuar sobre bactérias, sobre o câncer, sobre doenças neurodegenerativas como, por exemplo, o como o autismo e o Alzheimer”, frisa a pesquisadora, ao enfatizar que os medicamentos podem atuar tanto na prevenção quanto no tratamento de doenças.

“Algumas [plantas] são da Ilha do Marajó, cujo pesquisador já tem colaborações, inclusive, com associações dessas comunidades tradicionais e grupos de quilombolas. Hoje em dia, nós temos que pensar na cadeia produtiva desde o início. E, nessa cadeia, nós temos os produtores e as comunidades tradicionais que devem ser respeitadas. Mas, nós temos, também, produtos produzidos em Cametá e outras regiões próximas”, detalha a professora ao lembrar que, apesar da recente inauguração dos laboratórios, a linha da pesquisa já dura mais de 10 anos na UFPA.

Cicatrizante

A pesquisadora conta, ainda, que entre outras plantas com propriedades medicinais está o barbatimão. Um dos produtos com aplicabilidade na saúde está uma pomada produzida a partir dos resíduos dessa espécie com ação cicatrizante de lesões e feridas na pele. O fármaco foi desenvolvido pela farmacêutica Thaiana Pamplona, do Programa de Pós-Graduação Neurociências e Biologia Celular (PPGNBC). “O meu projeto de mestrado foi acumulação de uma pomada que tinha ação cicatrizante, anti-inflamatório e antibacteriana”, pontua a doutoranda. 

“Esse projeto a gente vai dar continuidade, inclusive. Agora, vamos trabalhar com ele para úlceras de pressão. E ele é muito relevante, porque a maioria das pessoas que ficam muito tempo acamadas acabam tendo esse processo de lesão no pé”, detalha Thaiana. Ela explica, também, que essa primeira etapa da pesquisa irá gerar mais um produto: “Vamos passar da pomada para um curativo. Esse curativo é uma membrana e a planta em questão é o barbatimão. A gente utiliza ele como princípio ativo na pomada e também vai ser utilizado junto com a membrana”, destaca ela.

Fase

Atualmente, as pesquisas desses bioativos da vegetação amazônica ainda estão em fase pré-clínica - ou experimental -, como detalha a professora Marta. Ou seja, ainda não foi testada em humanos. Isso porque, antes de começar os testes em seres humanos, os pesquisadores realizam testes em células e em tecidos do corpo. No entanto, a expectativa é que, futuramente, esses remédios naturais sejam disponibilizados à indústria farmacêutica e, até mesmo, à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a projeção da pesquisadora é que seja possível a fabricação, também, de fitoterápicos, fitofármacos, nutracêuticos, suplementos alimentares, entre outros. 

“A partir do momento em que as atividades, de uma certa forma, forem comprovadas, tanto in vitro quanto no modelo animal, essas formulações vão acontecer para que a gente possa entrar na fase clínica. Você tem a fase 1, com voluntários, e depois com pacientes na fase 2 de teste. Por isso, que precisamos da produção de uma nanoemulsão para realização de testes em camundongos. Nós estamos numa fase pré-clínica, em que nós vamos utilizar esses modelos de infecção, seja infecção pulmonar ou uma infecção por lesão de úlcera. E tem que ser testado a questão da toxicidade”, explica.

Investimento

Os dois laboratórios onde as pesquisas são realizadas integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de título “Prospecção de biocompostos amazônicos com potencial ação contra agentes infecciosos emergentes e/ou resistentes para obtenção de produtos farmacêuticos”, o INCT PROBIAM. As verbas para as pesquisas são oriundas de parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). No total, são cerca de mais de 5 milhões investidos, sendo 1,5 milhões somente da Fapespa ao longo da vigência do projeto.

Belém