Pesquisador Mirim: em ano de COP 30, projeto aproxima jovens da ciência e leva consciência ambiental
Em Belém, o Museu Paraense Emílio Goeldi fortalece a educação ambiental com o "Clube do Pesquisador Mirim"
Em Belém, o Museu Paraense Emílio Goeldi fortalece a educação ambiental com o "Clube do Pesquisador Mirim"
Em um ano em que os olhos do mundo se voltam para a COP 30, que será realizada em Belém, em novembro deste ano, iniciativas locais desempenham um papel fundamental na construção de uma consciência ecológica desde a infância. No Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) aposta na educação científica como ferramenta de conscientização ambiental para crianças e jovens com o “Clube do Pesquisador Mirim”. No projeto, os participantes têm a oportunidade de explorar a biodiversidade da região, despertando o interesse pela ciência e fortalecendo a relação entre pesquisa e conservação do meio ambiente.
Para o estudante Natanael Conceição, de 13 anos, esse contato com o mundo da pesquisa tem sido bastante produtivo. “Vai fazer dois anos que estou no projeto. Gosto muito de entender sobre os bichos. Justamente para ver os bichos e aprender um pouco mais sobre eles. Sempre gostei [da área da pesquisa]. Desde pequeno, a minha matéria favorita é Ciência. O projeto ajuda também a entender a área que eu quero trabalhar, que é Medicina Veterinária”, diz Natanael, que está na oitava série do ensino fundamental.
"A gente realiza atividades sobre o curso que a gente está fazendo. Por exemplo, esse ano temos, ainda, o ‘Dia da Ave”. Então, a gente está aprendendo sobre as árvores, alimentação, lendas e entre outras atividades. Também fazemos pesquisa sobre o Museu. Vamos andando e pesquisando. Aprendemos sobre o que as espécies ajudam no meio ambiente, se os animais estão em extinção, se a gente consegue encontrar outros exemplares na natureza e a relação dessas espécies com o homem", relata.
Já para Daniel Franco, de 13 anos, estudante da oitava série do ensino fundamental, a experiência tem sido transformadora. Integrante do clube há três anos, ele conta que o projeto ampliou seus conhecimentos sobre a Amazônia e fortaleceu seu interesse pela biologia. “Aprendi bastante sobre a Amazônia no geral, porque a gente vai aprender sobre animais, sobre plantas e sobre comunidades que vivem por aqui. Eu sempre gostei bastante desse assunto de ciência, então vir para cá foi bem interessante”, diz Daniel.
Além das aulas e atividades práticas, os estudantes também participam de eventos científicos e exposições, compartilhando o conhecimento adquirido com o público. Ao longo do ano, o clube também promove eventos especiais, como trilhas educativas e feiras científicas, ampliando o alcance da iniciativa e envolvendo a comunidade. “O que eu mais gosto são as apresentações que a gente faz quando leva os kits para uma exposição, porque podemos passar o que aprendemos aqui. Acho isso muito divertido”, conta o estudante.
O coordenador do projeto, o professor Luiz Videira, explica que, desde 1997, o programa leva aos participantes o contato com pesquisas realizadas no Museu e até mesmo oportuniza o primeiro contato voltado às técnicas e procedimentos científicos. Ao todo, já foram mais de 4 mil estudantes envolvidos no projeto ao longo de 20 anos, como lembra Videira. Durante as atividades, realizadas semanalmente, os estudantes envolvidos participam de experimentos e observação relacionados ao tema proposto - por meio de livros, vídeos, jogos e outros materiais interativos que estimulam o interesse pela pesquisa.
Segundo o professor Luiz Videira, coordenador do clube, a proposta é despertar o interesse pela ciência de forma prática e envolvente. Os alunos passam por um processo seletivo e, ao ingressarem no clube, participam de atividades que vão desde visitas guiadas e dinâmicas até a produção de materiais científicos e educativos. “O projeto surge com o objetivo de estimular nos estudantes do ensino fundamental e médio o interesse pela ciência, principalmente nas áreas do Museu, que são: Zoologia, Botânica, Ciências Humanas e Ciências da Terra”, explica Videira.
O aprendizado acontece de forma imersiva, com contato direto com pesquisadores e acesso às coleções do museu, como explica o professor. “Primeiro, eles conhecem a instituição e entendem onde vão atuar. Depois, aprofundam o estudo sobre o tema escolhido. Por exemplo, se eles vão trabalhar com aves, então a gente já vai entrar nas características das aves, a morfologia, a relação das aves com o homem, as ameaças, para a gente poder ter um conteúdo, uma informação. Após a gente ter toda essa informação sobre aves, a gente vai ter também contato com pesquisadores”.
O impacto do projeto vai além do aprendizado no dia a dia das atividades realizadas no Goeldi. Muitos ex-alunos seguiram carreiras científicas e hoje atuam como pesquisadores e professores em diversos países. “Temos mais de 40 ex-alunos que hoje são doutores espalhados pelo mundo, em países como China, Japão e Estados Unidos. Além disso, cerca de 15 ex-integrantes do clube estão atualmente na pós-graduação, desenvolvendo pesquisas na área”, destaca Videira.
A formação proporcionada pelo clube não apenas desperta vocações científicas, mas também fortalece o senso crítico e a responsabilidade ambiental dos participantes. Para o coordenador, esse é um dos principais legados do projeto. Durante o projeto, realizado de janeiro a maio, geralmente, os estudantes são orientados por pesquisadores e técnicos (biólogos, agrônomos, pedagogos, geógrafos, entre outros profissionais). Às vésperas da COP, o professor considera que o projeto é de extrema importância.
“Neste ano, estamos com 150 alunos em quatro turmas com alunos da quarta série do ensino fundamental até o primeiro ano do ensino médio, de escolas públicas e particulares. O clube não se resume só a estimular o interesse pela ciência, mas contribui para a formação de um cidadão com responsabilidade e visão crítica. Saindo daqui eles podem ser políticos, empresários e professores. Ou seja, disseminadores dessas informações, dessas ideias da nossa região e de se tornarem pessoas do bem”, observa Videira.
Ao final do programa, os estudantes desenvolvem um projeto experimental - que sintetiza tudo o que foi aprendido ao longo das aulas do clube. “Eles sentam, discutem entre eles e vão apresentar uma proposta, a gente vai adaptando, vai fazendo ajustes e decidimos qual é o produto que vai representar aquele grupo”. Em turmas de anos anteriores, os participantes já apresentaram folderes, kits educativos, documentários e até cartilhas sobre temas envolvendo a proposta ambiental.
Para participar do projeto, as inscrições são abertas anualmente por meio de edital. As informações podem ser obtidas por meio do site do Museu Paraense Emílio Goeldi (www.gov.br/museugoeldi). Para este ano, a seletiva ainda não foi aberta. As vagas são destinadas para alunos da 4ª a 9ª série do ensino fundamental e até estudantes do ensino médio, incluindo tanto escolas públicas quanto privadas da Região Metropolitana de Belém.