Paróquia realiza 1ª Missa Inclusiva para autistas e pessoas com deficiência, em Belém
Celebração adaptada contou com cerca de 60 pessoas com deficiência física, visual, auditiva e também autistas
Neste domingo (24), a Paróquia de Nossa Senhora do Bom Remédio, no bairro Coqueiro, em Belém, realizou a primeira Missa Inclusiva, voltada para crianças, adolescentes e jovens com autismo e deficiências. Cerca de 60 pessoas, entre deficientes físicos, auditivos, visuais e outros estiveram no local, participando da celebração adaptada às necessidades específicas de cada grupo. A missa também celebrou o Abril Azul, mês de conscientização do autismo.
Keila Araújo, membro da paróquia e mãe do Mateus, de oito anos, que é autista, conta que a missa foi uma idealização conjunta a partir das necessidades observadas por três casais, pais de crianças autistas da comunidade. “Após a pandemia, nós, pais de crianças com autismo, percebemos que algumas tiveram muita dificuldade em retornar ao convívio. Pensamos em quantas pessoas também estão em casa por causa disso, sem poder vir à igreja. Por isso, pensamos nessas estratégias de acolhimento”.
Segundo Keila, as celebrações tradicionais oferecem muitos estímulos sensoriais que não favorecem o bem-estar do autista, como som alto e grande movimentação de pessoas, por exemplo. Por isso, adaptações foram feitas para que, neste dia, diversas necessidades especiais pudessem ser atendidas: “Adaptamos toda a liturgia para acolher a pessoa com deficiência. Nós buscamos na fé o fortalecimento e a resiliência para enfrentar as dificuldades do dia a dia e precisávamos ousar. Aqui, nosso pároco acolheu a ideia”.
A celebração contou com espaço lúdico para crianças, tradutores de libras e liturgia descritiva para deficientes visuais. De acordo com o padre José Luiz, líder da Paróquia, a Missa Inclusiva foi a culminância de um trabalho de acolhimento que já vinha sendo feito na rotina da igreja: “A nossa paróquia já acolhe essas crianças na catequese. A gente percebeu grupos de pais de crianças com deficiência que foram se unindo e, hoje, no mês de conscientização sobre o autismo, preparamos essa programação, com lanches, brincadeiras, tudo para deixar as crianças mais à vontade. A gente pretende receber as crianças do jeito que elas são”.
Para Elyseu e Janaína Caldas, pais do Enzo, de seis anos, também autista, a proposta deve facilitar a reintegração do filho às atividades da igreja. Elyseu destaca as adaptações que mais fizeram diferença: “A primeira coisa é o tempo, porque uma missa de mais de uma hora traz um desconforto para o autista, além disso tem as luzes, o volume da música e do microfone dos palestrantes. Os autistas escutam e processam informações de maneira diferente. Por isso pensamos em como adaptar sem perder o rito da celebração. A gente espera que seja a primeira de muitas missas assim”.
De acordo com o padre José Luiz, a igreja estuda a possibilidade de tornar a Missa Inclusiva uma programação mensal na paróquia. Para Keila Araújo, a proposta é ideal para que a acessibilidade ocorra de fato: “O mundo precisa preparar os espaços para acolher as pessoas com deficiência. Nós não queremos mudar a forma como nossos filhos veem o mundo, mas queremos que o mundo pense estratégias de enfrentamento para que eles se sintam acolhidos na sociedade”.