Paraenses relatam medo e estragos vividos durante temporal do Rio
Enxurrada é relatada por moradores: registros em vídeo mostram a força das águas
Paraenses que moram no Rio de Janeiro (RJ) e presenciaram o forte temporal que atingiu a cidade esta quarta-feira (6) já relatam como vêm interagindo com os estragos sofridos pela cidade e o pânico vivido pelos cariocas na noite de ontem.
Relatos já circulam na internet e a redação integrada de O Liberal teve acesso a conteúdos exclusivos cedidos por famílias de Belém que estão entre moradores do Rio.
Os paraenses relatam medo, transtornos como impossibilidades de voltar para casa e horas a fio sem luz e maiores notícias do ocorrido. Em muitas vizinhanças o dia foi de limpeza e contagem de prejuízos.
ENXURRADA
"Aqui faltou energia duas vezes por alguns segundos. Era por volta das 20h e começou muito vento e muita chuva. Mas como não saímos de casa, não tivemos muita noção do que havia acontecido. Comecei a perceber a gravidade da situação enquanto via o jogo do Vasco na TV. O narrador começou a dizer para as pessoas não saírem de casa", relatou à redação integrada de O Liberal o jornalista paraense Ismael Machado, radicado no Rio, onde atua como roteirista de cinema, e morador do bairro de Santa Tereza.
É de sua amiga, Letícia Tartarotti, moradora da Gávea e esposa do montador editor de cinema Henrique Tartarotti, a gravação feita por celular do momento em que seu carro enfrentava as águas da enxurrada que tomou ruas do Rio no temporal de ontem.
"Na verdade medo ainda não sentimos aqui não. Mas sempre me preocupo com moradores de lugares de risco. Todo ano tem algum deslizamento no Rio. Como eu trabalho em casa, me desloco pouco e moro num local mais imune a essa situação. Mas a cidade sofre. Todo ano é a mesma coisa", diz Ismael Machado.
CALAMIDADE
"O Rio está em estado de calamidade. Moro em um bairro com muitas árvores. Estamos sem luz e não há um só lugar sem árvores caídas", conta pelo celular a escritora e professora paraense Patrícia Carla Nogueira.
Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, Patrícia Nogueira lecionava no Colégio Nazaré. "Hoje é dia de limpeza de estragos. Estamos sem energia desde ontem à noite e não conseguimos acessar nada. Estamos tendo notícias pelo celular. Como diz meu filho Bruno: é como se fosse um apocalipse zumbi".
MEDO É CONSTANTE
O medo de quem moram hoje na Cidade Maravilhosa é rotineiro. Os temporais são esperados nessa época do ano e os riscos de trajédias também. É o que conta a paraense Danielle Karime Silva, estudante de Marketing e moradora do bairro de Deodoro, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ).
"Sempre no início do ano nós que moramos aqui sentimos muito medo. É a época que mais tem catástrofes", conta Danielle. Na hora da enxurrada, que resultou em mortes nesta quarta-feira (6) na capital fluminense, a universitária estava em casa. Mas não deixou de ficar aflita com a situação de amigos na cidade.
"Me sinto segura em meu bairro, sim. Mas para quem mora mais um pouco acima, nos morros, é uma insegurança horrível. As sirenes tocam para as pessoas deixarem suas casas, porque elas correm risco de desabar. Eu vi isso no morro do Alemão, uma vez, quando peguei um temporal por lá. O medo é constante".
TEMPORAIS
Há duas semanas, Danielle conta que outro grande temporal já havia assustado os moradores do Rio. "Na minha opinião, a chuva da semana passada foi até pior. Como foi meio recente, essa [enxurrada] de ontem terminou estragando mais a cidade. Está muito calor no Rio. Quase 50 graus de sensação térmica. E com isso, as pancadas de chuva vêm destruindo tudo", conta a paraense.
O temporal a pegou dessa vez na rua: a tensão foi grande. "Na chuva de duas semanas atrás, eu tive que sair de casa, e pegar trem e metrô. Porque o trânsito fica destruído. Árvores caídas e fios de postes nas vias. E mesmo estando nos trilhos, não teve saída. Alagou também. Ficamos uns minutos esperando a água baixar".
Danielle pensa em mudar de bairro, mas não cogita deixar a cidade. "Mesmo saindo daqui de onde eu moro, a verdade é que o risco é igual. Nos bairros da Zona Sul, os mais ricos, fica tudo destruído do mesmo jeito", justifica.
ILHADOS
"Ontem foi aniversário de meu irmão e estava na casa dele, distraída, quando começou a chuva. Quando me toquei, já vi várias mensagens de celular de grupos de amigos com fotos e vídeos dos estragos. Num deles, um carro era arrastado numa rua na Barra da Tijuca. Foi quando eu entendi que já estava ilhada, e não ia conseguir ir para a minha casa. Tive que domir na casa de meu irmão", conta Lúcia Tupiassu, roteirista paraense que também reside no Rio.
"Hoje de manhã acordei em segurança, fui para casa e segui com a vida. Mas para muita gente o estrago foi bem grande. Muitos perderam coisas e gente morreu".
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