Máscaras no Pará: população está dividida sobre continuar ou não usando item contra covid-19
Na Região Metropolitana de Belém, municípios seguem com obrigatoriedade, enquanto Marabá, Santarém e Óbidos desobrigaram em ambientes abertos
Mais de 10 cidades no Brasil já flexibilizaram as medidas quanto ao uso de máscaras na pandemia, seja suspendendo parcialmente ou integralmente a obrigatoriedade do uso. No Pará, os municípios de Óbidos, Marabá e Santarém já assinaram decretos desobrigando o uso do acessório de proteção em espaços abertos. Em Belém, entretanto, a Prefeitura garante que o uso da máscara continuará sendo obrigatório.
Desde quarta-feira (16), passou a valer o decreto municipal de Marabá que estabelece regras e condições para desobrigar o uso de máscaras em locais abertos. Em locais fechados, as restrições seguem válidas. O mesmo ficou estabelecido pelo decreto que a prefeitura de Santarém assinou na última quinta-feira (17). Essas decisões ocorrem em meio ao cenário em que a variante Deltacron é suspeita de circular no Pará, mais especificamente no município de Afuá e que um Projeto de Lei (PL 83/2022) foi protocolado junto à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) propondo que o item de proteção facial passe a ser facultativo.
Segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), Belém é considerada “uma das capitais com os maiores índices de imunização no Brasil”, apesar de o percentual de pessoas com as três doses completas estar, atualmente, em 57,3%, bem abaixo do número de pessoas que tomaram apenas a primeira dose (87,1%). Segundo o autor do PL, o deputado estadual Delegado Caveira, este cenário é favorável para desobrigar o uso de máscaras: "Com quase 60% da população recebido a dose de reforço e outra parcela significativa que contraiu a infecção e, portanto, adquiriu naturalmente imunidade, já temos grande parcela da população protegida", ele afirma.
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Deputado e infectologista divergem sobre segurança
O deputado apresenta, ainda, alguns outros critérios que, na visão dele, encorajam o abandono do item de proteção, como a diminuição do número de internações e agravamentos por covid-19 e alguns estudos que questionam a eficácia das máscaras. Caveira destaca que, se aprovado, o PL fará com que o "uso das máscaras apenas deixe de ser obrigatório, porém, quem achar necessário é livre para continuar usando". No momento, o PL vai passar pelas Comissões de Saúde e Justiça da Alepa antes de seguir para votação no plenário da casa.
A argumentação do Projeto de Lei vai na contramão do que pensam alguns profissionais da área da saúde. A infectologista Helena Brígido, doutora em Medicina Tropical e docente da UFPA e Cesupa, afirma que ainda não é a hora de pensar em retirar as máscaras, uma vez que o estado não atende aos critérios considerados seguros para isso: “Estamos num momento de transição de pandemia para endemia. O estado do Pará ainda não atingiu as metas de vacinação, em que o ideal seria por volta dos 90% da população imunizada, não só em Belém, mas em todos os municípios”.
A médica explica que, assim como acontece com outros vírus, como os da gripe, o novo coronavírus tem um grande potencial de mutabilidade, por isso, desobrigar o uso das máscaras neste momento pode ser um risco para o aumento de novos casos a partir de possíveis variantes. “Também não podemos considerar apenas o número de casos, de internações e óbitos para tomar essa decisão. Precisamos pensar nos grupos mais vulneráveis, que ficam debilitados até mesmo por gripe”, alerta Helena.
A infectologista ressalta ainda que, manter as máscaras não significa ter baixa confiança na vacina, uma vez que ela é considerada fundamental para, no futuro, pensarmos na desobrigação do item de prevenção. “Precisamos esclarecer que tomar uma dose não é suficiente para a proteção. Consideramos que uma pessoa está protegida com duas doses mais reforço, ou seja, com o esquema vacinal primário completo. Mas ainda assim precisamos considerar as mutações do vírus que circulam”, explica Helena.
Outra profissional que garante que as máscaras ainda são necessárias é a médica infectologista, docente da Faculdade de Mecidina da Universidade Federal do Pará (FAMED/UFPA) e consultora da Sociedade Brasileira e Paraense de Imunizações (SBI/SPI), Tânia Chaves. Ela relembra que a pandemia não acabou: "temos casos aumentados de síndrome respiratória grave em crianças, ainda não completamente vacinadas. Temos um número considerável de pessoas que não terminaram seus esquemas de vacinação e isso favorece a emergência de novas variantes", ela argumenta.
Tânia considera, ainda, que a máscara é um Equipamento de Proteção Individual (EPI) de fácil uso e acesso, muito mais disponível hoje em dia, e que continua sendo eficaz na proteção contra a covid-19. "Mesmo que seja decretado o fim da pandemia, a covid-19 continuará sendo uma grave doença. Precisamos nos prevenir, sobretudo as pessoas portadoras de comorbidades, que continuam em risco de terem quadros mais graves da doença".
Municípios da Região Metropolitana de Belém se posicionam sobre o uso de máscara
Outros municípios da Região Metropolitana de Belém (RBM) também tendem a manter as orientações vigentes quanto ao uso das máscaras. A prefeitura de Marituba informou que o uso de máscara continuará sendo obrigatório, tanto em ambientes abertos, quanto em ambientes fechados.
O mesmo também continua valendo em Benevides, pois a prefeitura afirma que seguirá as determinações estaduais sobre o assunto, até que haja nova orientação por parte da Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa).
Em Ananindeua, a prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde (Sesau), explicou, em nota, que está analisando o número de pessoas vacinadas com a dose de reforço (terceira dose) para, então, chegar a uma decisão sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras no município.
Já em Santa Bárbara, a secretaria de saúde informou que decidiu manter a recomendação da utilização de uso de máscaras tanto em ambientes abertos quanto fechados, sobretudo após "a identificação no dia 15/03/2022 de uma nova variante circulando no estado do Pará, denominada de 'Deltacron'".
A redação integrada de OLiberal entrou em contato com as prefeituras de Santa Izabel e Castanhal, mas não houve retorno do contato até o momento.
Maior parte das pessoas nas ruas ainda é a favor do uso das máscaras
Em Belém, apesar de serem facilmente observadas pessoas transitando sem máscaras ou com o item de prevenção colocado de maneira inadequada, algumas pessoas parecem concordar com a ideia de que é muito cedo para desobrigar o uso do material.
Para a aposentada Lucimar Norte, 71, o item ainda é necessário: “Na minha casa ninguém deixou de usar máscara, porque além da covid, a máscara protege de outras coisas. A covid está aí ainda, matando pessoas. Na minha casa, desde as crianças até os adultos continuam usando a máscara”.
A estudante de medicina Micaella Lobato acredita que os locais em que está havendo flexibilização do uso da máscara vão servir de experiência para outras cidades avaliarem dentro de suas próprias realidades: “Eu acho que ainda é muito cedo para dispensar as máscaras, porque de vez em quando tem algum surto surgindo. Eu acho que essas cidades que estão liberando agora estão correndo um risco, vai ser como um teste para ver como as coisas vão ficar”.
A pensionista Noêmia da Costa, 70, também é a favor da permanência da obrigatoriedade das máscaras. Ela garante que, ainda que houvesse uma flexibilização na capital, ela continua se protegendo: “Para mim é cedo demais. É melhor a gente se prevenir. Mesmo que não fosse mais obrigado usar, para mim, usa quem quer. Eu ia continuar usando”.
Por outro lado, o barbeiro Matheus Souza expressa que gostaria que as máscaras fossem desobrigadas "poderia ser esse ano ainda, porque sufoca a pessoa todo o tempo, ainda mais quem anda de coletivo, que sente falta de ar, fica muito abafado. É insuportável!". Já Marcos Paulo, de 27 anos, foi mais incisivo sobre o abandono das máscaras: "Já era para ter desobrigado. Não era para usar mais. Eu, pessoalmente, não uso muito. Me agonia muito, eu tenho rinite. A vacina já está combatendo o vírus, eu nunca peguei covid, e eu acho que a máscara não serve mais".