Pará marca 1.900 denúncias e 7.139 violações de direitos de crianças e adolescentes de Janeiro a Setembro deste ano
Os dados são do Ministério da Mulher, Família e Direitos humanos, com base nos atendimentos pelo Disque 100
Toda criança e adolescente tem direitos, entre eles, à dignidade e proteção familiar; nenhuma delas deverá ser objeto de negligência, violência, crueldade e opressão, de acordo com os artigos 4º e 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No entanto, a realidade é diferente para 119,8 mil brasileiros que, entre os meses de Janeiro a Setembro deste ano sofreram violência intrafamiliar. Os números são do disque 100 e estão na pesquisa divulgada pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) e as principais denuncias apontam pais e mães como agressores. No Pará, os dados revelam que de Janeiro a Setembro de 2021, 1.599 protocolos de denúncias foram feitas, destas 1.900 denúncias e 7.139 violações.
Max Costa, secretário extraordinário de cidadania e direitos humanos de Belém diz que os dados nacionais e do Pará comprovam que é uma realidade vivenciada, inclusive, em Belém representa 17,5% dos casos que a secretaria atendeu de Janeiro a Setembro deste ano. "Isso é reflexo de uma sociedade que não visualiza as nossas crianças e adolescente como sujeitos de direitos. Apesar de nós termos avanços com a implantação do ECA, quase 30 anos depois ainda permanece na estrutura da sociedade uma visão menorista da criança adolescente, que não os visualiza como sujeito de direito e prioridade absoluta, tanto no orçamento como também no processo de proteção, por parte do Estado, família e sociedade", afirma o secretário.
"A própria família também é violada em seus direitos básicos. Essas crianças são negligenciadas desde o pré natal, creche, cultura e lazer. Precisamos enfrentar isso como política pública. Em Belém a secretaria tem procurado também nesse sentido, primeiro fazendo atendimento dessas demandas das violações... A prefeitura aderiu ao pacto para a implantação das Unidades Amigas da Primeira Infância do UNICEF para garantir os atendimentos deste público. Estamos fortalecendo a retaguarda, essa rede de apoio, na assistência social, básica, média e alta complexidade, que deve ser prioridade das politicas públicas e orçamento", concluiu.
Nathalia Otero, psicologia clínica infantil reflete as soluções para a problemática e diz que o ideal é uma criação não violenta, que tem como base a disciplina positiva, onde encontramos um manejo mais pacífico e ao mesmo tempo conciliador. "Dar voz às emoções da criança permitirá a ela uma maneira mais adequada de lidar com suas frustrações e aceitação de si próprio. Os Impactos causados pela violência psicológica e ou física na educação infantil têm gerado inúmeros prejuízos, como dificuldades na condução de emoções, autocrítica desconstrutiva, processos de auto sabotagem, visão negativa de si próprio, inseguranças. A personalidade de uma criança é formada até aproximadamente os 6/7 anos, que é quando os registros psíquicos são construídos", explica a especialista.
Quem viveu uma criação rígida com base na violência assim como a Sandra Santos, 54 anos, que acredita que a violência só gera pessoas revoltadas e, no caso dela, conta que a criação dos cinco filhos e duas netas, é diferente da que recebeu, já que não teve amor e acolhimento na infância, por isso, faz de tudo para dialogar sempre e se mostrar compreensiva e amorosa. "Eu não bato nelas, eu chamo atenção quando estão erradas ou brigando entre si. Batendo não vai resolver nada, a criança fica mais revoltada. Se eu for te contar como foi a minha infância... Eu nunca tive o que elas tiveram, nunca tive um carinho. Como a minha foi ruim, eu não quero que elas passem pelo o que eu passei. Dou a eles o carinho que nunca tive", revela.
Reflexiva Sandra diz que adulta, e no seio familiar construído com o marido Antônio, hoje tem amor e é o que passa as netas. "Falo para elas serem unidas. Elas adoram estar em casa. Tem pessoas que eu conheço desde a minha infância que me perguntam 'como foi que eu não me tornei uma pessoa ruim'. Do jeito que eu passei a minha vida toda, eu sempre quis que a minhas filhas e netas tivessem o que eu não tive, por isso elas são muito bem cuidadas e amadas", conclui.